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Posted in Mapa do Site on outubro 27, 2010 by plauns

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Produção do grupo: Informes semanais do grupo, zine NeoMitoSofia 1, zine NeoMitoSofia2, cartazes convite, cartazes do café filosófico. desenhos scaneados do grupo, textos do grupo.

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Renascimento das cinzas – Do luto à luta!

Posted in novidades, Textos with tags , , , , on fevereiro 8, 2023 by plauns

Depois de muitas mortes, muitas mentiras, muitas negligências… Conseguimos ver uma luz no fim do túnel; mesmo que essa luz pareça menos iluminadora e menos quente que antes. Depende apenas de nós intensificá-la e esquentá-la!

Do luto à luta, voltemos nossas forças contra o poder mesquinho, em direção da vida e do movimento das coisas, pessoas, ideias, imaginários, projeções… A Paz pode não ser plena (a luta tbem é necessária em certa medida), mas o pouco de paz que podemos ter, ainda assim é valiosa e necessária para que possamos seguir minimamente e subvertidamente saudáveis / felizes.

Após quase um ano da morte de meu companheiro e da adoção do Fel, o movimento se renova e um livro começa a nascer depois de quase 20 anos de hiato. Juntamente com um novo governo, que apesar de tudo, renova as esperanças de um futuro para as próximas gerações do nosso brasilisloucado.

Com a proliferação de novas narrativas / discursos / linguagens / interações digitais… Aumenta o desafio de movimentar antigos conceitos e de transformar palavras primitivas em verdades falseáveis! Mas nós do NMS não esmorecemos fácil, a luta continua, mais leve e mais confiante que nunca.

A NeoMitoSofia há de começar a resubverter os conceitos que são tão importantes para nós. Os Novos existem e são valiosos para nós, os Mitos existem e são valiosos para nós (enquanto metáforas interpretáveis), as Sabedorias existem e são valiosas para nós; para além disso, as liberdades existem e são valiosas para nós (finitas mas existem), os amores existem e são valiosos para nós, os heróis existem (mesmo que às vezes só no imaginário) e são valiosos para nós, os movimentos existem e são valiosos para nós…

Silvio Almeida no seu discurso de posse como ministro dos Direitos Humanos (…existem e são valiosos para nós!):

Que tenhamos motivações para resgatar e ressignificar esses conceitos que são tão valiosos para nós! Que as inspirações nos acolham e aspiremos mais e melhor! Que os novos ares políticos desfaçam (pelo menos em parte) os nódulos sociais criados nos últimos anos! Que a força metafóricamente mágica, seja mais impactante, que as forças não metafóricas (econômicas, políticas, sociais…)! Que as palavras nos unam mais; que a linguagem nos aproxime mais, que as narrativas não nos dividam mais…

Com uma maturidade semi-tangível, nosso grupo continua em mutação! Escarafunchando memórias que só nos são acessíveis pela ancestralidade; o primitivo aqui é uma potencial evolução; e o progresso um potencial retrocesso. A narrativa da vez é a de inclusão, de aceitação, de valorização da vida, das diferenças saudáveis e saudosas!

Um bom começo para essa nova luta é renovar o inquietante “Paradoxo da Tolerância”. O que antes interpretava como ódio aos odiósos; hoje interpreto como não-amor aos que não amam. E para quem professar o ódio, ofereço meu amor condicional; nesse caso a condição para poder amar algo, é que esse ódio professado, não impeça outras vidas de prosperar. Já aqueles que professam o ódio e impedem que outras vidas prosperem, ofereço o meu não-amor!

A luta aqui é de narrativas; por isso usamos e abusamos de detabes, embates e até combates; usando nossas principais armas, no caso as palavras, as músicas, as imagens e referências que consumimos, digerimos e regurgitamos, para analisarmos com calma as partes e o todo; e para “sujar” a realidade com nossas ideias profanamente mágicas e contravensionalmente anormais e portanto provavelmente mais saudáveis!

Nos libertemos de sentimentos limitadores e abracemos os sentimentos que nos movimentam! Vamos à luta, pois nossos objetivos existem e são valiosos para nós!

Sobre a morte (consequência da vida) e o luto (consequência do amor)?

Posted in novidades on fevereiro 18, 2022 by plauns

Essa é a segunda parte de uma série de textos que pretendo escrever, confiram a primeira parte no link:

Venho aqui mais uma vez homenagear o Tom. E tentar entender um pouco melhor os sentimentos pensamentos que contemplei nesses últimos dias, principalmente a cerca das minhas noções de morte e luto. Como preciso ler, escrever para me compreender melhor, vamos lá!

De modo mais emocional / subjetivo, acredito que todos nós temos conceitos bem diversos e relativos sobre essas noções; e não acho que convém compartilharmos tanto elas, pois costuma rever lembranças / memórias / tradições / rituais, que apesar de necessários para as noções de amor / vida / sonho, não são sempre agradáveis e algumas vezes são até conflitantes / beligerantes (mesmo pessoalmente falando).

Já de modo racional / objetivo, acredito ser não só saudável discutir / entender esses sentimentos, como também pode ser engrandecedor. Dito isso, seguem resumos de algumas definições sobre a morte.

Sobre a Morte:

Comecemos as definições, com a poderosa Elza Soares, que deixou essa existência, no mesmo dia do meu gato (cuida dele se possível? porfa!):

“fim da vida, falecimento, termo, destruição… do latin mŏrs mŏrtis|| amor-trabalhar, amortec’edor, amortecer, amortecedor, amortificado…mortalidade…” (Dicionário Etimológico, editora Nova Fronteira, verbete morte, p. 534)

O complemento / consequência da vida (basta estar vivo, para eventualmente morrer), falecimento, destruição, irmã do sono, amortecimento (tecimento do amor)… A morte também é interpretada por alguns como o início / fim de um ciclo da vida e/ou como uma possibilidade existencial. “A única certeza da vida!”. Em outros casos ela pode ser até interpretada como existente desde o primeiro dia de vida, como algo que já está lá e vai se aproximando durante o envelhecimento (“morremos mais um pouco a cada segundo”).

“Enquanto símbolo, a morte é o aspecto perecível e destrutível da existência… Mas também é a introdutora aos mundos desconhecidos… Ela é revelação e introdução… Se ela (a morte) é, por si mesma, filha da noite e irmã do sono, ela possui, como sua mãe e seu irmão, o poder de regenerar. ” (Dicionário de Símbolos, editora José Olympio, verbete morte, p. 621)

Ariano Suassuna (Alto da Compadecida): “A morte é o único mal irremediável”, ou “Na morte, somos todos iguais”.

Jean-Paul Sartre (“O Ser e o Nada”, 1995, p. 630): “A morte é um fato puro, como o nascimento; chega-nos do exterior e transforma-nos em exterioridade. No fundo, não se distingue de modo algum do nascimento, e é a identidade entre nascimento e morte que chamamos de felicidade…”

Na obra prima Sandman, do grande Neil Gaiman! A morte, que parece uma garota gótica, faz parte do grupo chamado de “Perpétuos” (“The Endless”), que são descritos como manifestações antropomórficas de aspectos comuns a todos os seres vivos; não são deuses, mas sim entidades, responsáveis pelo ordenamento da realidade conhecida. O grupo é composto pelos seguintes irmãos: Destino, Morte, Sonho, Destruição, Desejo, Desespero e Delírio.

A maioria das definições de morte nos são comuns e fáceis de assimilar, mas algumas dessas definições podem ser um pouco mais complexas para compreender bem. No caso da definição da morte como irmã do sonho / sono, apesar de já ter visto / ouvido em diversos lugares / conversas, não tinha entendido tão bem até então (apesar de saber que podemos sempre compreender melhor tudo, ou mesmo lembrar melhor, sonhar melhor). Essa relação entre o sonho e a morte, nos remete aos estados biológicos de repouso de ambos, que nos parecem semelhantes em suas formas, mas bem distintos em suas condições; mas também pode nos remeter às relações entre o sonho / desejo e a sua morte / fim, que pode ser interpretado como vida (fim / objetivo principal do sonho) / amor (fim / objetivo principal do desejo); ou mesmo o sonho / desejo da morte / fim, que pode ser interpretado como a paz (o não desejo, que pode ser visto como desapego, que nos convida a sonhar com uma vida mais feliz) / utopia (o não sonho, que pode ser visto como uma realidade sem necessidades, nos convida a desejar uma existência mais amorosa). Além disso, alguns interpretam o sonho, como uma conexão direta com o mundo espiritual / antepassados; que pode ser associada ao pós-morte.

Já a morte como o tecimento do amor, nos remete às sensações de amortecimento / adormecimento, mas também remete à rede / fibra social tecida entre aqueles que sentem o luto e aqueles que fizeram a passagem. Conhecemos / entendemos / vivemos melhor a vida (“sonhos lúcidos”?), ao conhecermos e entendermos o que podemos interpretar da morte (“sonhos espirituais”?)!

A morte como correlata direta do nascimento e o seu poder de regenerar. Podemos interpretar como se as vidas, que eventualmente viram adubos, vão ser vetores para novas vidas. Como na lenda da Fenix, ela morre e das suas cinzas ressurge o pássaro de fogo (lembrando que fogo possui tanto uma alegoria para o conhecimento humano, como para a chama da vida).

Se foi meu querido amigo, Tom, o gato; agora ele descansa / desencarna.

Como nunca havia passado por um luto realmente pessoal, acredito que os significados, sentimentos e pensamentos correlatos, ainda não me eram (são) muito familiares, ou até mesmo contemplados com a devida atenção. Nos primeiros dias após a partida do Tom, fiquei como se tivesse sido meio sedado, amortecido; apesar de conseguir me concentrar no trabalho, que estava um pouco acumulado, não pensava, nem sentia tanta falta dele / dor quanto esperava; como se estivesse “sonhando”, depois de um pesadelo “passageiro”. Mas assim que tive um tempo mais livre, essa dor foi melhor assimilada e percebi que a dor até pode diminuir com o tempo, ou podemos nos distrair dela, mas fará parte de mim e da minha vida a partir desse momento. O que me alivia é pensar que a evolução da nossa noção da morte, nos faz valorizar e evoluir mais também a nossa noção da vida; assim como a nossa noção de nascimento!

“Tristeza não têm fim, felicidade sim!”, ou seja para proteger nossa felicidade (vida) é válido não nos (pre)ocupar tanto com a tristeza (morte), não (pre)ocupando / alimentando nossas dores.

Enfim é preciso saber viver, saber amar, saber ser feliz… É preciso / precioso (o) saber…

Sobre o luto:

Cada cultura, região, religião possui o seu ritual próprio. Alguns visitam cemitérios, deixam flores, velas, fazem cantigas, orações; outros ficam em silêncio; outros praticam rituais por um determinado tempo; outros se reúnem para conversar sobre a morte, outros até celebram a morte com festas; homenageando / ajudando os seus antepassados e o sobrenatural, cada um do seu jeito. Assim como cada um encara a morte do seu modo: como uma passagem para outra vida, para outra realidade / plano, para o fim “absoluto”… Basta amar, para eventualmente resultar em luto.

Não acho válido por enquanto compartilhar as minhas opiniões, práticas sobre o luto, mas as definições de luto, podem nos ajudar a enfrentar ele (independente da cultura / religião com a qual nos identificamos), que durante esses tempos de pandemia, acredito que têm sido um conhecimento necessário para muitos de nós!

Normalmente interpretado como período(s) de pesares / dores / sofrimentos / sentimentos, causados pela(s) morte(s) / separação(ões) / rompimento(s) / perda(s) de alguém. Ou como um comportamento / ritual ligado à morte, vista por alguns como uma libertação (mesmo que momentânea) das dores da condição viva! E portanto cheia de significados e significantes da (pós)vida em sí!

Esse(s) período(s) costumam ser expressos, pelos trajes (brancos, pretos, coloridos, simples, complexos, específicos, ou até genéricos), pelas músicas, decorações, rituais…

“…Do latin Luctus-us, do radical supino de lugēre || enlutar || lucti-fero. Do latin luctĭfer…Do latin luctisŏnus… Do latin lugens-entis…” ( Dicionário Etimológico, editora Nova Fronteira, verbete luto, p. 483).

Assim como ‘…a maioria das definições de morte nos são comuns e fáceis de assimilar, mas algumas dessas definições podem ser um pouco mais complexas para compreender bem…’; as noções de luto também acompanham a mesma lógica, com o sono / sonho / desejo e as outras realidades / planos, que também fazem parte dos vivos / da vida.

A morte de um animal de estimação com certeza é diferente da morte de um parente, ou amigo, ou conhecido. Mas de algum modo as interpretações / pensamentos / sentimentos correlatos, podem ser bem semelhantes; assim como as práticas e as definições resultantes dessa relação.

“Viva a vida e as pessoas / seres que potencializam ela!” Mesmo depois da morte!

Para aqueles que me ajudaram nessa passagem, seja indiretamente com suas “vibrações cósmicas”, seja diretamente com suas palavras e ações de acalento, seja involuntariamente com suas recepções / expressões respeitosas da notícia; super obrigado e espero que recebam as mesmas (ou mais) luzes que recebi, quando precisarem, amo vocês! E para aqueles que ou passaram, ou vão passar, ou estão passando pelo luto, sintam-se amados tanto quanto, pois viver é amar / sonhar / desejar!

Em meio a insônias, sonhos e desejos! Deixo crescer em mim a vontade de ter um novo gato(a) e me convenço de que irá ser bom para mim, para a casa, para quem amo / me ama e para essa nova vida / ciclo que já deve estar me esperando também! Enfim irei atrás dessa nova companhia! E espero que a nossa felicidade seja maior, que nossa tristeza e que a vida prevaleça enquanto possível, poderosa e prazerosa! As palavras me curam e espero que ajudem outros a se curarem também.

Apesar de um dia atrasado na publicação, terminei de escrever esse texto no dia mundial do Gato (descobri isso hoje, quando resolvi começar a busca por um novo(a) companheiro(a))! Texto escrito entre os dias 27-30 de luto (14/02/2022 – 17/02/2022). Amanhã pretendo ir em um evento de adoção, para se tudo der certo, conhecer o novo serzinho que irá habitar meu coração e minha casa!

Provavelmente esse ainda não é o capítulo final dessa série de textos, mas por hora deixo as minhas “vibrações cósmicas” e desejo: Paz, Liberdade, Amor, União, Natureza e Saúde pro mundo!

Tom, um gato se vai, um vazio fica e muitas memórias / afetos reverberam!

Posted in Textos with tags , , on janeiro 20, 2022 by plauns

Nessa madrugada difícil em que me despeço do Tom, o gato mais legal que conheci, a quem acredito que compreendi bem e que também me compreendeu bem. Penso no quanto eu acho que conseguimos dar uma vida feliz e o mais saudável possível para ele, com muitos carinhos, colos, companhias, brincadeiras, enfim o que acredito ser uma boa nutrição para todos os seus corpos (físico, mental, espiritual, vital…). E penso também em quanto ele nos ajudou, nos divertiu, nos fez sorrir, chorar, correr, acompanhar, seguir, brincar, limpar, carregar, ter medos, ter sonhos, ter um amor crescente, incondicional e super cotidiano; mas principalmente me fez uma pessoa melhor, mais bem humorado, mais otimista, mais responsável, menos egoísta, menos “escondido”, menos sério…

O maior bem que ele me proporcionou? Nos últimos dias têm ecoado em minha mente, como um disco riscado que fica repetindo: “O serzinho que me ajudou a sair da depressão e acredito que me ensinou a ficar fora dela!”. Quanto ao maior bem que acho que proporcionei(amos) para ele, diria que o ambiente e as pessoas que nos rodeiam o preencheram e o engrandeceram.

Toda gratidão e amor possível para o Tom, que amanhã irá fazer a sua passagem… E se dependesse do meu desejo, irá ser e estar em paz com aqueles e aquilo que lhe fazem bem; e quem sabe nos encontremos de novo em alguma outra vida! Agradeço pela possibilidade da eutanásia dele, para que consigamos poupar tanto o sofrimento dele, quanto nosso; pois sinto que em sua velhice, escolheu que já viveu o suficiente e começou a se despedir; sendo que postergar isso seria tanto egoísmo (por querer evitar uma escolha que sinto ter vindo dele), quanto meio que burrice (por sofrermos mais que o necessário / saudável).

