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Sobre a(s) Utopia(s)!

Posted in novidades, Textos with tags , , , , , on janeiro 3, 2021 by plauns

Pensando em quantas utopias podemos perceber em nossos ideais / idealismos; e pensando também na Marina Harkot, que pouco conheci, mas muito simpatizava; resolvi escrever nessa passagem de ano (01/01/2020) sobre as minhas próprias utopias.

Mas antes das hipóteses, temos os fatos: sempre fui e continuo sendo um amante da invenção e funções que a bicicleta exerce principalmente em minha vida. Tanto como lazer, quanto como transporte preferido, quanto como agente libertador; a magrela e os transportes ativos: skate e patins; fazem parte da minha memória fundante.

Sobre a Marina Harkot, conheci muito brevemente, quando ela visitou o Bike é Legal (www.bikeelegal.com), para conceder uma entrevista para a Giuliana Pompeu e equipe do BL, clique aqui para conferir o primeiro bloco dessa entrevista. Foram poucos minutos de interação, mas a força / intensidade das convidadas marcou a minha memória! Pensei: “Taí um bom grupo de mulheres que não só estão com desejo de melhorar o mundo, buscando uma utopia, como estão construindo o caminho para tornar esses desejos uma realidade”. Mas a realidade é truculenta! Marina foi atropelada por um criminoso, que abandonou ela para a morte. E até hoje o responsável ainda não foi punido pelo crime (apesar de felizmente já ser réu)! Mas a justiça, principalmente no Brasil, tende a fazer vista grossa, andar a passos lentos e muitas vezes absolver os criminosos do trânsito.

Voltando ao cerne desse texto, a mais latente dessas minhas utopias remete à sustentabilidade, o que envolve diretamente o uso da bike como transporte! Depois de anos me locomovendo com o transporte público, retomei o uso da bicicleta para me transportar; o que foi uma grande mudança na minha perspectiva urbana; retomando muitas visões de mundo, que se formaram em minha memória, durante minha infância / adolescência; quando nessa época, a bicicleta fazia parte de um ritual semanal de ampliação do espaço urbano, que eu desejava ocupar / conhecer; e felizmente voltou a ser um ritual meu quase espiritual, apesar de não tão periódico.

Para falar de um mundo melhor, de uma utopia; temos que antes falar de um dos principais assuntos da filosofia, no caso da “ÉTICA”; que seria o estudo do “bem comum”. Muitas definições / significados foram aplicados ao termo, mas a maioria deles concordam com a associação ao conceito de “bem comum”; e ampliando ao máximo esse conceito, são considerados os “bens” para todos (habitantes / animais / plantas / ambiente, ou seja o mundo) e com boa duração (se possível próximo ao “eterno” e ao “incorruptível”).

“A Corrente do Bem” (2000)

Mas para entendermos melhor esse “bem”, temos que também entender melhor os conceitos de “certo” (lógica) e “belo” (estética); mas apesar do conceito de “bem” ser algo mais próximo do universal, sendo reconhecido e entendido como coisas ao menos parecidas, por uma parcela maior da população; os conceitos de “certo” e “belo” são muito mais relativos; e por isso não possuem um consenso na maioria dos casos. Trato aqui da “ética” (bem) e não da “moral” (bom), já que esse segundo conceito é às vezes até mais relativo que o “certo” e o “belo”.

Afinal, como concordamos na maioria das distopias, como mostra bem o mercado do entretenimento nos últimos tempos; podemos assumir que também concordamos com o que seria o contrário dessa distopia (sem zumbis, ou desastres naturais, ou “roubalheira política”, ou qualquer outro cenário apocalíptico que podemos pensar…); acredito que poucos discordariam da frase: “o mundo seria melhor com mais natureza e menos poluição”, certo? Mas CERTO mesmo? Essa frase é LÓGICA para vocês? Trocariam o “conforto” de uma de suas máquinas / tecnologias para manter um pouco mais o equilíbrio do ecossistema? Do ponto de vista ético, essa frase é indiscutível, a natureza é um bem e a poluição é um mal. Mas do ponto de vista lógico, ou estético, ou mesmo moral; a discussão não é tão simples; afinal a natureza não é necessariamente boa e nem a poluição é necessariamente má.

O que me conforta é pensar que esses conceitos que cito acima, apesar de atualmente muito relativos, tendem a ficar mais claros e universais com o passar do tempo; vejo um bom exemplo disso, com a representatividade cada vez maior para as minorias. Ainda falta bastante para o que chamaria de utopia, mas sinto que estamos no caminho disso, mesmo com altos e baixos. Enfim, consigo perceber que os movimentos sociais têm se intensificado (EX: LGBTQ+, Black Lives Matter (“vidas negras importam”) e uma discussão política mais intensa, mesmo que isso tenha levado à uma polarização mais intensa também).

