Arquivo para Tom

Tom, um gato se vai, um vazio fica e muitas memórias / afetos reverberam!

Posted in Textos with tags , , on janeiro 20, 2022 by plauns

Nessa madrugada difícil em que me despeço do Tom, o gato mais legal que conheci, a quem acredito que compreendi bem e que também me compreendeu bem. Penso no quanto eu acho que conseguimos dar uma vida feliz e o mais saudável possível para ele, com muitos carinhos, colos, companhias, brincadeiras, enfim o que acredito ser uma boa nutrição para todos os seus corpos (físico, mental, espiritual, vital…). E penso também em quanto ele nos ajudou, nos divertiu, nos fez sorrir, chorar, correr, acompanhar, seguir, brincar, limpar, carregar, ter medos, ter sonhos, ter um amor crescente, incondicional e super cotidiano; mas principalmente me fez uma pessoa melhor, mais bem humorado, mais otimista, mais responsável, menos egoísta, menos “escondido”, menos sério…

O maior bem que ele me proporcionou? Nos últimos dias têm ecoado em minha mente, como um disco riscado que fica repetindo: “O serzinho que me ajudou a sair da depressão e acredito que me ensinou a ficar fora dela!”. Quanto ao maior bem que acho que proporcionei(amos) para ele, diria que o ambiente e as pessoas que nos rodeiam o preencheram e o engrandeceram.

Toda gratidão e amor possível para o Tom, que amanhã irá fazer a sua passagem… E se dependesse do meu desejo, irá ser e estar em paz com aqueles e aquilo que lhe fazem bem; e quem sabe nos encontremos de novo em alguma outra vida! Agradeço pela possibilidade da eutanásia dele, para que consigamos poupar tanto o sofrimento dele, quanto nosso; pois sinto que em sua velhice, escolheu que já viveu o suficiente e começou a se despedir; sendo que postergar isso seria tanto egoísmo (por querer evitar uma escolha que sinto ter vindo dele), quanto meio que burrice (por sofrermos mais que o necessário / saudável).

3:08am 19/01/2022

Esses últimos dias foram sofridos, mas ao mesmo tempo, com muitas memórias boas, desses quase vinte anos que convivemos tanto juntos. De muitas maneiras considero ele o meu primeiro animal de estimação, apesar de conhecer muitos outros, inclusive alguns que apesar de serem adotados pela minha família, não duraram muito conosco e eu não tive muita oportunidade, de criar laços muito fortes antes do Tom.

Ele entrou em minha vida em um momento, que consegui ter maturidade para assumir boa parte das responsabilidades de receber essa vida nova na / para a casa. Apesar de ser inicialmente um presente para o meu irmão Will, ele acabou se tornando um companheiro maior para mim e abriu a casa para companheiros futuros. Hoje, não consigo mais imaginar viver sem a companhia de um serzinho querido; só acho importante conseguir superar um pouco dessa dor, enfrentando o luto de modo sincero, para não exalar essa energia pesada, para esse potencial novo companheiro(a).

Apesar de oficialmente o nome dele ser Tom, chamamos ele de diversos “apelidos” / adjetivos ao longo desses anos: búdio, boditinho, gatinho, gato, cuzonino, gracinha, bolinha, bonitinho… Mas apesar de alguns nomes meio agressivos, fez parte da família desde o primeiro dia, uma espécie de irmão, filho e até pai, para mim, meu irmão, meus pais e nossos amigos mais próximos! Um membro muito importante para a casa e seus habitantes!

Apesar de dolorido, preciso introjetar essa saudade que já é grande, dele brincando, dele pululante, alegre, curioso, elegante, ágil, dando seus pinotes, miando para me chamar no jardim, miando para pedir comida, para pedir água nas torneiras, me pedindo colo, carinho, companhia para explorar a casa… Nesses meus 42 anos, com certeza essa é a morte mais doída que vou enfrentar até esse momento. Te amo Tom e vou contar a suas histórias muitas vezes, para que seja imortalizado nas mentes daqueles que quero o bem, que me são queridos! Que eu consiga reverberar o amor que senti dele e por ele!

