Sobre a morte (consequência da vida) e o luto (consequência do amor)?

Essa é a segunda parte de uma série de textos que pretendo escrever, confiram a primeira parte no link:

Venho aqui mais uma vez homenagear o Tom. E tentar entender um pouco melhor os sentimentos pensamentos que contemplei nesses últimos dias, principalmente a cerca das minhas noções de morte e luto. Como preciso ler, escrever para me compreender melhor, vamos lá!

De modo mais emocional / subjetivo, acredito que todos nós temos conceitos bem diversos e relativos sobre essas noções; e não acho que convém compartilharmos tanto elas, pois costuma rever lembranças / memórias / tradições / rituais, que apesar de necessários para as noções de amor / vida / sonho, não são sempre agradáveis e algumas vezes são até conflitantes / beligerantes (mesmo pessoalmente falando).

Já de modo racional / objetivo, acredito ser não só saudável discutir / entender esses sentimentos, como também pode ser engrandecedor. Dito isso, seguem resumos de algumas definições sobre a morte.

Sobre a Morte:

Comecemos as definições, com a poderosa Elza Soares, que deixou essa existência, no mesmo dia do meu gato (cuida dele se possível? porfa!):

“fim da vida, falecimento, termo, destruição… do latin mŏrs mŏrtis|| amor-trabalhar, amortec’edor, amortecer, amortecedor, amortificado…mortalidade…” (Dicionário Etimológico, editora Nova Fronteira, verbete morte, p. 534)

O complemento / consequência da vida (basta estar vivo, para eventualmente morrer), falecimento, destruição, irmã do sono, amortecimento (tecimento do amor)… A morte também é interpretada por alguns como o início / fim de um ciclo da vida e/ou como uma possibilidade existencial. “A única certeza da vida!”. Em outros casos ela pode ser até interpretada como existente desde o primeiro dia de vida, como algo que já está lá e vai se aproximando durante o envelhecimento (“morremos mais um pouco a cada segundo”).

“Enquanto símbolo, a morte é o aspecto perecível e destrutível da existência… Mas também é a introdutora aos mundos desconhecidos… Ela é revelação e introdução… Se ela (a morte) é, por si mesma, filha da noite e irmã do sono, ela possui, como sua mãe e seu irmão, o poder de regenerar. ” (Dicionário de Símbolos, editora José Olympio, verbete morte, p. 621)

Ariano Suassuna (Alto da Compadecida): “A morte é o único mal irremediável”, ou “Na morte, somos todos iguais”.

Jean-Paul Sartre (“O Ser e o Nada”, 1995, p. 630): “A morte é um fato puro, como o nascimento; chega-nos do exterior e transforma-nos em exterioridade. No fundo, não se distingue de modo algum do nascimento, e é a identidade entre nascimento e morte que chamamos de felicidade…”

Na obra prima Sandman, do grande Neil Gaiman! A morte, que parece uma garota gótica, faz parte do grupo chamado de “Perpétuos” (“The Endless”), que são descritos como manifestações antropomórficas de aspectos comuns a todos os seres vivos; não são deuses, mas sim entidades, responsáveis pelo ordenamento da realidade conhecida. O grupo é composto pelos seguintes irmãos: Destino, Morte, Sonho, Destruição, Desejo, Desespero e Delírio.

A maioria das definições de morte nos são comuns e fáceis de assimilar, mas algumas dessas definições podem ser um pouco mais complexas para compreender bem. No caso da definição da morte como irmã do sonho / sono, apesar de já ter visto / ouvido em diversos lugares / conversas, não tinha entendido tão bem até então (apesar de saber que podemos sempre compreender melhor tudo, ou mesmo lembrar melhor, sonhar melhor). Essa relação entre o sonho e a morte, nos remete aos estados biológicos de repouso de ambos, que nos parecem semelhantes em suas formas, mas bem distintos em suas condições; mas também pode nos remeter às relações entre o sonho / desejo e a sua morte / fim, que pode ser interpretado como vida (fim / objetivo principal do sonho) / amor (fim / objetivo principal do desejo); ou mesmo o sonho / desejo da morte / fim, que pode ser interpretado como a paz (o não desejo, que pode ser visto como desapego, que nos convida a sonhar com uma vida mais feliz) / utopia (o não sonho, que pode ser visto como uma realidade sem necessidades, nos convida a desejar uma existência mais amorosa). Além disso, alguns interpretam o sonho, como uma conexão direta com o mundo espiritual / antepassados; que pode ser associada ao pós-morte.

Já a morte como o tecimento do amor, nos remete às sensações de amortecimento / adormecimento, mas também remete à rede / fibra social tecida entre aqueles que sentem o luto e aqueles que fizeram a passagem. Conhecemos / entendemos / vivemos melhor a vida (“sonhos lúcidos”?), ao conhecermos e entendermos o que podemos interpretar da morte (“sonhos espirituais”?)!

A morte como correlata direta do nascimento e o seu poder de regenerar. Podemos interpretar como se as vidas, que eventualmente viram adubos, vão ser vetores para novas vidas. Como na lenda da Fenix, ela morre e das suas cinzas ressurge o pássaro de fogo (lembrando que fogo possui tanto uma alegoria para o conhecimento humano, como para a chama da vida).