3:08am 19/01/2022

Esses últimos dias foram sofridos, mas ao mesmo tempo, com muitas memórias boas, desses quase vinte anos que convivemos tanto juntos. De muitas maneiras considero ele o meu primeiro animal de estimação, apesar de conhecer muitos outros, inclusive alguns que apesar de serem adotados pela minha família, não duraram muito conosco e eu não tive muita oportunidade, de criar laços muito fortes antes do Tom.

Ele entrou em minha vida em um momento, que consegui ter maturidade para assumir boa parte das responsabilidades de receber essa vida nova na / para a casa. Apesar de ser inicialmente um presente para o meu irmão Will, ele acabou se tornando um companheiro maior para mim e abriu a casa para companheiros futuros. Hoje, não consigo mais imaginar viver sem a companhia de um serzinho querido; só acho importante conseguir superar um pouco dessa dor, enfrentando o luto de modo sincero, para não exalar essa energia pesada, para esse potencial novo companheiro(a).

Apesar de oficialmente o nome dele ser Tom, chamamos ele de diversos “apelidos” / adjetivos ao longo desses anos: búdio, boditinho, gatinho, gato, cuzonino, gracinha, bolinha, bonitinho… Mas apesar de alguns nomes meio agressivos, fez parte da família desde o primeiro dia, uma espécie de irmão, filho e até pai, para mim, meu irmão, meus pais e nossos amigos mais próximos! Um membro muito importante para a casa e seus habitantes!

Apesar de dolorido, preciso introjetar essa saudade que já é grande, dele brincando, dele pululante, alegre, curioso, elegante, ágil, dando seus pinotes, miando para me chamar no jardim, miando para pedir comida, para pedir água nas torneiras, me pedindo colo, carinho, companhia para explorar a casa… Nesses meus 42 anos, com certeza essa é a morte mais doída que vou enfrentar até esse momento. Te amo Tom e vou contar a suas histórias muitas vezes, para que seja imortalizado nas mentes daqueles que quero o bem, que me são queridos! Que eu consiga reverberar o amor que senti dele e por ele!

Viva a vida e as pessoas / seres que potencializam ela!

6:04 am 19/01/2022

Nesse momento do texto senti necessidade de narrar (pelo menos para mim mesmo), a cronologia de acontecimentos da contagem regressiva, para lembrar dessa despedida quando e se achar válido! Talvez não aconselhe (re)visitar esse momento (pulando a parte em itálico / negrito)!

Nessas últimas horas, entre muito choro e tentativas de distração e até uma busca de distração no trabalho, apesar de pouco frutífera. Tentei dar o máximo de atenção para ele, mas não querendo exagerar no carinho, pois sei que ele não é muito fan de mãos durante um tempo prolongado. Tentei dar colo, mas na maior parte do tempo senti, que ele ficou mais confortável e calmo na cadeira ao meu lado; e dei alguns passeios com ele para se despedir dos lugares prediletos da casa. Ao mesmo tempo que, para pensar sobre o que estou passando e me acalmar um pouco, escrevia esse texto em doses homeopáticas.

8:15am 19/01/2022

Achando que estava mais ou menos preparado, depois de uma madrugada dolorida, passamos o resto do dia tentando cuidar e fazer companhia pro Tom, com conversas nas quais tentamos manter um bom humor mínimo, para deixar relativamente leve o ambiente. Então, com o Will voltando de um compromisso, conseguimos adiantar a ida para o veterinário, o gato foi no meu colo, ainda deu 3 miadinhas encostado no meu peito. Em torno dàs 15:30 chegamos para o procedimento da eutanásia, coloquei ele na mesa do veterinário e alguns segundos depois ele simplesmente parou de respirar, antes mesmo de começar com o procedimento. Não aguentando a dor de ver isso, achei melhor sair da sala e fui fumar um cigarro no estacionamento da clínica; eu e meu irmão nos abraçamos forte em meio a uma chuva e fiquei sozinho para fumar o meu cigarro, inclusive agradecendo pela chuva.

Foi nesse momento que comecei a introjetar que o nosso querido amigo tinha ido embora, que a saudade ia ser imensa, como diria um grande amigo: saudades estúpidas, imbecilis, viceralis, idiotas… E agora fica esse vazio. Depois de agradecer a Dra Ana, que cuidou de nós nesses últimos meses, nos despedimos, voltamos para casa, fumei um último cigarro no jardim, me despedi do meu irmão e dos meus pais e fui para o quarto mandar algumas mensagens; e em seguida fui dormir.

Acordei com a casa vazia, às 3:30am, fui no banheiro, preparei minha comida e fui para o quarto para tentar me distrair com alguns vídeos, enquanto comia. Ao terminar de comer senti a necessidade de finalmente terminar de escrever esse texto de início de luto.

Não costumo e nem gosto muito de escrever como se fosse em um diário, descrevendo o meu cotidiano, mas nessa situação, penso que a catarse, a extravasada, o compartilhamento dessa história, não só são importantes e saudáveis para mim, me ajudando a diluir um pouco a dor, ao difundir ela, como também podem ser importantes e saudáveis para quem conheceu esse serzinho iluminado, e gostaria de sentir que esteve junto com ele nessa despedida.

Obrigado por tudo e vá em paz, com liberdade, muito amor, união sincera, uma possível boa relação com a natureza em sua forma de cinzas e com a saúde que essa passagem lhe permite, meu querido amigo / companheiro / luz, que fez da nossa realidade, algo mais leve e mais feliz! E para quem fica, que lembremos dele com carinho e que essas lembranças nos confortem; pois junto com uma grande dor, normalmente também temos um grande amor! Abração para todos, amo vocês e PLAUNS pro mundo!

4:27am 20/01/2022

PS: Ainda pretendo escrever uma segunda parte, quando achar que consegui compreender um pouco os sentimentos envolvidos nesse luto!

Sobre a(s) Utopia(s)!

Posted in novidades, Textos with tags , , , , , on janeiro 3, 2021 by plauns

Pensando em quantas utopias podemos perceber em nossos ideais / idealismos; e pensando também na Marina Harkot, que pouco conheci, mas muito simpatizava; resolvi escrever nessa passagem de ano (01/01/2020) sobre as minhas próprias utopias.

Mas antes das hipóteses, temos os fatos: sempre fui e continuo sendo um amante da invenção e funções que a bicicleta exerce principalmente em minha vida. Tanto como lazer, quanto como transporte preferido, quanto como agente libertador; a magrela e os transportes ativos: skate e patins; fazem parte da minha memória fundante.

Sobre a Marina Harkot, conheci muito brevemente, quando ela visitou o Bike é Legal (www.bikeelegal.com), para conceder uma entrevista para a Giuliana Pompeu e equipe do BL, clique aqui para conferir o primeiro bloco dessa entrevista. Foram poucos minutos de interação, mas a força / intensidade das convidadas marcou a minha memória! Pensei: “Taí um bom grupo de mulheres que não só estão com desejo de melhorar o mundo, buscando uma utopia, como estão construindo o caminho para tornar esses desejos uma realidade”. Mas a realidade é truculenta! Marina foi atropelada por um criminoso, que abandonou ela para a morte. E até hoje o responsável ainda não foi punido pelo crime (apesar de felizmente já ser réu)! Mas a justiça, principalmente no Brasil, tende a fazer vista grossa, andar a passos lentos e muitas vezes absolver os criminosos do trânsito.

Voltando ao cerne desse texto, a mais latente dessas minhas utopias remete à sustentabilidade, o que envolve diretamente o uso da bike como transporte! Depois de anos me locomovendo com o transporte público, retomei o uso da bicicleta para me transportar; o que foi uma grande mudança na minha perspectiva urbana; retomando muitas visões de mundo, que se formaram em minha memória, durante minha infância / adolescência; quando nessa época, a bicicleta fazia parte de um ritual semanal de ampliação do espaço urbano, que eu desejava ocupar / conhecer; e felizmente voltou a ser um ritual meu quase espiritual, apesar de não tão periódico.

Para falar de um mundo melhor, de uma utopia; temos que antes falar de um dos principais assuntos da filosofia, no caso da “ÉTICA”; que seria o estudo do “bem comum”. Muitas definições / significados foram aplicados ao termo, mas a maioria deles concordam com a associação ao conceito de “bem comum”; e ampliando ao máximo esse conceito, são considerados os “bens” para todos (habitantes / animais / plantas / ambiente, ou seja o mundo) e com boa duração (se possível próximo ao “eterno” e ao “incorruptível”).

“A Corrente do Bem” (2000)

Mas para entendermos melhor esse “bem”, temos que também entender melhor os conceitos de “certo” (lógica) e “belo” (estética); mas apesar do conceito de “bem” ser algo mais próximo do universal, sendo reconhecido e entendido como coisas ao menos parecidas, por uma parcela maior da população; os conceitos de “certo” e “belo” são muito mais relativos; e por isso não possuem um consenso na maioria dos casos. Trato aqui da “ética” (bem) e não da “moral” (bom), já que esse segundo conceito é às vezes até mais relativo que o “certo” e o “belo”.

Afinal, como concordamos na maioria das distopias, como mostra bem o mercado do entretenimento nos últimos tempos; podemos assumir que também concordamos com o que seria o contrário dessa distopia (sem zumbis, ou desastres naturais, ou “roubalheira política”, ou qualquer outro cenário apocalíptico que podemos pensar…); acredito que poucos discordariam da frase: “o mundo seria melhor com mais natureza e menos poluição”, certo? Mas CERTO mesmo? Essa frase é LÓGICA para vocês? Trocariam o “conforto” de uma de suas máquinas / tecnologias para manter um pouco mais o equilíbrio do ecossistema? Do ponto de vista ético, essa frase é indiscutível, a natureza é um bem e a poluição é um mal. Mas do ponto de vista lógico, ou estético, ou mesmo moral; a discussão não é tão simples; afinal a natureza não é necessariamente boa e nem a poluição é necessariamente má.

O que me conforta é pensar que esses conceitos que cito acima, apesar de atualmente muito relativos, tendem a ficar mais claros e universais com o passar do tempo; vejo um bom exemplo disso, com a representatividade cada vez maior para as minorias. Ainda falta bastante para o que chamaria de utopia, mas sinto que estamos no caminho disso, mesmo com altos e baixos. Enfim, consigo perceber que os movimentos sociais têm se intensificado (EX: LGBTQ+, Black Lives Matter (“vidas negras importam”) e uma discussão política mais intensa, mesmo que isso tenha levado à uma polarização mais intensa também).

Recentemente cheguei a conclusão de que as coisas / ideais / linhas de pensamento baseados no desejo contrário à algo (ódio, repulsa, anti “qualquer coisa que não queiramos em nossa realidade”), não duram tanto quanto as baseadas em paixão / amor pela(s) causa(s) / idealismos defendidos pelas pessoas. Ex: a ascensão da direita política, acredito que são causadas mais por uma vontade “anti-esquerda”, do que por uma vontade “pró-direita”. E por isso, acredito que esses movimentos, aparentemente “pró-direita”, tendem a ser mais fugazes, do que os movimentos propriamente “pró-direita”; que apesar de terem uma certa força, acredito que são relativamente raros atualmente; principalmente se considerarmos as paixões envolvidas nessa dicotomia política.

Pensando desse modo, podemos presumir que o movimento político atual, tende ao equilíbrio (centro); e como já dizia o ditado, apesar de “não ser possível agradar gregos e troianos”; acredito que podemos chegar em um consenso mínimo, onde ambas as partes possam se sentir contempladas e quem sabe satisfeitas com os resultados das decisões políticas tomadas! Apesar de não sentirem plenitude nessas representações, acredito que ambas as partes possam se sentir minimamente representadas e portanto felizes por essa representatividade. Quem sabe até aceitando as concessões e possíveis privilégios temporários, para algumas das partes, em algumas condições específicas (de reparação, ou de emergência, ou se for pelo “bem comum”…).

Não basta pensarmos no que seria(m) a(s) utopia(s) (objetivo(s)), precisamos pensar também nos caminhos para chegar nessa(s) noções de “bem comum”! Pensando em termos globais, sinto que estamos nos aproximando das utopias mais pertinentes para todos; abraçando causas globais como a “bicicleta”, a “negritude”, a “feminilidade”, a “diversidade”, enfim a caminho da emancipação dos silenciados / esquecidos! Aplicando punições mais severas, para crimes mais “anti-éticos”; assumindo politicamente os genocídios que o “sujeito correto” têm infringido no “sujeito invisível”.

São muitas aspas para tentarmos entender o que pensamos como utopia! Afinal se não sabemos o que é o certo para o outro, como podemos saber o que seria o bem para ele; muito menos o que ele pode considerar como belo!

Assim como um casal, que com suas diferenças, na maioria das vezes busca um equilíbrio; temos que como sociedade perceber quando devemos ceder às vontades do outro, para mantermos uma boa relação; e quando devemos lutar pelos nossos direitos de sermos ouvidos e representados perante a política efetivada; para que avancemos na direção do “equilíbrio político”.

Apesar do “Paradoxo da Tolerância”, de Karl Popper (“Se estendermos a tolerância ilimitada mesmo aos intolerantes, e se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então, os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles. “); acredito que existe um “ponto de equilíbrio” político, religioso, social, econômico, cultural, etc; e mesmo que esse “ponto de equilíbrio” seja inatingível, gosto de assumir que podemos nos aproximar dele; para quem sabe pelo menos amenizarmos a polaridade política e quem sabe amenizarmos também os antagonismos iconoclastas que vivemos, com todas as dicotomias que conhecemos e percebemos atualmente.

Como se tivéssemos tentando ajustar os “tons de cinza” das disparidades que temos entre nós; algumas horas ele está mais para preto e branco, com poucos “tons de cinza” e muitos conflitos / contrastes; outras horas são tantos tons para se escolher que a distância entre eles fica perceptível, incomodando alguns. Mas sinto que estamos caminhando para o cinza 50% e as distâncias entre esses tons têm diminuído ao longo da história (longo prazo); apesar de recentes polaridades mais intensas (curto prazo).

Enfim a bicicleta, para mim, é um símbolo do que imagino como utopia, onde a vida é mais importante que o poder! Onde a capacidade básica é praticamente igual para quase todos; apesar de querer muito, penso ser impossível incluir todos sempre; mas ficaria feliz com o quase todos, mesmo que eu não fizesse parte dos contemplados! Onde a saúde, a sustentabilidade, a união, a busca por um mundo melhor, encontram aliadas(os)! Em um pedal por aí!

Escrevo por um mundo com mais respeito e mais equidade, principalmente pedalando!

“Não sei o que seria(m) a(s) utopia(s), mas nem por isso deixo de buscá-la(s), ou de tentar compreendê-la(s).” (personagem inexistente / onixistente).

Enfim, saudações fraternais / ciclísticas para todos nesse começo de 2021, que consigamos nos aproximar um pouco mais de nossas utopias, mesmo que contraditórias, hahahahaha!

“E já sabe né, vambora pedalar!”(Renata Falzoni).

Abraços PLAUNS!

2018 uma biografia – DOISMIL&DESÓDIO uns biografismos

Posted in novidades on junho 7, 2019 by ti

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<p><a href=”https://vimeo.com/376004905″>&quot;TRUTH&quot; | Kamasi Washington</a> from <a href=”https://vimeo.com/agrojas”>AG ROJAS</a> on <a href=”https://vimeo.com”>Vimeo</a&gt;.</p>

Clack – click – Zzzzzzzzzzzzzzzz

Alôu alôu… som!

Estamos reiniciando nossas transmissões. Tivemos que parar. Olhar ao redor. Estudar o perímetro.