Recentemente cheguei a conclusão de que as coisas / ideais / linhas de pensamento baseados no desejo contrário à algo (ódio, repulsa, anti “qualquer coisa que não queiramos em nossa realidade”), não duram tanto quanto as baseadas em paixão / amor pela(s) causa(s) / idealismos defendidos pelas pessoas. Ex: a ascensão da direita política, acredito que são causadas mais por uma vontade “anti-esquerda”, do que por uma vontade “pró-direita”. E por isso, acredito que esses movimentos, aparentemente “pró-direita”, tendem a ser mais fugazes, do que os movimentos propriamente “pró-direita”; que apesar de terem uma certa força, acredito que são relativamente raros atualmente; principalmente se considerarmos as paixões envolvidas nessa dicotomia política.

Pensando desse modo, podemos presumir que o movimento político atual, tende ao equilíbrio (centro); e como já dizia o ditado, apesar de “não ser possível agradar gregos e troianos”; acredito que podemos chegar em um consenso mínimo, onde ambas as partes possam se sentir contempladas e quem sabe satisfeitas com os resultados das decisões políticas tomadas! Apesar de não sentirem plenitude nessas representações, acredito que ambas as partes possam se sentir minimamente representadas e portanto felizes por essa representatividade. Quem sabe até aceitando as concessões e possíveis privilégios temporários, para algumas das partes, em algumas condições específicas (de reparação, ou de emergência, ou se for pelo “bem comum”…).

Não basta pensarmos no que seria(m) a(s) utopia(s) (objetivo(s)), precisamos pensar também nos caminhos para chegar nessa(s) noções de “bem comum”! Pensando em termos globais, sinto que estamos nos aproximando das utopias mais pertinentes para todos; abraçando causas globais como a “bicicleta”, a “negritude”, a “feminilidade”, a “diversidade”, enfim a caminho da emancipação dos silenciados / esquecidos! Aplicando punições mais severas, para crimes mais “anti-éticos”; assumindo politicamente os genocídios que o “sujeito correto” têm infringido no “sujeito invisível”.

São muitas aspas para tentarmos entender o que pensamos como utopia! Afinal se não sabemos o que é o certo para o outro, como podemos saber o que seria o bem para ele; muito menos o que ele pode considerar como belo!

Assim como um casal, que com suas diferenças, na maioria das vezes busca um equilíbrio; temos que como sociedade perceber quando devemos ceder às vontades do outro, para mantermos uma boa relação; e quando devemos lutar pelos nossos direitos de sermos ouvidos e representados perante a política efetivada; para que avancemos na direção do “equilíbrio político”.

Apesar do “Paradoxo da Tolerância”, de Karl Popper (“Se estendermos a tolerância ilimitada mesmo aos intolerantes, e se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então, os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles. “); acredito que existe um “ponto de equilíbrio” político, religioso, social, econômico, cultural, etc; e mesmo que esse “ponto de equilíbrio” seja inatingível, gosto de assumir que podemos nos aproximar dele; para quem sabe pelo menos amenizarmos a polaridade política e quem sabe amenizarmos também os antagonismos iconoclastas que vivemos, com todas as dicotomias que conhecemos e percebemos atualmente.

Como se tivéssemos tentando ajustar os “tons de cinza” das disparidades que temos entre nós; algumas horas ele está mais para preto e branco, com poucos “tons de cinza” e muitos conflitos / contrastes; outras horas são tantos tons para se escolher que a distância entre eles fica perceptível, incomodando alguns. Mas sinto que estamos caminhando para o cinza 50% e as distâncias entre esses tons têm diminuído ao longo da história (longo prazo); apesar de recentes polaridades mais intensas (curto prazo).

Enfim a bicicleta, para mim, é um símbolo do que imagino como utopia, onde a vida é mais importante que o poder! Onde a capacidade básica é praticamente igual para quase todos; apesar de querer muito, penso ser impossível incluir todos sempre; mas ficaria feliz com o quase todos, mesmo que eu não fizesse parte dos contemplados! Onde a saúde, a sustentabilidade, a união, a busca por um mundo melhor, encontram aliadas(os)! Em um pedal por aí!

Escrevo por um mundo com mais respeito e mais equidade, principalmente pedalando!

“Não sei o que seria(m) a(s) utopia(s), mas nem por isso deixo de buscá-la(s), ou de tentar compreendê-la(s).” (personagem inexistente / onixistente).

Enfim, saudações fraternais / ciclísticas para todos nesse começo de 2021, que consigamos nos aproximar um pouco mais de nossas utopias, mesmo que contraditórias, hahahahaha!

“E já sabe né, vambora pedalar!”(Renata Falzoni).

Abraços PLAUNS!