Viva a vida e as pessoas / seres que potencializam ela!

6:04 am 19/01/2022

Nesse momento do texto senti necessidade de narrar (pelo menos para mim mesmo), a cronologia de acontecimentos da contagem regressiva, para lembrar dessa despedida quando e se achar válido! Talvez não aconselhe (re)visitar esse momento (pulando a parte em itálico / negrito)!

Nessas últimas horas, entre muito choro e tentativas de distração e até uma busca de distração no trabalho, apesar de pouco frutífera. Tentei dar o máximo de atenção para ele, mas não querendo exagerar no carinho, pois sei que ele não é muito fan de mãos durante um tempo prolongado. Tentei dar colo, mas na maior parte do tempo senti, que ele ficou mais confortável e calmo na cadeira ao meu lado; e dei alguns passeios com ele para se despedir dos lugares prediletos da casa. Ao mesmo tempo que, para pensar sobre o que estou passando e me acalmar um pouco, escrevia esse texto em doses homeopáticas.

8:15am 19/01/2022

Achando que estava mais ou menos preparado, depois de uma madrugada dolorida, passamos o resto do dia tentando cuidar e fazer companhia pro Tom, com conversas nas quais tentamos manter um bom humor mínimo, para deixar relativamente leve o ambiente. Então, com o Will voltando de um compromisso, conseguimos adiantar a ida para o veterinário, o gato foi no meu colo, ainda deu 3 miadinhas encostado no meu peito. Em torno dàs 15:30 chegamos para o procedimento da eutanásia, coloquei ele na mesa do veterinário e alguns segundos depois ele simplesmente parou de respirar, antes mesmo de começar com o procedimento. Não aguentando a dor de ver isso, achei melhor sair da sala e fui fumar um cigarro no estacionamento da clínica; eu e meu irmão nos abraçamos forte em meio a uma chuva e fiquei sozinho para fumar o meu cigarro, inclusive agradecendo pela chuva.

Foi nesse momento que comecei a introjetar que o nosso querido amigo tinha ido embora, que a saudade ia ser imensa, como diria um grande amigo: saudades estúpidas, imbecilis, viceralis, idiotas… E agora fica esse vazio. Depois de agradecer a Dra Ana, que cuidou de nós nesses últimos meses, nos despedimos, voltamos para casa, fumei um último cigarro no jardim, me despedi do meu irmão e dos meus pais e fui para o quarto mandar algumas mensagens; e em seguida fui dormir.

Acordei com a casa vazia, às 3:30am, fui no banheiro, preparei minha comida e fui para o quarto para tentar me distrair com alguns vídeos, enquanto comia. Ao terminar de comer senti a necessidade de finalmente terminar de escrever esse texto de início de luto.

Não costumo e nem gosto muito de escrever como se fosse em um diário, descrevendo o meu cotidiano, mas nessa situação, penso que a catarse, a extravasada, o compartilhamento dessa história, não só são importantes e saudáveis para mim, me ajudando a diluir um pouco a dor, ao difundir ela, como também podem ser importantes e saudáveis para quem conheceu esse serzinho iluminado, e gostaria de sentir que esteve junto com ele nessa despedida.

Obrigado por tudo e vá em paz, com liberdade, muito amor, união sincera, uma possível boa relação com a natureza em sua forma de cinzas e com a saúde que essa passagem lhe permite, meu querido amigo / companheiro / luz, que fez da nossa realidade, algo mais leve e mais feliz! E para quem fica, que lembremos dele com carinho e que essas lembranças nos confortem; pois junto com uma grande dor, normalmente também temos um grande amor! Abração para todos, amo vocês e PLAUNS pro mundo!

4:27am 20/01/2022

PS: Ainda pretendo escrever uma segunda parte, quando achar que consegui compreender um pouco os sentimentos envolvidos nesse luto!