Hoje é dia nove-um-zero-dois-um-zero-zero-um, lua crescente treze por cento visível. Menstruamos na última lua nova, GOD BLESS THIS MESS, sacudindo nas marés dos fluxos de esperanças e desilusões. Estamos contando dias para os aniversários de nossos mortos. Eu penso sobre amizade. Mas ao redor as repetições continuam colonizando multidões pelos seus hábitos cotidianos. Escravidão invisível. “Vida que segue” parece ser seu tema, mas como já enfatizou Dorival ao encarar a guarda PAU MANDADO NUM TEM LEMA!

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O golpe foi dado. Não há estado ou exceção. Só a velha rotina colonial, só esse bando de velhos ricos, tão ricos quanto corruptos. Porque essa é a medida, sabe? Follow da muney.

Engraçado como o inglês sintetiza ideias como uma infecção. Trato com doses, às vezes cavalares, de pixinguinha, Black Alien e Palhaça Rubra. Amo escutar o Bodão (Bode&Buda, OsosOtávios) cantando em inglês, um inglês espásmico & espontâneo que só os iniciados nas artes bodescas é que conseguem entender. Preencher o significado das palavras com seu próprio esvaziamento. Virá-las do avesso. O ritmo é o que dá impulso à voz. A melodia é meramente um resultado não planejado. Fortuna&Sorte. Métis, a deusa gostosa da metelança. Da gatunage oportuna. Bela confusão, porque afinal, toda confusão é bela. Essas flores de caos que eu cheiro com os olhos e ouvidos. Mas além de fruir a cura eu também estudo a doença com meu infectólogo especialista em patuá jamaicano Professor Reginald Clownson Yasuokayáh, chamado pelos amigos de Reginárduo. + 1 amigo rastaman vampa slayah. Meu irmão, que atormento desde o berço com ideias (ou seriam paranóias para nós nóias?) antivampirescas.

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Oh, sim o vampirismo é uma doença que é transmitida na [e pela] linguagem. O efeito que ela causa no indivíduo infectado é a normose, a mímese comportamental exagerada. Sabe, vampiros babacas agindo como vampiros babacas. Eles sempre estão seguindo um modelo anterior, afundando o dentes em alguma jugular pra roubar a força necessária pra afundar os calcanhares na terra pra brecar o motor da vida e o trem da evolução. Que afundem de uma vez! – bradamos – mas não. Sempre querem retornar, esses regressantes desprezíveis (à família, à suposições míticas, à memória de um (e somente um – o seu) passado). Valentões, racistas, liberais, aproveitadores e burocratas de merda. Aos montes por aí… se multiplicando mais rápido do que uma mordidinha no pescoço.

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Faz pensar: o que é que você estranha? Eu quero que você se pergunte: mas será que não sabe? Será que não sabia? Será que algo no fundo do olhar não denuncia a voracidade dos homens que não são homens, mas ratos, porcos, vermes. Cães e morcegos na noite. Cruz credo. Estacas espadas e fogo. FOGO NA BABILÔNIA.

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Eles sabem ficar invisíveis. Tingem o mundo inteiro de tragédia com sua linguagem pra passarem transparentes seus trágicos corpos e suas trágicas faces pálidas. Às vezes o estranhamento é o despertar da nossa consciência rasteira e superficial, essa que insistimos em crer como “racional”, que num alarme de autopreservação emerge gritante da mente profunda, aquela baleia gigante que realmente sabe das coisas, que sente além e através dos sentidos – os quais insistimos (ou decidimos desde o século XIX por sugestão de um neurótico) em chamar de “inconsciente” – faz soar de sua gargantua voz de profundis te fazendo franzir a testa. Quando franzimos a testa é porque algo está errado. Sentimos que algo está errado e queremos abrir mais um olho, um olho entre os olhos que já temos, pra perceber melhor o que tá pegando. Franzir a testa é tentar abrir um terceiro olho. Às vezes você faz isso sem nem saber, as vezes isso faz você nem querer saber. Às vezes te faz saber demais. Às vezes faz querer matar um puto.

REAÇÃO ARACNÍDEA. A REPULSA INSTANTÂNEA E VISCERAL POR ESTAR NA PRESENÇA DE ALGO ALIENÍGENA.”(STORMWATCH #42 Novembro/1996 ELLIS/RANEY/WOODS/RYAN)

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Mas a gente segue adiante, acendendo vela pra São Jorge e oferecendo banquetes pra Ogum. Não dá pra esperar dar sorte na hora de aprender as artes de Orunmilá. Pra aprender a ler tem que estudar. Tem que querer saber observar. Tem que estar interessado. Carece compromisso que por sua vez prérequisita comprometimento. Tem que sacar a diferença entre palavrinhas semelhantes. Tem que dar valor pra cada palavra dita ou escrita. Cada um tem de passar pelo fogo e pelo martelo da forja viva na tua mente. E sair reluzente como ouro.

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Minha memória imprimiu em minha retina a figura dum mago esculpido na pedra, com um dragãozinho pousado em seu ombro esquerdo e um demônio encolhido sob a sola do seu pé direito. O réptil acima representa a ancestralidade. O cérebro reptiliano é pra onde você vai quando tudo dá terrivelmente errado, é encolher-se, eriçar os pelos, arreganhar os dentes, preparar seu corpo pra atacar e urrar, urrar muito. Urrar por dentro. Urrar silenciosamente. Urrar com a força das mãos aplicada num nó. Só que o demônio abaixo também é um símbolo importante, uma representação sofisticada não do mal bruto, da violência reativa/involutiva da nossa alma/dragão, mas das vantagens que essa pode trazer. Cada demônio existente da vasta, possivelmente infinitamente plural goétia máxima que trazemos conosco guardada nalma representa o triunfo do mal na vida. E o domínio sobre o mal é o mais precisoso bem que um mago pode almejar. Exorcismo interior do desejo por poder. E a grande chave pra lidar com esses signos é perceber que tanto reptilzinhos quanto demonetes são fenômenos e manifestações internas, que operam de um campo bastante íntimo da alma, essa psiquê que nos anima. Tudo acontece adentro! Como naquele clássico brinde mexicano. Não há demônios exteriores vindo do nada pra assombrar vítimas incautas e bidimensionais surgidas numa introdução qualquer de filme B. Embora existam demônios exteriorizados. Nós cultivamos nossos demônios. Alimentamos nossas feras interiores. Como no conto dos dois cães que todo homem carrega na boca do estômago. Originalmente lobos ferozes hoje reduzidos a condição cínica de cães, fruto da troca da força e liberdade irrestrita pelo dilema posto entre obedecer e trair. Mas lobos ou cães, lá estão os dois barriga a dentro: Um é sua vontade de fazer o certo. O outro é seu ódio e seu medo e oportunismo. E qual é o que vence a luta? Aquele que melhor alimentado, reza a litania do clichê. Mas o que nutre melhor, o exercício da caça ou o recebimento da ração? E sobretudo, o que acontece quando uma das feras vence? O que ela faz ao subjugar seu irmão-gêmeo? Quais seus espólios? Do que se trata seu objeto de conquista?

https://brasil.elpais.com/brasil/2015/01/17/politica/1421497282_708080.html

HOMO SACCER FEELINGS

uma rapsódia careta em fragmentos epistolares da era virtual

Minha dor não é virtual. Não é material, mas dói como se fosse. Eu chegava pro doutor dizendo: Eram dores corporais, sabe? Na matéria do corpo. Não é um sofrimento profundo na minha alma, nem uma dor existencial, mas minha cabeça tronco e membros doiam como se eu tivesse caído do décimo quarto andar. Doiam meus quadris, meus pés e joelho esquerdo, meus pulsos e mãos (sobretudo esquerdas) meus ombros e pescoço. Minhas costelas. Meu peito. Mas a dor é uma coisa engraçada. Ela fere os sentidos já na essência da ideia – no seu ser – e mesmo quando bem descrita por alguém que possua uma grande consciência corporal, um interlocutor raramente quer saber bem das (suas) dores, sendo essa toda uma categoria de saberes sobre o qual é legítimo (quase que veladamente recomendado) conhecer só superficialmente. Até entre os médicos é raro uma real empatia para com o sofrimento. Aliás, sobretudo para os médicos, o sofrimento torna-se parte – pouco mais que os ossos – do ofício, de onde, em momentos de tédio e cansaço, pode-se arrancar até algum prazer e divertimento, um gozo secreto com a agonia alheia, como os enfermeiros e doutores de Machado. E convenhamos, o individualismo liberal anda num nível em que o único a realmente se impotar com sua dor é teu torturador. Só ele teria motivo. Enfim, há as dores extremas que te levam prum Pronto Socorro afim de imediatamente saber/resolver o que que tá ruim. Mas existe a dor cotidiana também. Aquela dor que, como o tempo, aparece e se instala no seu corpo, como um sem-teto ocupando um edifício em desuso. Já que você não tá fazendo nada com esse quadril, vou injuriá-lo um pouquinho: PEI! Já que a tua costela não serve pra nada, toma aqui uma dor crônica latejante: PAU! NNNG…! Já que teus ombros tão aí de bobeira tudo melancólico, toma aqui a torcicola monstra na nuca: e TOME-LHE de novo! AARGH!! E no fim do dia, creck, crack, crock tudo ao mesmo tempo mistriturado, isso sou eu me alongando no batente da porta antes de ir dormir, dotô… Tem cura?

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Mas curandeiros da floresta muito mais experientes do que qualquer especialista ganancioso de merda com diploma de mede-cu já me confirmaram o mesmo diagnóstico: sofro de licantropia urbana. Entenda, o problema não é a licantropia, é estar na cidade com ela. A junção é que fode. A sobreposição de incompatibilidades. Os ciclos ficam todos desregulados. A transharmonização metamórfica fica longe de ocorrer com alguma naturalidade. Aquela coisa de só dói quando fico ereto ou quando uso o polegar opositor. Só dói quando me faço de bípede. Só dói quando abotoo a camisa, quando calço os sapatos, só dói, e muito, quando eu tento falar. Minha coluna nem sempre é feita para a verticalidae. Tenho a impressão de que correria melhor com ela na horizontal em determinados momentos do ciclo. Mas ciclo, que ciclo? Quando se olha no espelho e só se vê essa pele pálida esticada sobre um esqueleto magrelo, praticamente quase imutável. Resignado de suas maldições. A ironia da vida é essa, só quando bem aceitá-la serei sem sina, eu sei. E então soarão os sinos. E latirão os cinos. Mas ainda assim… me ocupo mais com o quanto dói do que com a cura propriamente dita. Lá ti da.

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Depois de um tempo comecei com a fantasia de que o enforcamento poderia me dar a estralada redentora no pescoço e coluna, num êxtase de shiatsu auto-erótico, a orgasmática estralada perfeita, e depois disso minhas dores estariam curadas pra sempre… Mas qualquer idiota sabe que buscar nunca mais sentir dor novamente na ponta do laço dado no fim duma corda nem sempre – ou quase nunca – ou sempre nunca significa de verdade cura… e qualquer licantropo que esteja nessa vida a 13 ciclos ou mais sabe o que acompanha essa parte final da narrativa quando embutida dum pra sempre: e “curadas pra sempre” e “felizes para sempre”… são as três palavrinhas que juntas naturalizam qualquer violência, que legitimam qualquer obsessão. Que coisa não?

Performar em minha pele. Já se fez essa pergunta: O que é performar em sua pele? Como se sente nesse papel? Como temos nos saído em nossas performances? Muito se discute sobre a questão de gênero e há toda uma sigla que eu mal consigo interpretar e entender para descrever e catalogar todas as fases e estágios de transição&fusão metamórfica entre os universos femininos e masculinos e o mesmo pode se dizer acerca de todas as diferenças étnicas estabelecidas e (re)forçadas política, cultural e economicamente de território para território. Questões identitárias são muita treta. Mas autobiografia só requer uma caneta.

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É preciso estudar sim. É preciso produzir conhecimento. Um viva às universidades públicas e a uma ou outra que não sendo ainda podem dizer que garantem um ambiente favorável, um ambiente fértil por assim dizer, para o debate e a experimentação científica. Mas é importante ressaltar que não é só assim que se estuda. É preciso resgatar o significado original de ESTUDAR para poder pensar EDUCAÇÃO como uma pauta da agenda político-social-econômica-cultural. Parece que esse significado se perdeu em algum momento, entre a mídia de massa prostituída com entusiasmo ímpar e a imensa e crescente lacuna entre intelectualidade e realidade social. Abstrações míticas nacionais substituíram o mais básico (re)conhecimento territorial. Chocaram aberrações míticas. Mito e antimito igualmente corrompidos desde a fase geracional, marcas degenerativas explicitamente transmitidas e sem salto geracional. Como infecção, não. Como câncer. Monstros afinal. Uma nação inteira de monstros.

Fala-se com a mesma naturalidade e propriedade do sertão baiano e da gema de nova iorque sem nunca ter pisado em nenhum dos dois. A real noção do que é o espaço deixou de ser tão importante. Estamos todos agora unidos pelo espaço virtual. O que significa que não há absolutamente NADA nos unindo afinal. Nunca estivemos tão desconectados, da vida, uns dos outros e de nós mesmos. É preciso reconhecer essa desconexão. Por mais que ainda exista um ou outro carroceiro, trecheiro andarilho, catador de latinha, professor universitário ou da rede pública, morador de lixão, punk de ocupação, trabalhador sem terra, sem teto, trabalhador favelado, primitivo urbano, músico/artista de rua, toxicômano half-zombie homem-santo do centrão, cacheiro viajante, xamã evangélico doidão que num prega nada com nada e dorme com anjos na sargeta e tem um cachorro vira-lata chamado salmos e outro chamado curíntius e, pra além da cidade, tudo quanto é marinheiro, caiçara, ribeirinho, quilombola e pescador que ainda não esteja nas redes sociais, o que parece é que o impacto da lógica que estas impõe sobre seus usuários se desdobram com alcance para atingir as relações fora delas. Lowering the bar. Baixando os padrões pra todo mundo. Retrocedendo os tempos das próprias discussões. Já pensaram o tempo que vamos perder, nas nossas possibilidades de diálogo, pra comentar as bostas da família bolsonaro e seus seguidores? Já gastei duas sentenças pra isso e me sinto um completo imbecil. Poderíamos estar falando de quê? É preciso estudar sim, mas parece que já não faz (ou fará) tanta diferença.

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Em 2018 eu aprendi coisas importantes sobre EDUCAÇÃO sobre minha relação com a MAGIA e sobre a VIDA e quero compartilhar algumas ideias convosco.

Não garanto nem prometo que direi tudo o que aprendi e nem tenho a pretensão de ensinar nada, mas seria mesquinhez da minha parte guardar esses pensamentos pra mim. E tenho certeza estamos todos fartos de mesquinharia.

Já que já citei o bostalhão do nosso próximo <negação do fato – reviso o texto em 2019 e me obrigo a dizer que sim ele é –> presidente; vou nos situar historicamente de forma apropriada: É final de 2018. Brasil. Pior ano da história. Conhecido internacionalmente como WORST YEAR EVER como dizemos aqui em sumpaulo. Nós brasileiros, se não me engano o terceiro ou quarto país mais católico do planeta (acho que a ordem correta seria Vaticano/Itália, Ilhas Caimãs, Japão e Brasil ou Vaticano (demais Itália não inclusa), Espanha, Brasil e Japão ou alguma coisa assim. Enfim: Cristãos pra caralho. E temos agora um messias pra chamar de nosso! Olha que beleza! A espera acabou! Hora de olhar os judeus e muçulmanos nos olhos e dizer “Viu?! Num falei?!?!” o messias finalmente voltou! Lá está a nova encarnação do salvador e sua elegante bolsa de cocô. Dizem que ele vai manter a bolsa pra sempre. Virou uma assinatura estética, como se ele fosse um vilão de gotham city. Dizem que os memorandos e dossiês federais ultrasecretos e superimportantes não raro aparcem com manchinhas fecais nas bordas das páginas. Dá pra farejar as pastas de longe.