Se foi meu querido amigo, Tom, o gato; agora ele descansa / desencarna.

Como nunca havia passado por um luto realmente pessoal, acredito que os significados, sentimentos e pensamentos correlatos, ainda não me eram (são) muito familiares, ou até mesmo contemplados com a devida atenção. Nos primeiros dias após a partida do Tom, fiquei como se tivesse sido meio sedado, amortecido; apesar de conseguir me concentrar no trabalho, que estava um pouco acumulado, não pensava, nem sentia tanta falta dele / dor quanto esperava; como se estivesse “sonhando”, depois de um pesadelo “passageiro”. Mas assim que tive um tempo mais livre, essa dor foi melhor assimilada e percebi que a dor até pode diminuir com o tempo, ou podemos nos distrair dela, mas fará parte de mim e da minha vida a partir desse momento. O que me alivia é pensar que a evolução da nossa noção da morte, nos faz valorizar e evoluir mais também a nossa noção da vida; assim como a nossa noção de nascimento!

“Tristeza não têm fim, felicidade sim!”, ou seja para proteger nossa felicidade (vida) é válido não nos (pre)ocupar tanto com a tristeza (morte), não (pre)ocupando / alimentando nossas dores.

Enfim é preciso saber viver, saber amar, saber ser feliz… É preciso / precioso (o) saber…

Sobre o luto:

Cada cultura, região, religião possui o seu ritual próprio. Alguns visitam cemitérios, deixam flores, velas, fazem cantigas, orações; outros ficam em silêncio; outros praticam rituais por um determinado tempo; outros se reúnem para conversar sobre a morte, outros até celebram a morte com festas; homenageando / ajudando os seus antepassados e o sobrenatural, cada um do seu jeito. Assim como cada um encara a morte do seu modo: como uma passagem para outra vida, para outra realidade / plano, para o fim “absoluto”… Basta amar, para eventualmente resultar em luto.

Não acho válido por enquanto compartilhar as minhas opiniões, práticas sobre o luto, mas as definições de luto, podem nos ajudar a enfrentar ele (independente da cultura / religião com a qual nos identificamos), que durante esses tempos de pandemia, acredito que têm sido um conhecimento necessário para muitos de nós!

Normalmente interpretado como período(s) de pesares / dores / sofrimentos / sentimentos, causados pela(s) morte(s) / separação(ões) / rompimento(s) / perda(s) de alguém. Ou como um comportamento / ritual ligado à morte, vista por alguns como uma libertação (mesmo que momentânea) das dores da condição viva! E portanto cheia de significados e significantes da (pós)vida em sí!

Esse(s) período(s) costumam ser expressos, pelos trajes (brancos, pretos, coloridos, simples, complexos, específicos, ou até genéricos), pelas músicas, decorações, rituais…

“…Do latin Luctus-us, do radical supino de lugēre || enlutar || lucti-fero. Do latin luctĭfer…Do latin luctisŏnus… Do latin lugens-entis…” ( Dicionário Etimológico, editora Nova Fronteira, verbete luto, p. 483).

Assim como ‘…a maioria das definições de morte nos são comuns e fáceis de assimilar, mas algumas dessas definições podem ser um pouco mais complexas para compreender bem…’; as noções de luto também acompanham a mesma lógica, com o sono / sonho / desejo e as outras realidades / planos, que também fazem parte dos vivos / da vida.

A morte de um animal de estimação com certeza é diferente da morte de um parente, ou amigo, ou conhecido. Mas de algum modo as interpretações / pensamentos / sentimentos correlatos, podem ser bem semelhantes; assim como as práticas e as definições resultantes dessa relação.

“Viva a vida e as pessoas / seres que potencializam ela!” Mesmo depois da morte!

Para aqueles que me ajudaram nessa passagem, seja indiretamente com suas “vibrações cósmicas”, seja diretamente com suas palavras e ações de acalento, seja involuntariamente com suas recepções / expressões respeitosas da notícia; super obrigado e espero que recebam as mesmas (ou mais) luzes que recebi, quando precisarem, amo vocês! E para aqueles que ou passaram, ou vão passar, ou estão passando pelo luto, sintam-se amados tanto quanto, pois viver é amar / sonhar / desejar!

Em meio a insônias, sonhos e desejos! Deixo crescer em mim a vontade de ter um novo gato(a) e me convenço de que irá ser bom para mim, para a casa, para quem amo / me ama e para essa nova vida / ciclo que já deve estar me esperando também! Enfim irei atrás dessa nova companhia! E espero que a nossa felicidade seja maior, que nossa tristeza e que a vida prevaleça enquanto possível, poderosa e prazerosa! As palavras me curam e espero que ajudem outros a se curarem também.

Apesar de um dia atrasado na publicação, terminei de escrever esse texto no dia mundial do Gato (descobri isso hoje, quando resolvi começar a busca por um novo(a) companheiro(a))! Texto escrito entre os dias 27-30 de luto (14/02/2022 – 17/02/2022). Amanhã pretendo ir em um evento de adoção, para se tudo der certo, conhecer o novo serzinho que irá habitar meu coração e minha casa!

Provavelmente esse ainda não é o capítulo final dessa série de textos, mas por hora deixo as minhas “vibrações cósmicas” e desejo: Paz, Liberdade, Amor, União, Natureza e Saúde pro mundo!

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