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Enfim, sua subida ao poder foi a segunda pior coisa que aconteceu nesse ano. Um ano de perdas imensuráveis. De derrota. De incêndios de acervos inestimáveis. De aniversários imemoráveis dos maiores desastres ambientais criminosos da história do planeta terra (sim 2018 foi outro dos lastimáveis anos em que a tragédia da SAMARCO ficou por isso mesmo e as lamas da barragem de Brumadinho soterraram também a memória do desastre anterior), de assassinatos políticos intencionalmente não elucidados (ao tempo da revisão temos mais de um Queiroz conectando as partes desse fraturado “país das fake news entre milhões de views e milhões de nem me viu” como registra Gustavo Alienígena Residente em início de 2019), de prisões e perseguições políticas e outros assassinatos que estão só começando (muito + q 80) e toda uma agenda de filhadaputagem sem fim que inclui a entrega gratuita de nossos recursos naturais pra iniciativas privadas internacionais e um acirramento do fundamentalismo patriacal bem tosco que carinhosamente chamávamos de coronelismo, um mix (di Genio essa referencia é à parte que te cabe desse necrofundio, morra velhaco morfético) incoerente de barbárie selvagem e culpa cristã e vice versa. E nada disso foi pior que a partida súbita e precoce de um amigo.

Mas vamos chegar lá.

Ou não.

Mas definitivamente faremos outro caminho.

Aquela linha temporal se perdeu pra sempre. Aquele universo onde você sempre encontra um karnov entre os autonomistas na paralisação dos professores, na mostra de cinema anarquista da matilha cultural, no show do iggy pop ou do cadáver em transe… esse universo já era, irmão. DEAL WITH THAT. Perdido pra sempre no devir de possibilidades que não se realizaram ou que não se realizarão novamente. Agora parece que ficaremos pra sempre a espera de nos perdermos de um jeito legal novamente. Como quando flanávamos embriagados pelo centro. Sem saber direito onde passaríamos a noite. Acordando de ressaca no dia seguinte e indo pra rodoviária do Tietê pegar um busão pra lugar algum. Pra descansar no mato algum tempo, trampar de garçom no interior. Buscar sempre o interior é difícil sem perder a perspectiva do centro. Às vezes é preciso dizer foda-se o centro, foda-se a cidade, foda-se esse sotaque pedante de quem acha que não tem sotaque e foda-se todo esse conforto e esse mal cheiro que só piora, e essa proliferação detestável de hipsters barbeiros fazedores de hamburgueres e cerveja artesanal e padrões de mímese acanhados e descolados ao mesmo tempo, foda-se essa voracidade pra ter razão, foda-se as exigências do tesão, impeditivas ou não, essa enxurrada de certezas e opiniões embasadas pela wikipédia e duelos de lacrações como aristocratas contando os passos de costas uns pros outros com seus mosquetões e orgulhos e vaidades irremediavelmente feridos e carregados. Às vezes sentimos uma necessidade brutal de parar. Parar um pouco. Pra não matar ninguém ou a si mesmo.

Então vamos ao que aprendi pela via mais dura. Está cada vez mais difícil não transformar cada texto numa espécie de autobiografia, primeiro porque trabalho com oficina de autobiografia já há três anos em sala de aula (sim professor de história da rede pública há quase quinze anos – há pelo menos cinco sem reajuste salarial e ao que parece para o resto da eternidade sem perspectiva de aumento, obrigado por perguntar – guarde as condolências para o final ou transforme-as em doações para os fundos neomitosóficos da biblioteca Roberto Piva – na qual inauguraremos a Gibiteca Bruno Karnov com os recursos que não gastarmos em drogas, vinho e no sustento das nossas crianças carentes), então a narrativa autobiográfica meio que flui no exercício da contextualização inicial, já me escapa no ligar e esquentar dos motores, eu, motor de palavras, minha vida é a fumaça que de mim exala, e se tem um aspecto da minha autobiografia que eu gostaria de comentar aqui afim de enfatizar meu ponto é o exemplo da minha avó Elza que fará noventa anos em janeiro de 2019 e que nesse ano bosta do nosso senhor cuzão de 2018 descobriu uma osteoporose em estágio tão grave que lhe garantiu fraturas por se abaixar pra apanhar uma casca de banana no chão ou por fazer força demais pra segurar um objeto pesado ou… enfim, o saldo no momento dessa redação é seis costelas e um externo quebrados por respirar forte demais (ela fraturou uma rótula da coluna em março de 2019, mas a velha é pike viking e passa bem). Bem, é necessário dizer para que você entenda quem é essa mulher que alguns anos antes uma complicação nas córneas lhe tirou a visão e que ela ainda assim era capaz de cozinhar uma panelada de feijoada praticamente sem ajuda, o tipo de velhinha que não para quieta por nada no mundo, que aprecia lavar sua louça e seu próprio banheiro e fazer suas coisas mil o que só não inclui também dirigir por conta duma prótese que substituiu suas rótulas originais há umas décadas atrás. Que sempre foi de foguetes nos pés. Que já na casa dos setenta se envolveu num acidente de automóvel na auto-estrada que deu perda total no carro e não machucou ninguém por milagre manifesto da Deusa. Meu avô foi buscá-la na estrada onde estava com a polícia rodoviária com um carro emprestado e foi ela que voltou dirigindo. Nunca teve medo nem por um instante e parece que essa característica se estende por toda sua vida, para frente e para trás. Uma mulher que na ocasião da morte de seu marido, meu avô, resolveu escancarar a caixa-preta das memórias compartilhando cartas de amor e histórias no mínimo inusitadas (como por exemplo quem eram os amigos do meu vô que davam em cima dela, ou por quais ela se interessou… ou que trabalhava como costureira madrugadas adentro sob efeito de anfetaminas com uma amiga, também costureira que obtinha as chamadas bolinhas de seu marido que era caminhoneiro que costumava usá-las para dirigir longas distâncias sem dormir… ou de como foi perder sua primeira filha, Nilza, depois do que teve outros seis entre eles meu pai. Novamente sem sinal de medo ou hesitação). Independente, ativa e orgulhosa. Nasceu há quase noventa anos atrás em um navio vindo da Alemanha. Sua mãe, cujo nome de solteira era Matilde Adams, fora engambelada por um cigano polonês chamado Brün e acabou casada com um zé ruela sem um níquel achando que desmanchava seu noivado com um proeminente médico austríaco por um charmoso fazendeiro e investidor aventureiro com muitas terras no brasil. A realidade é que ele não tinha muitas terras no brasil ou qualquer coisa além das roupas do corpo, um maço de baralho, um chapéu surrado e sapatos furados. Na verdade, em termos de posses, ele tinha muitas dívidas na Polônia. E muitos cabras invocados querendo cortar sua garganta na Hungria. E parece que não tinha ninguém que o conhecesse na Alemanha. E entricheirar-se no rabo de saia de uma jovem esposa grávida era o melhor disfarce pra um vagabundo errante cuja memória só garante como características o interesse por jogos de azar e o mal caratismo. Minha vó Elza conta que já testemunhara muitas vezes sua mãe Matilde corrigir pessoas preconceituosas que, querendo simpatizar com seu drama de mãe solteira abandonada justificavam a canalhice de seu desaparecido marido pela sua etnicidade afirmando ser coisa não de homem covarde de qualquer tribo, mas algo típico e esperado de um cigano, mas Matilde era implacável em sua didática germânica, constrangia-os explicando que seu marido fora antes expulso de sua comunidade cigana por ser um calhorda biltre covarde de merda, o que prova que os ciganos possuem um excelente tino pra julgamento de caráter. Enfim, cigano ou não, era só mais um cara se mandando, uma história deveras comum num cenário onde isso quase nem causa constrangimento, um homem reservando nada além de uma linhagem fantasma e esquecimento para sua mulher e filha. Era com desprezo que Matilde relembrava que não precisou de muito para que Brün deixasse sua recém-formada família para desaparecer nessas veredas de cá, dizia que bastou estarem ancoradas e estabelecidas nessa terra maravilhosa de assassinos onde ninguém conhece realmente ninguém, nas suas amargas palavras “bastou estar com a barriga cheia para partir”. Reza a lenda também que minha bisavó Matilde recusou a cidadania alemã por vergonha de admitir ter sido enganada, e sustentara a mentira de seu marido por muitos anos depois de seu desaparecimento, algumas vezes tirando o parco dinheiro pra sua subsistência e de sua filha, minha avó e seus irmãos, para comprar sofisticados vestidos de veludo e enviá-los de presente para suas irmãs no velho mundo afim de ratificar a invencionice de Brüm, acompanhando os presentes de cartas onde contava que estava muito bem financeiramente, governando em suas terras nas fazendas imaginárias dessas selvagens paragens brasileiras. Esses documentos epistolares, lá, narravam uma properidade latifundiária ficcional, mas tão verossímil. Minha vó até hoje ou antes minha bisavó, claro, nem se preocupam com essas supostas narrativas a partir de documentos e papeis, narrativas a partir de fontes mortas. Pra elas é sua voz quem narra. E pronto. Pra minha vó o ponto chave da narrativa é sua própria mãe tirar o alimentos dos filhos pra sustentar uma mentira, única e exclusivamente pelo orgulho. Pra não ter de admitir jamais. Ao passo que aqui, entre os selvagens, não se acanhava tanto pra contar as picaretices de Brün entre dentes cerrados e cuspidas de desprezo no chão. Como um anti-brinde à sua desmemória.

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Quando dizemos que somos feitos de nossas narrativas isso significa também que somos de acordo com o interlocutor. Que podemos ser mais de uma coisa, de uma pessoa, de uma perspectiva, de um personagem. Imagine que minha avó cresceu nesse contexto. E teve uma vida relativamente boa de que muito se orgulha e pela qual ainda, às vésperas de seus noventa anos, exibe e conserva apetite. Mas sua trajetória foi marcada por incomensuráveis ordálios. Parando pra pensar, o choque de perder sua primogênita pra pneumonia foi um baque psicológico e tanto e todos os desafios físicos que se seguiram, uma longa estrada que parece sintetizar-se agora na mais emblemática aceitação da dor. Hoje, cega e com ossos do Mr. Glass, é esperado dela que fique em repouso todo o tempo, para que evite novos machucados e para que as fraturas possam se recuperar, mas a verdade é que provavelmente isso não acontecerá, então na prática, com implacável didática, a verdade é que ela deve se acostumar a essas fraturas. Ela deve acostumar-se a conviver com suas fraturas. Deve acostumar-se a viver fraturada. E assim ela faz. Ela ainda cozinha. Ainda limpa seu banheiro e lava a louça. Brigando com a família inteira que insistem “dona Elza a senhora precisa repousar!”…

Mas a dor não repousa nunca ela diz. A dor já é minha amiga ela diz. Aceitar a dor é metade a menos do sofrimento ela diz. Escutei isso e tentei aprender algo. Não sei se consegui. Continuo sem saber como viver ou conviver com certas fraturas…

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Buscar formas de lidar com a dor. De aceitar as rupturas mais íntimas, mais estruturais. Buscar caminhos pra trilhar nesse imenso non sense escancarado. Nesse circo de loucos sem talento. Respirar e seguir adiante.

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Tiveram algumas performances que me garantiram a sobrevivência. Que me arrancaram do parapeito (nossa eu previ aqui os versos do gustavo em area 51). Que literalmente salvaram minha alma nesse ano. Devo ser grato a elas. Vou mencionar algumas tentando enfatizar a questão da música, a importância da música. Esse instrumento mágicko, essa ferramenta pro transe. Essa linha de costura unindo mente profunda e self confuso. Trazendo as profundezas pra tôna. Revolvendo o leito barrento do espírito. Desenterrando as coisas que achamos que não sabemos. Resgatando como quem pesca uma bota velha do fundo do rio a sabedoria que não sabíamos que tínhamos. A vara enverga com o peso, a barriga animal já imagina um filézão de peixe, quando a botina velha emerge na ponta do anzol sua reação é odiar o presente do rio. Mas as vezes ela serve no seu pé, sabe? As vezes sua sola desbeiçada te conta uma história sobre as profundezas. Sobre o pé do soldado que a perdeu. Sobre a companhia de garças, jacarés, sucuris e tucunarés. Sobre o fluxo da correnteza e a vazão em tempos de estiagem.

A sincronicidade me trouxe isso em abril de 19, na ocasião dessa revisão. É como se a lírica beretta oracular me diparasse uma previsão baseada em minha vó e bruno karnov. Eu sempre conviverei com a possibilidade de sua não-morte. Sempre vou imaginar como poderia ter sido. Se naquele último instante ele pudesse decidir que não. Talvez isso seja um desrespeito pra sua memória, mas se for, acho que ele gostaria que eu assim fizesse. Dói mas estamos aí. PS: Obrigado Gustavo.

“A costela quebrada me avisa quando respiro A favela e a quebrada te avisam quando me inspiro Tiro do fundo do peito, dropo com muito respeito, a frase que muda a escolha de alguém no parapeito”

Black Alien, Área 51 – Abaixo de zero: Hello Hell- 2019

Sei que minha mente profunda possui um cenário bastante rústico e primitivo, com muito cheiro de mato e orvalho e ruido de bicharada e insetos e pássaros e a presença de grutas e cachoeiras e trilhas fechadas que quase não se nota e que rompem suas roupas a medida que se avança por elas. Um lugar de paz onde se possa ser devorado ou viver bem. Literalmente devorado, não usurpado e descartado que é o atributo que damos pra ser devorado na cidade. Mas antes de chegar nessa terra inóspita e imaculada que é a paisagem idílica da minha mente profunda, eu tenho um ponto de parada, uma espécie de estação de despressurização, como os mergulhadores de grande profundidade que precisam parar e esperar a descompressão de seus corpos antes de retornar à superfície. E no meu caso essa parada é uma estação de rádio. Onde parte da minha persona fragmentada é um ermitão isolado que transmite sem parar suas músicas prediletas e comentários aleatórios que incluem memórias, impressões, linguagem caótica e filosofia espontânea freestyle… Nessa fantasia eu sempre consigo recomendar uma canção-leitura que encaixará perfeitamente na lacuna do receptor, que o preencherá e o nutrirá e o encaixe será sublime em sua perfeição como uma pecinha de tetris limando várias camadas ou como Larry Bird fazendo cestas de três pontos. Esse acerto acontece quando uma mente profunda fala pra outra. Mas não raro a mente consciente dá um toco na mensagem e despreza o conteúdo, joga fora o presente dizendo nah… nem xapralá… e frustrado o radialista ermitão permanece só em sua caverna, seu bunker na floresta de sequóias de me(n)tal rodeado de discos e histórias em quadrinhos e livros estranhos e manuscritos interminados de biografia poética.

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Então imagine que eu citar essas performances serve pra traçar um desenho estilístico, um sigilo imaginário. São alguns pontos que se você tracejar uma linha ligando-os o resultado será uma chave capaz de invocar forças subterrâneas para salvar sua alma da divina culpa e da sagrada depressão. Algo que você não percebe que está se aproximando até que já esteja escancarado na sua cara, como a palhaça Rubra cantando Baby Butterfly do Sepultura. Já vou baixar meu jogo, explico a coerência da jogada mais tarde como puder: Tudo começa em 31 de Agosto de 2017, no Cine Jóia, vendo DJ Jurássico e Lee Scratch Perry, depois pulamos pra 2018 quando vi Ken Boothe dia 14 de Setembro; Nick Cave and Bad Seeds dia 14 de Outubro, Jayke Orvis & Mikey Classic and the Bullshit Brothers em 10 de Novembro, Alice Ruiz, Alzira E, Anelis Assumpção, Ná Ozzetti, Estrela Ruiz Leminski e Orquídeas do Brasil homenageando Alice e Itamar no 20 de Novembro e a apresentação histórica de Os Os Otávios em 20 de Dezembro pra fechar o pentagrama de 6 pontas invertidas.

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Estar presente pra ver isso, garantiu que esses alquebrados ossos permanecessem juntos pra escrever esse relato agora. Agradeço axs amigxs que me trombaram e acompanharam nesse processo, que compartilharam comigo essa alquimia, essa transmutação, essa metamorfose, essa troca de pele. Caralho esse ano foi muita treta. Gratos a todos esses artistas e aos tantos associados por tecer uma tênue malha de vibração sônica capaz de manter o universo coeso quando tudo mais ruía miseravelmente. Agradeço aos amigxs que ajudaram a costurar os pedaços desse frankenstein e (re)animá-lo com descargas elétricas e gargalhadas dantescas e caronas e empréstimos de grana e doses inusitadas de cachaça, cerveja, conhaque, vinho e coisinhas engraçadas pra se aninhar debaixo da língua e ver o que acontece. Pôr um ácido bem onde se guarda os beijos. Engatilhar cuspidas lisérgicas. Preparar uma saliva corrosiva pro ano que vem. Uma saliva que lubrifique a transformação do mundo. O rito é a faxina. A limpeza da casa. Arrastar os móveis. Tirar o pó com panos úmidos. Arrumar a papelada. Jogar fora o lixo. Fantasiar que aquele saco preto onde se atira os restos é como uma grande fogueira acolhendo cascas de cebola, de ovos, embalagens, notas de compras, correspondências inúteis, fraldas e papel higiênico usados, material publicitário e propaganda comercial. Tudo queimando na grande fogueira onde iremos renascer. A faxina mágicka acontece simultaneamete dentro da mente e dentro da casa. Usar seu lar como boneco vodú da sua psiquê profunda é a chave. Limpe sua casa. Limpe a si mesmo. Organize-se. Precisaremos de você organizado ano que vem, maluco! Não caindo pelas tampas. Não resignado e amargo como minha velha bisavó morta. Não isolado na porra do seu computador/celular/tevê, ô caralho! Não seja capturado pelas (pa)redes sociais ou devorado pela bocarra negra da tela. Não se intimide pela burrice ostentação e todo esse povo miserável de dar dó ao redor. Fique vivo e afim por favor! Se ficamos, temos que lidar com o mundo. E lidar com ele é construí-lo. Ceis tão cansados? Eu também. Refazendo a refazenda no entanto, sabotando casa grande e subvertendo a senzala. Sem zelo. Ninguém quer nosso bem exceto nós mesmos. Convivendo com a dó e com a dor. Como minha vó. Como o lobo comendo a vovozinha e vestindo seus pijamas.

Mas o tempo passa e a dor não. A tragédia é elaborada mas não vem nenhuma compreensão.

Eu já sabia.

Eu avisei.

Eu previ.

São sentenças que não aliviam a confusão.

Ritual dos 4 Ventos & dos 4 Gaviões

para Marco Antônio de Ossain

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(& bruno karnov)

“Eu trago comigo os guardiões dos Circuitos celestes.”
— Livro dos Mortos do Antigo Egito —


Ali onde o gavião do Norte resplandesce
sua sombra
Ali onde a aventura conserva os cascos
do vudú da aurora
Ali onde o arco-íris da linguagem está
carregado de vinho subterrâneo
Ali onde os orixás dançam na velocidade
dos puros vegetais
Revoada das pedras do rio
Olhos no circuito da Ursa Maior
na investida louca
Olhos de metabolismo floral
Almofadas de floresta
Focinho silencioso da sussuarana com
passos de sabotagem
Carne rica de Exú nas couraças da noite
Gavião-preto do oeste na tempestade sagrada
Incendiando seu crânio no frenesi das açucenas
Bate o tambor
no ritmo dos sonhos espantosos
no ritmo dos naufrágios
no ritmo dos adolescentes
à porta dos hospícios
no ritmo do rebanho de atabaques
Bate o tambor
no ritmo das oferendas sepulcrais
no ritmo da levitação alquímica
no ritmo da paranóia de Júpiter
Caciques orgiásticos do tambor
Com meu Skate-gavião
Tambor na virada do século ganimedes
Iemanjá com seus cabelos de espuma.

– Roberto Piva

Final do ano me acertando várias memórias como se fossem pedradas. A figura de linguagem é tão vívida que lembrei de uma briga de infância que eu tomei uma pedrada na têmpora e demorei a beça pra entender de onde veio, quem tinha atirado… caralho, pra entender o impacto como agressão eu já demorei… foi só um tuc na cabeça, uma pontada dolorida e um pensamento vago tipo de onde caiu essa pedra? Nos instantes que precederam o surgimento dos agressores no meu campo de visão. Éramos como pequenas tribos bárbaras, não? Éramos como visigodinhos da vizinhança trocando pedradas e revistas de mulher pelada. Sei lá… fiquei pensando que agora as memórias estão derretendo com o calor e se moldando aos sentimentos latentes mais latejantes… e é como se eu estivesse convosco, e com o bruno, naquela época de briga na rua e brincadeira no pé do córrego toda semana. É claro que eu nem imaginava nada do que me esperaria na época e o grande encantamento da infância é justamente cagar pro futuro, mas as coisas vão se misturando… e se nosso querido karnov está habitando pinturas de Manet bebericando absinto em telas de sei lá quanto tempo atrás, porque tb não memórias deslocadas quase mas não tão antigas… porque não comigo em cada performance memorial dessas? Por que, sabe, ninguém sabe ao certo como as vibrações sonoras agem no cérebro que é quase todo feito de água e em cuja fluidez desmancha o tempo, dissolve-o como uma colher de açúcar no café quente, esse rodamoinho misturante funde percepções e tangenciando esse movimento dançam as epifanias, emergem as sabedorias profanas, cantam as vozes dos mortos e contam histórias os ancestrais. Mas, sabe, somos nossos ancestrais! Não só porque eles vivem através de nós, mas também porque aquilo que já morreu de nós tornou-se nosso ancestral. Aquele modelo d´eu mesmo da década de noventa. Aquele jovem que já não reconheço no espelho, aquele moleque é meu ancestral. E foi ele quem me ensinou que pra entrar em transe não é preciso cruzar as pernas que nem um iogue e fechar os olhos e ficar dizendo oooommmm e tudo… é só desintonizar sua consciência racional. Parece mais com tirar os olhos de foco pra ver aquelas imagens em 3D que entraram na moda umas décadas atrás. Pode ser feito enquanto se caminha. Enquanto se escuta música. Enquanto se escreve ou pinta ou desenha ou enquanto você faz a faxina em casa ou fodendo. Aprenda essa sobre o transe e sobre seus usos para encantamento da mente profunda: É mais fácil do que parece.

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Pausa. A racionalidade reprime a imaginação. Se lá estivesse o brunão eu talvez não tivesse apanhado tanto no desdobramento daquele conflito. Talvez tivesse me saído melhor nessa briga… talvez tivesse me divertido mais. Mas pause a pausa! Odeie seu ódio! Foda-se essa racionalidade brochante, vou fodê-la no cuzinho. Não é hora para “e se?”s! É hora de reestruturação. Organização. É hora de fortalecimento emocional. Palavras, ora palavras! Não me venha despejando suas bostas com suas palavras e realidade comum compartilhada. Eu conheço as palavras muito bem! Sou um experiente catador de palavras. Apanho ideias preciosas como corvos que levam objetos brilhantes para o ninho. Tenho que repetir isso pra mim mesmo por causa das marés de comentários infelizes que vêm e vão arrastados como vazamento de óleo no oceano plástico das redes sociais.

Espero que tenha ouvido o álbum do black alien até aqui (meia hora rapidinho)… esse som vem na sequência:

Agora no finzinho do ano eu fiquei entrando no fb pq devo cumprir horário no expediente de funcionário público e não tenho NADA pra fazer – escolas vazias, horário pra cumprir, gestão pedagogicamente desinteressante e educacionalmente desinteressada, colegas alquebrados resmungando pelos cantos, demandas burocráticas – considerando esse cenário, que melhor atividade se não chafurdar no chorume da linguagem, quase como uma autoflagelação? Em alguns anos no futuro os professores estarão usando algum subproduto do crack pelos cantos da escola nessa época do ano ao que tudo indica. A falsa saciedade de autodestruição para um junkie irrecuperável à distância de um clique. Como fazia alguns anos que eu não tinha uma recaída dessas no universo feicebukakiano, isso engatilhou uma série de lembranças, armei-as como a bombas… ativei-as como quem esquece o gás do forno ligado e sai pra comprar cigarros. Como Bombita e sua vingança. As memórias são então como cães latindo sem parar. Irritando, ofendendo, provocando. Destruindo meu sono, minha capacidade de sonhar e descansar. A missão do cínico é acabar com o descanso dos outros. Ferir com a voz. Incomodar. E quem são os cães que uivam sem parar? Estão adentro ou afora dalma? Lembrei de novo da mostra de cinema anarquista que teve na Matilha Cultural, se não me engano em 2014… eu assisti ao documentário do CRASS com o brunão… depois fomos pro bar e o papo foi longe… nós dois já tinhamos visto esse doc no youtube… falamos sobre cinema punk essa coisa que nem sabíamos se existia ou inventaríamos… hoje já foi inventado, não por mim, mas o karnov tem seu DNA impresso na criatura. O outro filme da mostra foi sobre um locão que contrata um assassino pra tirar a própria vida.

bombita

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Acho que a perda desse amigo foi, além de tudo, uma perda de lastro. Uma perda de direção. Eu já não suporto várias discussões porque não sei muito bem como responder ou me posicionar. Eu sinto estar meio a deriva agora, boiando ao sabor da maré da minha resignação. Me esvaziando de palavras. Ironicamente e contraditoriamente compartilho esse prolixo desabafo. Não que eu queira atribuir a esse cara a pecha ou a responsabilidade de capitão da minha nau argumentativa, ele certamente recusaria veementemete essa forma vulgar de autoridade, mas não há como negar que ele inspira (me recuso a por o verbo no passado) não só a mim com o alívio de sua (ex)coerência. Podia parecer incoerência, mas era coerência expandida. Uma inspiração e um alívio por reconhecer nele um irmão de armas na grande guerra antinormativa contra as ideologias e suas armadilhas. Alguém com mais compromisso com o diálogo e com a dúvida e com a incerteza e com as pessoas que coabitam as palavras do que com futilidades como opinião política e reconhecimento de autoridades morais, intelectuais, artísticas ou o caralho que te valha. A primeira vez que nos encontramos, por intermédio de Regito reginárduo professor regis (mais uma encantada produção com parapapaitrocínio antidirigido da Carlitos Produções Artísticas S/A Ltda uma empresa que generosamente remunera com caos seus funcionários) e na ocasião ficamos horas debatendo aspectos filosóficos das tartarugas ninja.

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A saudade bate pesado aqui. Pedrada atrás de pedrada. Latidos que precedem mordidas que vêm sim. A memória late E morde. E morde forte. Não querer, não fazer, não falar, não argumentar, não partir… são decisões imbecis que permanecem invisíveis e despercebidas ocupando meu cotidiano. Contra a depressão: pressão. Muita pressão. Eu sempre falei que não sabia trabalhar sob pressão. Mas sei. Aprendi. Acho uma merda, mas aprendi. Não tenho certeza de que esse engajamento automático em atividades cotidianas seja de fato uma estratégia efetiva contra a depressão, mas tem me garantido a saída da cama nas duras manhãs em que desperto e me lembro do que foi esse ano de 2018, diacronicamente pesado e arrastado e angustiante e repleto de impotencia e ressentimento. Mas o universo me reserva pequenas doses de caos mágicko de tempos em tempos, como se fosse um sistema imunológico sincrônico, colorindo meus dias com tons intrigantes. Fazendo no meio da rotina um dia ficar ligeiramente diferente de outro e assim me despertando o interesse neles… por que certas coisas acontecem? Por que certas coisas acontecem assim? Nesse tempo, nesse encaixe de temporizações tão precisa quanto imprevista? Essas coisas fazem a consciência coçar. Me fazem querer estralar os ossos da cisma, me convidam a alongar os músculos do pensamento.

Tipo, coisas simbólicas habitaram meu cotidiano em 2018. Não que isso não acontecesse antes, ou continuasse depois, mas nunca com tanta profusão. Esse ano, por exemplo, eu efetiva e literalmente fui mordido por um cachorro de rua. Desses enfezadões que protegia seu digão amigo. Passei perto e o vira-lata me avançou na cintura. Sem dó. Fiquei com um hematoma até. Nunca tinha acontecido antes assim. E mais emblemático, foi voltando pra casa do primeiro dia no trampo novo, como professor mediador, o que conferiu ênfase ao caráter simbólico da ação. Eu já tinha sido mordido, várias vezes, mas nunca por um vira-lata de rua. Como interpretar algo assim? Sem culpa e sem drama, lógico. Mas que foi loko foi. Logo eu que tenho um longo e conhecido histórico de excelente relacionamento com cães de rua (muito melhor do que o que tenho com pessoas, com toda certeza!). Uma mordida na cintura, na lateral do corpo. Bem no meio do recém-inaugurado mediador de conflitos. Se eu tivesse fugido teria sido na bunda. Se tivesse enfrentado teria sido no saco. Só passei pelo cão bravo e ele me mordeu na minha lateral. No meu lado. Me avançou e mordeu bem na minha indiferença. Tomei uma mordida na minha resignação. De um cão, descendente de Ampú, pelos brancos chamado de Anúbis, guardião dos caminhos subterrâneos que ligam os reinos distantes dos vivos e dos mortos. Caralho, que fita…

Mas é isso. Entre o mundo privado e o universo público, a conclusão geral é que o grande levante fascista foi a segunda pior coisa que nos aconteceu esse ano. Todo esse desfile de bundões achando que liberalismo é uma invenção nova. Todo esse exército de insensíveis querendo tortura e morte de vagabundo… e eu sinto que derrubaria um por um com as unhas e os dentes se estivesse com você do meu lado. Mas agora, estou como Macunaíma, todo cheio de priguiça pra lutar. Desmotivado. Querendo paz. Querendo sossego. Querendo te trombar por acaso naquele boteco da Augusta que tem um bonecão de papel machê do Raul Seixas pendurado na parede e beber até sair cambaleando.

Mas no dia seguinte, encarando minha face amarrotada no espelho, tento me desprogamar das ilusões que o olho busca. Não se iluda, você tem um plano. Você não sabe qual é com sua mente consciente, mas isso não invalida sua permanente construção. A racionalidade só aponta pro caos e pra confusão e pra ojeriza causada pela burrice ostentação e faz você pensar que tudo está perdido… mas esse é o lance com a magia, você planta dispositivos na mente profunda, enterrando sigilos na terra sagrada, e esquecendo-os os abandona para que se nutram do sumo de suas experiências e memórias. E desenvolvam raízes que os impulsionem para a superfície novamente, em busca de você, da sua mente racional distraída e da sua vida material. Então aquilo que você achou que estava esquecido era só um pensamento pegando impulso, afastando-se para depois correr e saltar na sua cara novamente. Não é como se eu conhecesse meus planos, mas sei que foram plantados e sei que estão voltando das profundezas como uma hoste de demônios excitados saindo de férias. Que venham. A mim meus X-Men.

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E no dia a dia dá pra ver os sinais desse plano desenvolvendo-se como um broto se desenrolando pra fora da terra e estendendo suas folhas em direção ao sol. Não tenho planos claros mas sou de carne e osso e tenho lá meus desejos, é claro. Minhas vontades e espectativas. Espero me transformar me adaptar me fortalecer fazer uma faxina interna na minha mente pra trazer fantasmas pra dentro e aqui os abrigar. Quero que o ambiente mental esteja limpo e confortável, quero oferecer minha cabeça como abrigo e lar. Quero levar os fantasmas pra assistir filmes e desenhos e apreciar exposições e curtir um som e brincar com crianças junto comigo. Quero dar de comer e de beber pros mortos. Quero estar a altura dessa honorável atividade. E a farei com orgulho e prazer.

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Ao meu redor, em casa, caixas abertas liberam um infinidade de coisas que estavam guardadas há tempo demais. Abro também um pote de vidro de geléia repleto de pequenos objetos íntimos que acumulei ao longo da vida. Minha criumba. Nesse jarro está minha alma. Gosto de guardá-la fora do meu corpo. Por segurança. Por precaução. Assim quando o patrão quiser enfiar seu desprezível haustelo vampírico pendendo gotejante da ponta dos seus probóscides, não encontrará nada pra sugar, só o vazio sagrado de quem fez a lição de casa e tem estacas de madeira afiadas enfiadas nas mangas e dentes de alho muquiados sob as golas da camisa. Limpo as coisas e as purifico com fumaça encantada de palo santo e canto. Música é essencial. Ela torna meu vazio de dentro imantado, cheiroso e confortável. Lembro da lição do bruxo jamaicano, velho homem-leão de juba rosa-chóque, o Senhor Arranhão, que me ensinou uma valiosa lição e na ocasião eu aproveitei pra prestar muito bem a atenção, e que disse com graça e lucidez: Rememba da Skull Cave. Skull Cave, the Firmament assim ensinou Lee Perry com seu xamanismo de sound sistem. Nossa cabeça é nossa caverna. É onde pintamos nossa história e onde abrigamos nossos ancestrais. Nossa cabeça é onde as coisas acontecem. Em tempos de desalojamento familiar, to com espaço de sobra na cachola pros amigo. Materiais e imateriais.

013

Esse diálogo tentava em vão vencer a vibração das caixas, mas se dissolvia na música, triunfando só na transmissão que se dá na missão final, ideia de medéia, sussurro de ishtar, cantiga de ninar de innana, escárnio circense de circe, atento aos dizeres de diana, sempre afinzão de dar uns cato em hecate, se ela me quiser… serei seu pra servir, só sirvo se vier, mas também sirvo de viés, bruxas e seu sabá, tecem sem parar, raízes – não a pseudorede virtual, acesso outernet permanente e irrestrito de banda bunda e cinta larga, pela força da telepatia por nós exercitada, entre irm@õs afinal, disse(mos):

– Isso é arte de caçar vamp! Porque acha que ele tem espelhos costurados no chapéu? Espelhinhos no boné mano! Identificação precede o ataque. Isso é pra matar vamp!

– Esses shows, essas apresentações artísticas de vampsláiah! Não são só músicos e deejays, são caçadores. Os soundsistems… são fábricas de produção em massa de água benta. Tudo o que é garrafinha saiu com água benta duma experiência dessa… como um show que distribui molotovs como cortesia no final. Lembrancinhas pra queimá injusto.

– Porra mas então e a água dos corpos que presenciaram a experiência? E quanto aos corpos que dançaram e suaram ao vivenciar a apresentação?

[entreolhamo-nos]

– Uoooooooo… ele tá formando caçadores de vamp por onde vai… em nível celular!

– E não é o único não…

Mas quem estará atento pra ouvir o chamado? Quem tem disposição de responder?

Tudo vem da africa. Todo mundo vem da africa. Tudo vai voltar pra africa. Esse é o fim da babilonia e do business.” – Lee Scratch Perry

Baudelaire sangrou na ponte negra do Sena.
……molécula procurando a brecha do
……….universo & suas trezentas flores
……………..assim é a lucidez,
……………..o swing das Fleurs du Mal.
……….completa tortura roendo a
……….realidade
…………………&
…………………..l’immense gouffre.
……todas as paixões / convulsões no
…………espelho. Baudelaire & ses fatigues
…………………rumo à pálida estrela.

o século XXI me dará razão
(se tudo não explodir antes)

O século XXI me dará razão, por abandonar na linguagem & na ação a civilização cristã oriental & ocidental com sua tecnologia de extermínio & ferro velho, seus computadores de controle, sua moral, seus poetas babosos, seu câncer que-ninguém-descobre-a-causa, seus foguetes nucleares caralhudos, sua explosão demográfica, seus legumes envenenados, seu sindicato policial do crime, seus ministros gangsters, seus gangsters ministros, seus partidos de esquerda-fascistas, suas mulheres navi-escola, suas fardas vitoriosas, seus cassetes eletrônicos, sua gripe espanhola, sua ordem unida, sua epidemia suicida, seus literatos sedentários, seus leões-de-chácara da cultura, seus pró-Cuba, seus anti-Cuba, seus capachos do PC, seus bidês da direita, seus cérebros de água-choca, suas mumunhas sempiternas, suas xícaras de chá, seus manuais de estéticas, sua aldeia global, seu rebanho-que-saca, suas gaiolas, seu jardinzinhos com vidro fumê, seus sonhos paralíticos de televisão, suas cocotas, seus rios cheio de sardinha, suas preces, suas panquecas recheadas com desgosto, suas últimas esperanças, suas tripas, seu luar de agosto, seus chatos, suas cidades embalsamadas, sua tristeza, seus cretinos sorridentes, sua lepra, sua jaula, sua estricnina, seus mares de lama, seus mananciais de desespero.

– Roberto Piva

Tem dias que você

se sente navegando

conduzido por sopros dos anjos

num mar do cosmos.

Tem dias que você

se sente navegando

num pedaço de merda conduzido

por peidos de demônios num mar de mijo.

O importante é não naufragar.”

Bruno Karnov conforme registrado por Bira outro amigo seu

quem registrou e me passou essas palavras

num panfletinho dobrado

no show dos´otávios

“nos somos os olavos, boa noite são paulo”

que eu queimei do lado de fora do muro do cemitério

no araçá

onde pixei & entoei assim

sob a carne de lua no açoite da rua cheia

KARNE KARNOITE

ENKARNOV

DESENKARNOV

INKARNOV

ANKARNOV

KARNOVALIS

SE VÁ

SAVÁ

SAUDÁ

KARNOVIVE

ASÈ

004 (6)

[PALAVRAS EM CAIXA ALTA DENTRO DE UM RETÂNGULO CHAMADO RECORDATÓRIO ANUNCIAM:

MESES DEPOIS…]

004 (9)

EPÍLOGO: A Desprezível Morte de 2018

Esse texto foi revisado em fim de abril de 2019 (os parênteses [r]atazanando aí em cima). Ainda mal com deus. Mas meu negócio sempre foi com deusas e toten. Esses não me deixam na mão. E Éris e Métis continuam usando o sofá de casa pra dar uns amassos ao som de Cátia de França e Amelinha o que é sempre uma visão inspiradora.

Organizo meu material de trabalho, um leque variado de exercícios disparadores de narrativas autobiográficas. Um dos meus prediletos, sugerido pelo genialíssimo quadrinista candango Gabriel Goés, parte da pergunta formulada por ele para iniciar sua oficina de Autobiografia e Zine [postar pte 3 baiacu e fazer hiperlinks aqui quando esses posts ficarem prontos] no projeto Baiacu:

“Me fale sobre a última vez em que você foi enganado…”

https://www.metropoles.com/colunas-blogs/zip/quadrinista-gabriel-goes-participa-de-projeto-com-laerte-e-angeli

Então, entre tantos eventos simbólicos, em 2019 tenho de conviver com o episódio de ter que lidar com um rato dentro de casa. Sim, mais essa. O que me gerou uma reflexão adicional que anexo adelante:

003

DOS MUITOS TIPOS DE ROUBO, O RATO

Assalto, invasão, arrombamento, roubo planejado, roubo arte, gatunagem arquitetada, golpes matemáticos, embustes teatrais, sequestro relâmpago, furto de mão leve, punga, trombadinha, a arte de batedores de carteira, ladroagem por intimidação – a chamada milícia ou coronelismo dependendo do contexto espaço-temporal -, espoliação, exploração de propriedade, dilapidação da força de trabalho, afano ou afanage. Agiotagem. Suborno. Chantagem. Existem muitas, muitas formas de roubar. Muitos tipos de ladrão.

Mas poucos tão desprezíveis quanto o rato. O rato se infiltra. Se faz invisível. Se esconde.

A voracidade é sua fraqueza: come tudo sem parar. Até veneno. Vai veno.

laerte moro rato

2018 – ano do galo dourado na encruzilhada.

2019 – ano do rato morto dentro de casa.

Ano de recolher um cadáver ainda moribundo de trás da máquina de lavar roupa. Onde o desgraçadinho fez um ninho, talquei? O rato fez seu ninho onde lavamos nossa roupa suja; ou seja, em nossa fala. Na nossa linguagem.

Soube que era um rato pelo seu cocô. Não que a bolsa de colo não tornasse óbvio. E a cara de fuínha ao redor daqueles olhos mortos de quem é chegado em chupar rola de vampiro. Sim Jair é você que descrevo. Seu nome traduz a urgência que temos em vê-lo partir. Já é hora de ir. Já passou da hora, Jair. Nosso Messias. Um rato. Deixa que eu sirvo o veneno em sua última ceia, deixa que eu bato os pregos quando for sua sexta santa. E na sua páscoa, se ressuscitar, vai ser tempo de ficar enterrado vivo pra sempre. Sem ascensão, nem queda. Só o escuro eterno da mortalha. Só a rave de vermes em seu rosto.

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Batizei o rato que entrou em casa de 2018. Tava já com vontade de estrangular alguma coisa com esse nome desde outubro passado. Foi minha chance. Peguei o nem tão pequeno ex-espécime de Níquel Náusea com náusea e aflição inconvenientemente reais. Usei uns pano de chão sujos e um saquinho plástico de supermercado entre minha mão e o gabiru em seus extertos finais. Através dessas camada de conforto e sujeira eu senti seus últimos pulsares. Eu ia apertar lentamente e sufocá-lo, um íntimo pequeno assassinato embrulhado com uma estética até misericordiosa. Mas aí eu comecei a me lembrar de 2018, e das coisas que aconteceram nesse ano e então eu conduzi o embrulho mórbido pra fora de casa imediatamente, num impulso, como quem corre pro banheiro antes do vômito, e uma vez na rua, noite vazia de céu nublado refletindo os tons ultra e sub violetas da cidade… & lá fora eu o esmaguei. E depois de novo. E outra vez usando as duas mãos. E então o joguei no chão e esmaguei novamente, com os pés, pisando repetidas vezes no cadáver de nosso cinzento e pequeno presidente. Como seu Madruga, muito puto, pisando em seu próprio chapéu. Esmagando esse invasor com o peso do ódio que ele mesmo criou cagando despreocupadamente em minhas coisas. E no fim restou aquela espécie de santo sudário feito de panos de chão e sacola plástica de supermercado. Carrefour, são os únicos portões que abrigam e acolhem aquela alminha descarnada. Estava ofegante no fim. A cidade ainda fedia, mas eu me sentia estranhamente aliviado.

Mas só um pouco.

E por quanto tempo?

Como uma área sombria num raio X uma pergunta me assombra:

O que precisa acontecer pra memória de 2018 já não parecer tão ruim?

083 (2)

Mas não é esse medo de ratos que impulsiona meus atos. Sou movido a buscar um dia melhor que ontem. Deixar os lugares melhor do que eram antes. Reorganizar os afetos, as percepções. “…vou seguir sem pilantragem vou honrar, provar…” fica ecoando como um mantra no fundinho da caverna. Astuto. Paciente. Gentil. Implacável. Como don Juan ensin ensinou não, desvelou, pra Castanheda. Testemunha ocular da perfeição pinkfloydiana e inacreditavelmente de vê-la ser vaiada em massa. Estado de sincronicidade permanente. Telepatia ostentação. Daí o ódi qui dá desse invasorzin duma figa. Não é nada pessoal com esse rato, mesmo considerando a invasão domiciliar. Mas acabou calhando dele representar tanto. Simbólica existência.

Ratos até são engraçadinhos correndo livres nas ruas, o problema é quando entram em casa.

Mas há quem diga que construímos nossas casas sobre seu império roedor. Que nossos dejetos são o mel que os atrai. Estamos ligados. Relacionados. Compartilhamos os mesmos espaços. Parceiros de comida, lixo e juras de morte. Meu luto me deixa mais forte. Minha queda me deixa mais calejado. Minha sorte me deixa mais duro. Minha perda me deixa mais concentrado. Sim eu confesso que me ressinto do que perdi. Confesso meu sofrimento. Minha lamentação. Mas não tive perda com que não tenha ganhado. Não tive dor sem aprendizado. Dos mais banais aos especiais. Estive só E bem acompanhado.

002

A vida dá voltas, caminhos de ratos mil, eu sei. Mas meu passos atravessam. Meu pixu atropela. Juggernaut das ruas. Fanático Anti-Fundamentalista(s). Esmagarei os vermes a cada oportunidade. Eu juro beibe. Se aqui virou o inferno, estarei entre diabos açoitando os pecadores. Sem descanso pra iludido. Tocando o terror em hipócrita e liberal. Nunca nunca silenciar diante do racismo, do preconceito, da humilhação. Identificar onde estão as dores e estender a mão. O AFETO É NOSSO FEITIÇO, li isso num pixo no Campo Limpo. Sabe, nada de altruísmo nisso, é que aliviar sofrimento psíquico alivia meu sofrimento psíquico. E as vezes o interlocutor só precisa que você segure um espelho um pouquinho, como quem ajuda o outro a se aprumar, a ajeitar o cabelo, a conferir os dentes. As vezes só é preciso um pequeno gesto de incentivo. As vezes basta um sorriso.

015

017

Em movimento, tio.

Sem dó, pai.

No envolvimento.

Compromissado, viu. Na missão.

Mas aqui não tem missionário não. Sua alma é assunto só teu.

Que meu assunto é a emancipação.

A Descolonização ainda não começou (como disse Vaneigem);

mas eu sinto que tá quase

Vai q vai

26 – 28.04.>>07.06.2019

mirage

OS MUITOS FINS DUMA (AUTO)BIOGRAFIA

as muitas faces do dr lao

as muitas fuças do seu ti cão

as muitas cabeças da hidra peçonhenta

que formam pilhas ao meu redor enquanto as decepo uma após outra

cheiro de bufa reptiliana no ar

poça de sangue que derrapa

garoa ácida

humores flácidos

eu confesso e te digo

eu amo meu ódio

meu ódio é velho amigo

verdade ta sem num ambiente onde

tempestade vem e piedade num tem

e nem ver num dá nem paguentá

sequer enxergá

quem tem gana & quem vem pra enganar

ou algo ansim

nem faz tanta diferença

ou não dá também pra ver a diferença que faz

a divergência que traz a coerência que jaz

a inconsequência da paz

séloko bra põe um jazz & xapralá

baixei a discografia dos legendários xeiqui cháquers

uma lindeza, um colírio no pandelírium

assisti nós ontem jordan píle arregaça

descobri a cura pro câncer parça pode pá

é o mapeamento e destruição dos diques energéticos

acerque-se das acéquias, desprezo pelas represas

muro de fronteira é túnel

o rio atropela

o mar trola

a onda invade

o nômade ocupa e vaza e ninguém nem viu

hobos are my heroes

a energia tem que fluir

as células têm que fluir

as emoções têm que fluir

as pessoas têm que fluir

os pensamentos têm que fluir

os presidentes têm que fluir

as ideias precisam fluir

& os fascista miliciano hipócrita filhadaputa

esses tem só que ir

mas você não

bru

não

vo

n..

bruxão

karnovive

& essa(s)

é

(são)

como é

pra me deixar

são

pra

você

Lonely days, sleepless nights,
And I haven’t had a bite.
That’s what it’s like
After you’ve gone.

These bad habits that I can’t kick,
Yeah I’m making myself sick,
Smoking, drinking
After you’ve gone.

And there’s reminders everywhere,
Your empty rocking chair…
Coffee rings left
After you’ve gone.

This place just ain’t the same
And I’m calling out your name.
Just an empty echo
After you’ve gone.

And I haven’t got no baby,
I’m going crazy
After you’ve gone.

https://twangsvillerevisited.blogspot.com/2018/12/legendary-shack-shakers.html

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REVOLTA JUSTIFICADA

Posted in novidades on outubro 28, 2018 by ti

DANCE LOBIS

BOA OLHADA

OSOUTROSTETA

QUANTO + CLAUSURA, + SE PLANEJA FUGA

QUANTO + OPRESSÃO, + SE PENSA EM VINGANÇA

QUANTO + EXPLORAÇÃO, + ARDE A REVOLTA

QUANTO + DISCIPLINA, + DESEJO DE INSURREIÇÃO

QUANTO + CONTROLE, + IMPREVISIBILIDADE

QUANTO + DOMINAÇÃO, + INSEGURANÇA

QUANTO + PROGRESSO, + DESASTRE AMBIENTAL

QUE CIVILIZAÇÃO NÃO ESTIMULA A VIOLÊNCIA?

QUEM AINDA CONFIA EM FARDA?

QUEM ABENÇOA AS BATAS?

COM QUEM SE CONSULTAM OS CURANDEIROS?

DEUS? UMA AUTORIDADE SUPERIOR?

QUE ACATEMOS OS COCTÉIS VOADORES!

ERGAMOS AS MÃOS EM LOUVOR À MOLOTOV, NOSSO PRESIDENTE.

SENHOR INCANDESCENTE DE NOSSOS DIAS

AMOR & DEVOÇÃO AO PAI FOGO

QUE ME ILUMINA COM AMOR & PRIMAZIA

STOAMARO RESISTE

SANTO AMARO RESISTE

que mundo estranho e desgraçado, onde a maior sensação de liberdade que se possa ter é no confronto entre escudos, entre sirenes e bombas de gás, na adrenalina do estopim dos tiros de revólver… risadas entre rajadas? seremos felizes? Haja naja pra tanto dedo cleopatral, haja desencontro pra tanto tremor transcronal, o passado volta pra assombrar, pra desenraizar o que há de público e de pessoal.

nosso sonho, prece e oração, a única utopia de nossos corações, é que, um dia, finalmente, o homem possa deixar os homens

quietos e em paz

2004

MINE DEMOCRACY

APÊNDICE:

BELLA CIAO

“Certos tempos clamam por certas canções Tais canções não envelhecem, pois se renovam nas medidas em que se fazem necessárias. Tais canções não se esvaziam de significado, pois seus significados pulsam com a mesma força das lutas que as reivindicam. Tais canções não tem donos, royalties ou autores, pois são compostas no anonimato heroico das lutas populares de emancipação. “Bella Ciao” é uma destas canções. Composta originalmente como uma canção de trabalho, cujo ritmo cadenciava – ao mesmo tempo em que denunciava – as péssimas condições de trabalho nas quais labutavam os colhedores de arroz na Região italiana de Modena, “Bella Ciao” tornou-se um hino da Resistenza italiana, organização armada que se opôs ao Governo fascista de Benito Mussolini e à posterior invasão Nazista no Norte da Itália, a partir de 1943. Composta por brigadas pertencentes às mais diversas tendências políticas como anarquistas, comunistas, republicanos, social-democratas, socialistas cristãos e monarquistas, “La Resistenza” atraiu membros de todas as classes sociais, sem distinção de idade ou gênero (as mulheres tiveram um papel fundamental na resistência antifacista. Algumas estimativas contabilizam mais de 35.000 combatentes mulheres), cujas diferenças eram subordinadas a um único objetivo: a derrota violenta do nazifascismo. Traduzida para dezenas de línguas e adaptada para os mais diversos estilos musicais, “Bella Ciao” transcendeu sua dimensão local, tornando-se um hino de combate ao fascismo em todo mundo. É uma canção de autoria anônima que nos conta a história de um partigiani – um guerrilheiro antifacista – que atende ao chamado da resistência para lutar contra os invasores. É uma canção que descreve o adeus de um combatente à sua companheira, levado a sacrificar sua vida em favor da liberdade no combate ao fascismo. “Bella Ciao” na fala de um tempo menos cínico, quando a flor que cresce sobre a cova de guerreiro insta as gerações que o sucedem tanto a nunca deixar de acreditar na construção de um mundo mais justo e humano, quanto jamais levantar a guarda para a besta raivosa do fascismo. Este é o momento que vivemos. O Neoliberalismo consolida violentamente o seu projeto de precarização nas periferias do sistema, arrasando direitos e pauperizando a vida de bilhões de seres humanos; seu gigantesco aparato ideológico é mobilizado para impedir sequer o sonhar de mundos alternativos e possíveis, ao mesmo tempo em que nos impõe o miasma temporal da mercadoria, que nos nega passado ou futuro; sob a lógica irracional de reprodução do Capital, adentramos no antropoceno, impotentes coletivamente para impedir uma hecatombe ambiental que se mostra cada vez mais inevitável e cuja realização se encontra gravada nas contradições insolúveis de um sistema claramente insustentável. E como se não bastasse, assistimos novamente à ascensão do nazi-fascismo em escala global, um processo que acompanha políticas de repressão em massa à ações resistentes das camadas sociais afetadas pelas necropolítica liberal. Mais uma vez o Capital mostra que não somente prescinde da Democracia, como a enxerga como um obstáculo, algo a ser violentado nos interesses de curto prazo, seja pela bota, pela repressão, pelo fuzil ou pela toga. Mesmo as políticas de governo mais moderadas que apontam para a defesa dos direitos sociais são varridas por golpes jurídico-midiáticos, apoiados e defendidos por hordas fascistas cujos ódios de classe, gênero e opinião produzem um número cada vez maior de vítimas entre mulheres, LGBTs, jovens negros e líderes de movimentos sociais. É justamente quando o fascismo entra no cio, disfarçado pela sobriedade das togas, que se faz necessário relembrar as antigas lutas e canções. Cada uma delas nos ensina a partir das gerações passadas que será apenas na superação da sociedade de classes que poderemos finalmente sepultar nossos monstros. Ouvir “Bella Ciao” é reafirmar a força de nossos ideais e reafirmar que a não daremos guarida ou trégua ao discurso odioso do Fascismo. Non Passarán! 1312 Por Pedro Toledo.”

FRAnKEnMoNStRo vs GAMBLER_GOD, POEMA PASCOAL e outros fragmentos toscamente costurados

Posted in novidades on outubro 28, 2018 by ti

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A película da realidade é o alvo primário – falar em transformação deve passar pela relação que travamos com os imaginários gerais de MEMÓRIA; seja ela coletiva (social, cultural) ou individual (particular, íntima); & como ela (a memória) por sua vez se relaciona ou é constitutiva da identidade dos entes, dos seres vivos, de nós, criaturas malditas do mundo.

E onde se manifesta essa dupla relação? Quando ela se torna concreta? Na linguagem. Na narrativa. Na voz. Nos discursos. Nas ideias que alimentamos com nossa fala. Há de se ter muito cuidado com a linguagem. As egrégoras de pensamento feitas de palavras remendadas são monstros imensos frankensteins gigantes e invisíveis kaijunção de todos os medos que tem por traço de personalidade ser ciumento, possessivo e controlador. O monstro, pra compensar ter sido construído friamente pela instrumentalidade dum cientista vaidoso abraça uma malignicência complexa de desafiar a razão; como se dissesse, com seu potencial para o horror extremo “por que você não domina isso, babaca?”. sendo que dominar representa sinônimo de entender, desvendar, administrar, governar, enfim, explorar no lato e no estrito senso.

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CRIADOR FAZ CIÊNCIA

CHOCA O OVO QUE SERÁ CRIATURA

INTELECTO AVEC SOFRÊNCIA

A MODA DO MONSTRO, CONTA E ESCRITURA

A DESOLAÇÃO DO SABER

NUM MUNDO QUE NÃO FAZ IMPORTÂNCIA

TRAMPO, LUCRO & QUERER

É TODA CULTURA & TODA ÂNSIA

MONOPÓLIO DE HÁBITOS

ECO DISCURSIVO

NARRATIVAS FAMINTAS, DISCURSOS ÁVIDOS

NECESSIDADE DE UM CHEFE QUE SEJA MAIS ASSERTIVO

DESEJO DE SUBSERVIÊNCIA

POR UM ESVAZIAMENTO TOTAL DE MOTIVO

UMA IMENSA E VÃ ESPERANÇA BASEADA NA CRENÇA

DE QUE TUDO SEMPRE SERÁ MELHOR E ATÉ PRA MORTE EXISTE SEQUÊNCIA. Então o turbilhão de ilusão, ruído extremo versus lampejos de eloquência, o macabro virando normal e a naturalização da violência, a culpa é do mais fraco & pro forte inconsequência. Cada vez mais rara a ocorrência da consciência.

À deriva num mar de crimes, pacato no assassinato, bruto no estupro, zuera na tortura, comédia na tragédia.

A vida hoje é só decorrência & evidência do caos. E é só desse caos que reside alguma ou qualquer beleza. Todo o resto é reza & desprezo. Fazer uma preza ou manter o respeito? Nas industrias & nos negócios bom demais é “demais”, sabe? Tipo “over” mermão… Tipo, é algo ruim. Por que eu iria querer qualquer coisa desse tipo pra mim? Melhor seria seguir invisível e insignificante como um velho ou um curumim. Mestre da mediocridade. Oferecendo ao mundo só m-hums, nada de nãos e nada de sims. Nada de banquetes, contente com o capim. Nada de novos começos ou de estrondosos fins.

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Mas é porque vicia. Porque há imenso poder nessas narrativas. O encantamento do consumo, o hocus-pocus do merecimento cármico, a fé de que em algum panorama divinamente amplo somos todos mercadorias e moedas de deus, que coloca tudo numa balança cósmica universal de modo a equilibrar com justiça onisciente, onipotente, onipresente todas as coisas. E então deus seria esse mercador filhadaputa cósmico de almas, que não teve nem a decência poética de ser um jogador de dados – GAMBLERGOD – terminando encerrado na figura de um investidor sagrado. O homem de negócios do senhor. Distribuindo miséria entre os povos como manifestação e auto de fé. Convidando constantemente a cultivar a ignorância e a servidão. ABDIQUE DE SER SENHOR DE SI

ENTREGUE SUA MENTE E SEUS FILHOS EM SACRIFÍCIO

EM NOME DO SENHOR

EM VEZ DE COMPOR do ré mi fá sol lá si

SÓ BERRE, ovelha, SEU BALIDO BESTA

EM LOUVOR

& ME DÊ SUA GRANA

chupe minha alma me dê + poder

aceite meu drama

Mas sempre feliz & obediente

pq jesuis te ama

2:43 – 6:46

31 – 5 – 2016

MERLIM RESISTE

MONSTRO MONSTRO uma ode

Monstro MONSTRO homem monstro

Que que tu quer me monstrar?

Pronde olha teu olho monstro?

Pronde aponta o seu matar? Pra que baba teu paladar?

Ou quando que a língua também monstra anseia e deseja experimentar?

Monstro monstro cresça e urre!

Seja todo bestiário, breu, raio, trovão.

Monstrando a tolice de esperar que algo dure.

Parte fera parte gigante, contrastando meu eu – são

Teus contornos homem-monstro definem meu proceder

Minha covardia e limitação

Mas inda assim é impossível negar o sublime prazer

da transformação

Gosto de te ver assim livre

Pondo os covardes pra correr

Desde que o veja chegando de longe.

Me percebo do tamanho da minha consciência, diminuto.

Somos todos pequenos sob a sombra do monstro.

E ao longe sua destruição, balé entrópico, como um terremoto ou furacão.

Hulk smash army

22 – 11 – 16

Monstro, MONSTRO, criatura

Quão inumano pode um homem ser?

Quão desconstruída uma estrutura pode ficar ou parecer?

Peças soltas, órgãos separados, vísceras e pedaços por todo lugar espalhados

Traumas e dores posteriormente reagrupados

Sustentado por ossos fraturados e remendados

Homem monstro tu vive e isso por si só já é horrível, teu corpo tua aparência é de algo que suporta mais do que devia em nível molecular.

Por isso homem-monstro eu gosto de te ver romper qualquer jaula insolente e para longe saltar. Pulos de mil jardas e a cada pouso a alegria de esmagar

Jipes, caças e tanques de guerra como brinquedos pra reciclar.

25 – 11 – 18

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DEMOCRACIA um sacode

A democracia é uma puta.

Não entenda mal, sem conservadorismos condenatórios e machistas, mas o tipo mais absoluto e convicto de puta. A democracia é uma puta putana total. Ela curte o que faz. E gosta de ser bem recompensada por isso. Ela faz de seu prazer parte integral da sua eficiência. Ela só entende soberania na medida do desfrute. Mas ela curte saciar os desejos de outrem como excelência, pois que a dedicação, a serventia, é o mais íntimo propósito da democracia. A democracia topa tudo sem frescura, só pela experiência de ver o outro  – seu cliente – satisfeito.

Então meninos e meninas, aprendam a tratar bem sua democracia. Pois além de ter um ofício absolutamente corajoso e radical, esse será honesto e generoso como poucos outros ofícios que cada um aqui pode ser capaz de nomear.

24 – 5 – 2017

Às putas, pois, com seus

& eu sei que muitos e muitas irão se inflamar com essas palavras. A ira é instintiva. O bicho de sangue quente sente o impulso de proteger o que ama e deus sabe o quanto dói amar uma puta. Mas aprenda com os mais velhos e sábios, filhotes da nação e filhas da pátria, aprendam a lição que só a vida pode ensinar, se um dia você disser “eu deveria tê-la conhecido melhor” é também porque “agora você conhece” e a vida dirá que só você sabe o que é melhor, pior ou o bastante pra você. Que  medida de saúde e satisfação só pode ser conhecida de dentro pra fora. Que cada um é dono de si e soberano de seu próprio corpo. E que amar um corpo livre é sempre muito melhor e mais gostoso.

SORRINDO PRA FOME & DORMINDO CHORANDO

(HAIKAI URBANO)

O REI QUÉ MANDÂNO

A RAINHA MATA FALÂNO

O MATUTO ESCAPA ANDANDO

MENTIRAS & SANGUE CIRCULANDO

ENTÃO VAI, SAI

ENTÃO TAL QUAL CÃO PEÃO

ESQUIVA DE BISPO E DE CAVALO

ESCAPA DA TORRE PELO RALO

DE CASA EM CASA PELO TABULEIRO CONDUZ

ENTÃO TAL QUAL CÃO SAI

E ANDA

À LUZ

24 – 8 – 18

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POEMA PASCOAL

– 21 – 3 – 2015

“No princípio criou a Igreja o medo e a culpa.”

– X-zenesis # 1:1

Quando ficamos autocentrados o pensamento fica binário

Pensamos em termos de faço ou não faço, posso ou não posso, devo ou não devo

Nada confuso, mas completamente errado.

Será que a cultura ocidental, democrático-burguesa ou pós-colonial, perdeu o sentido do karma em detrimento da burocratização do darma como inevitável condição – radical e desesperada como arma na mão desse pessoal que vive da missão de oscilar bruscamente entre o único pão e a fútil ostentação?

E ainda tem uns com a pachorra de me falar em cristo! E se jesus já tiver morrido e revivido não uma, mas trocentas vezes? E se no distante passado do século XX ele tiver nascido em 39, como na lenda, na capital da nação que mais nos oprime, saído do gueto pra pregar um amor profundo e verdadeiro, com uma voz mágika, inconfundível, eternizada e divinizada? E se? A história nos diz: Se uma mensagem de amor potente assim vingasse e reverberasse no século XX, esse novo messias, arauto da alma feita em som & todo amor despudorado, seria brutal e implacavelmente morto, baleado como um animal, assassinado por seu próprio pai, um pastor religioso de merda, desses que não entende nada, nada, todo cheio de certeza de deus & autoridade.

É nesse mundo que vivemos.

Mas não vou lamentar. Tampouco vou vacilar. A história atesta que não tá fácil. Mas a própria nova cara do mundo explicita tudo o que ontem era obscuro. Olhando na bola duzóio se sabe bem quem é quem. Quem usa, quem não usa, e também quem usa quem. Quem sabe, quem não sabe e quem inventa o que tem. Quem curte face, quem like states e quem paga pau pra usa. Aqueles que conhecem o que basta e aqueles que precisam de tudo & não vivem sem.

Viciado em compra, em droga, em trabalho: que diferença faz? É tudo viciado!

O tempo é complexo, circular, tresloucado. É o que transforma todos nós em retardados. Só nos resta assumir o retardo, largar a culpa de lado e assumir o estrago.

Ainda tem muito o que vir de mundo pra simplesmente confiar que o que se sabe está dado; a ciência, fé e política brigam pra segurar o fato, mas esse desliza de seus dedos como peixe azeitado. Quando a estupidez vira um fardo é quando se de fato é sábio; e quando se sente muito sabido é quando se dá conta que é otário.

Besta, idiota e iludido é mato. Cresce em todo canto e só faz enfeiar a vista.

Mas de cesta em cesta, de sexta a sexta, de lorota em lorota, e mesmo mal pago e fudido; o fato, evidência de verdade, a veracidade viva e aparente nas quebrada, existe tanto na roça quanto na cidade; e a palavra real de amor, esse simples poema, esse brado, esse manifesto, maldita sina do bardo, é e será identificado, sempre que verbalizado:

Amém, se quiser, tem; mas só se trouxer a paz e a tolerância também

se não é guerra bíblica, cuzão, sai fora e vê se me erra

pois de outras faces pra oferecer estamos sem

& de dózinha pra vitimismo idem

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Eu me criei na rua e sei ler gente só de olhar

Provavelmente imagino o que é que te faz fantasiar

Tem gente cheia de ódio esperando que eu as provoque

Tem o recarregar dos pentes e da maquiagem tem os retoques

Tem cabra bem metido a ser valente e muito forte

Mas ligeiro se percebe qualé o cú que tá dando bote

Escravo do desejo alazão ainda é garrote

Querendo comprar lixo vira do patrão um mascote

Depois num adianta chorá por ter tido pouca sorte

Nas voltas da grande samsara riem juntas a vida & a morte

agosto – 2015

EPÍLOGO:

lembrem da lição da fessora shelley: nunca há fim para o monstro. Só há fim para o cientista calhorda, covarde que colherá cada profanidade corrigida segundo a matemática intransigente e salgada dos altos juros da justiça poética. Os arquitetos de todo o mal definharão. Os colaboracionistas não serão esquecidos nem perdoados pela história. E os monstros vagarão indeterminadamente pelo gelo interminável do pós tempo. Estaremos bem. Estaremos vivos. Juntaremos nossos pedaços e criaremos outros de nós. Dançaremos entre demônios e fantasmas. Não temos medo de condenação. Não esperamos por salvação. Estamos bem aqui. A vida já é o bastante. Esse relâmpago que nos anima. Essa fúria que nos ilumina. Tremam injustos. Sorriam em suas certezas. Refestelem-se em seu festival de sentenças e convicções. Vocês acham que venceram, mas desde sempre não querem ver. Vocês acham que estão por cima mas o inferno já vem lhes colher. Gozo num átimo vão aquilo que se chama poder. Gozo na minha mão e sem pressa deixo escorrer. Não tenho medo de milico, não tenho medo de burocrata e nem de virar homo saccer. Entre o feitor e o feiticeiro é só uma questão do que se há de fazer. Então bye bye esperança, bye bye ilusão, bye bye promessas, mentiras e os planos do patrão. Bye bye e até mais ver que agora eu vago feliz, sem medo e sem razão.

29 – 10 – 2018

A SABOTAGEM CONTINUA 11-01-2019

ESPECIAL NMS de FESTA JUNINA ou Precisamos Falar sobre Constantine

Posted in novidades on junho 16, 2018 by ti

Já faz uns dois anos que não aparecia por aqui pra brindar o site com algum trabalho novo que consiga embaraçar referências e desatar os nós da minha inquietação. Dentre tantas coisas que aconteceram nesse meio tempo, a mais assustadora é sem dúvida o grande levante fascista que parece estar se avolumando no horizonte. Utilizando entre os recursos emocionais e imagéticos esse discurso de ódio vale-se de aspectos tradicionais da cultura local, mesclando-se a ela, corrompendo-a numa versão insensibilizada, insensibilizante, banalizando a violência e naturalizando desigualdades. Religiosidade, relações afetivas, música e outras manifestações populares misturam-se, embaralham-se, travestem-se na santíssima trindade cachaça, futebol e churrasco, e por meio da distração infiltram-se na alegria de celebrar a pança cheia, no consagrado e merecido descanso, no pileque desembaraçado, outras ideias, não tão locais, não tão íntimas, não tão familiares. Como um penetra invisível na festa, sussurrando impropérios nos ouvidos de todos e comendo os salgadinhos. Há, assim como nas sociedades pré-fascistas, a construção então de um sujeito oculto. Instala-se uma desconfiança entre nós. Aquilo em que você acredita determina aquilo que você é capaz de amar? O que você sabe é impeditivo pro convívio? Temos então um nó górdio, chamado por essas bandas de angu de caroço, que pede por interpretação, por entendimento e sobretudo por reflexão.

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Não foi num cálculo estratégico, mas num átimo surpreendente que me ocorreu as muitas semelhanças entre HELLBLAZER e nossa celebração brasileira da Festa de São João. Mas depois me ocorreu que joão constantino, grande arquétipo ancestral do MAGO,  a carta de número 1 do tarot, aquele que detém a intuição, que revela o mistério, que desmascara o que está oculto, possui também mais facetas do que eu poderia achar que conhecia, mudando rápido como um semblante iluminado pela luz vívida e dançarina duma crepitante fogueira. O fogo é o revelador radical, um elemento importantíssimo pra nossa conversa de hoje, sugiro enrolar um fumo ou ferver uma água no fogão e preparar um chá ou passar um café que nós vamos longe.

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O MAGO essa figura relaciona-se tão bem com a fé praticada aqui no brasil, uma fé pagã, uma fé que perpassa as divisões entre o que pode ser paganismo e as religiões organizadas e pretensamente hegemônicas no imaginário popular. Uma fé inclassificável. As religiões baseiam-se em muitas tradições diversas, e algumas delas (não todas é bacana ressaltar) precisam dos mistérios, dos segredos, dos saberes restritos. Como se o medo e a ignorância fossem caminhos muito seguros para a garantia da subserviência. Mas aqui a mistura é com princípios muito diferentes. Aqui para os Guarani-Kaiowá, palavra significa “palavra que age”, não existem palavras mais sagradas do que outras. Então quando esse povo brasileiro que esqueceu ou perdeu a medida do quanto ainda é (e do quão mais deveria ser) tribal, pagão, primitivo, selvagem e intuitivo se encontra com aqueles que são os grandes hierofantes, a Autoridade religiosa, pastores, ministros, padres, bispos, torres e professores, os detentores da palavra da salvação, o  choque entre eles acaba por gerar uma troca, uma simbiose, na qual a Autoridade, do alto de suas pompas e ritos (falaremos mais disso adiante) perde um pouco do seu ar esnobe, aristocrático e patronal, pra ficar com ar mais bonachão, mais carismático, mais como alguém que queremos chamar de paínho; e do outro lado, o homi & muié do povo, que juntos são povão, se operário urbano ou trabalhador campesino pouco importa, acabam também por incorporar o patriarcado no peso da sua mão, no peso da suas palavras. É que muitas vozes falam através da nossa voz. E quando Paulo Freire falava de hospedar o opressor ele descrevia o processo “educacional” através do qual se torna o opressor, pelo aprendizado, sendo aprendizagem essa mimese instintiva, repetição do que lhe é oferecido, no entanto Freire apontava esse fenômeno tendo em vista uma intenção pela via inversa, a de uma educação (sem aspas) que fosse emancipatória ou seja, um conjunto de exercícios e de ações que pudessem cumprir a função de via para a autonomia. DESCOLONIZAÇÃO dos demônios internos. Por isso é tão importante trazer pra perto de si o detentor dos segredos, convidar à mesa o bruxo sacana de plantão. Porque quando ele notar em nós o opressor será implacável em nos sacanear. O mago aponta pra parte podre. Ele detecta e lê a entropia. Sabe dar bons diagnósticos, é também chamado xamã, ou seja, figura curativa.

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Quando foi concebido por Alan Moore na Saga do Monstro do Pântano, a premissa do personagem era baseada na ideia de um mago malandro da classe operária. E essa simples definição injetou nas histórias dessa personagem uma considerável dose de iconoclastia libertária, conferindo partes equilibradas e muitas vezes indistintas de humor fugaz e crítica implacável. Não foi o primeiro anti-herói dos quadrinhos, mas a perspectiva que esse Jão trouxe pras suas narrativas foi muito bem vinda em seu contexto e até hoje parece uma voz necessária, estandarte dalguma lucidez nesse mar de loucura em que vivemos. O que é um feitiço bastante raro e temerário nesses tempos de hipernormalização industrial.

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Porque uma classe abastada havia se apropriado da figura arquetípica do mago. Os Mestres, e toda sua parafernália maçônica pra citar só o exemplo mais popular, iam vendendo seus saberes de linha em linha, de exercício em exercício para os iniciados.  E pouco a pouco a intelectualidade foi incorporando o maneirismo de quem sabe das grandes verdades, mas não se tratava de verdade alguma, mas de uma atitude. Foi roubando os saberes mágikos que criou-se o ar blasè do ceticismo. A partir daí, uma espécie de blindagem dos saberes auto nomeou-se CONHECIMENTO, esse filtro social tão eficaz quanto ilusório. Imagine uma escola onde você paga individualmente por cada lição? Há quem ainda valorize esse modelo. Há também quem se interesse em qualquer possibilidade de virar uma grana porque a miséria está no meio de nós. Instalada em nosso pensamento, abocanhando nossos impulsos e deglutindo em fartos pedaços nossa insegurança. Nessas, o mago malandro de rua, está lá pra acusar onde está o truque, pra desbaratinar a nudez do reis. Ele não sabe feitiços secretos específicos, nem domina a pronúncia de línguas mortas, nem solta raios dos olhos ou bolas de fogo da ponta dos dedos, ele só  conhece o funcionamento do universo, ele lê as marés do humor humano, ele só sabe ter a PACIÊNCIA de espiar, observar com calma, e sacar o que que tá pegando.

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Dicionário do Folclore Brasileiro – CÂMARA CASCUDO.

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Então é festa de são joão, 2018 em terra brasilis – Brasil. Aqui em sampa friaca arretada. Mas não se espante ao convidar um habitante do brasil pra pular fogueira porque isso é tudo o que ele faz desde que nasceu. Apagamos incêndio com gasolina meio que por necessidade. Mestres intuitivos em tornar algo ruim pior. Tipo um kung fu de cagar com tudo. É fácil se identificar com john constantine levando em conta nosso contexto. Mesmo o mais inocente e puritano dentre nós é uma criatura infernal por questões geográficas. Caminhamos no braseiro todos os dias. Por isso aqui os cristãos são mais cristãos do que em outros lugares por aí… assim como os monstros vampiros e demônios também. Essa terra em brasa. Inferno vivo. Lugar onde tudo queima e nada&tudo se consome, onde todos são vermelhos todo o tempo POR MAIS QUE DIGAM O CONTRÁRIO. Corpos prontos pra explodir. Emoções. Muitas emoções fluindo, envolvendo, cegando, desvendando. E parece que a bíblia nunca foi tão fundamental pra falar de brasil. E parece que a família nunca foi tão fundamental pra determinar o rumo das coisas no brasil. E foi João quem escreveu o livro do apocalipse. A tradução de Apocalipse é REVELAÇÃO. Tempos apocalípticos são tempos de entendimento. Então vamos nos permitir esquentar o coração, apanhar uma boa caneca de quentão, estourar umas pipocas (ATOTOÓ), guardar uma paçoca pra sobremesa e começar esse artigo falando sobre sentimentos. Lembre que o termo milagre nada mais é que uma tentativa de monopólio mental da magia. Vejamos como transmutar chagas em pipocas então.

O mundo perece por falta de magia
– Ahmed Al Hasan.

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Nessa minha longa vida lendo gibis tiveram umas poucas obras que literalmente me arrancaram lágrimas dos olhos, HELLBLAZER é uma delas. E foram das lágrimas mais raras que alguém pode chorar, as preciosas lágrimas de alegria, REJÚBILO. TEARS OF JOY. O mais próximo que já tive de uma experiência religiosa (exceto as experiências psicodélicas). Porque a VERDADE é algo que me comove. Eu sei eu sei, já sei o que você vai pensar: a verdade é uma ideologia, um embrulho pra fazer passar certos comportamentos adiante, um condutor de aceitações. E que o mais saudável pro mundo é que toquemos um FODA-SE grandaum pra verdade, pra contar soltos nossas mentiras por aí e fugir da lógica da repetição que tem inexoravelmente resultado em câncer, infarto, vício e/ou depressão pra cem a cada 99 pessoas. Mas eu não falo da verdade enquanto ideia, conteúdo ou saber. Falo da verdade enquanto ação. Ato provocativo de desafiar uma norma geral. Confronto de ideias com outras ideias. Lembrar do que veio antes, de como era antes. Aquela área cinzenta onde se misturam tradição e insubordinação numa pororoca violenta, barrenta, inavegável. Na verdade a VERDADE é REBELDIA, INSURREIÇÃO. Qualquer coisa que não seja alguma expressão de rebeldia, será aceitação e essa aceitação, em alguma instância será de uma mentira, falsidade, falácia, ilusão. Aquela coisa de sim sim sim não parei com nada e AINDA quero andar na contramão (para de preguiça e levanta essa bunda encharcada de conhaque raulzito! – diria Jão – quem é o bruxo e quem é o coelho nessa caralha afinal?!)

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Já escrevi um bocado sobre MÁGIKA e a MAGIA do ponto de vista conceitual, filosófico e inclusive prático por aqui (tks ao bródah YAH YAH SUOKA em SIMPATIA VIOLETA), e acho que falta e vale uma análise de mais fôlego sobre esse grande manual de feitiçaria popular que é HELLBLAZER. O lance das lágrimas é fundamental, vamos voltar a isso. Antes porém temos de tratar doutro conceito que irá nortear a análise que aqui se propõe. Trata-se do contexto. O que há por dentro da situação que abriga determinada leitura. Porque é dele que advém o prestígio, o alakazan. Do encaixe sincrônico entre leituras diversas. Então o exercício analítico aqui fica mais vago, mais aberto e abrangente, de maneira que não falaremos estritamente de HELLBLAZER mas de tudo o que essa leitura me trouxe, o que passa por outras leituras e passagens autobiográficas porque, sem sacar o contexto não se percebe o arranjo aqui proposto em toda sua possibilidade. Mas estou certo de que vocês já se sentiram assim, a emoção do encaixe perfeito. Quando no fim de uma longa jornada, a música termina no exato momento de desligar o motor. Quando o seriado que você assistiu, a canção que você ouviu e o gibi que você leu se encaixam com perfeição espantosa, se completam, como uma reviravolta numa história de viagem no tempo, fundem-se as vozes e as polifonias de cada obra e se equalizam, coincidem seus beats e você percebe que está protagonizando um mash up bizarro de um monte de coisa que absorve e ecoa pro universo.

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É a mágika da hora da colheita, RECOMPENSA de ter enfiado aquela semente na terra, se abaixado e sujado as mãos e no fim do dia semeando e arando o solo, em seus dedos levado pra casa a terra, o PLANETA TERRA, consigo, debaixo da unha, e cansado se deita e deitado sonha e tendo ACREDITADO realiza> A lágrima brota quando você sente que fez algo certo pra estar ali. Que sortudo – você pensa, mas sabe que sorte não tem nada a ver com isso, ou talvez tenha> e SORTE  – sim SORTE A FORTUNA – essa dama divina e benevolente, seja a palavra mais adequada pra expressar todo esse processo. O problema com a ideia de sorte é que a fortuna carrega o afortunado nos braços como se fosse um bebê, e o bruxo é esprito véio, a perspectiva mágika abriga espíritos velhacos, pessoas que QUEREM crescer, que querem chegar adiante por si mesmos. Que querem levantar a saia da realidade pra dar uma espiadinha no que ela guarda entre suas pernas. SORTE sim, então. Mas como fazê-la? Como fabricar sua fortuna? Como semear sua sorte? Como carregar sua fortuna consigo debaixo da unha? Como sonhar sua sorte? Como realizá-la? Ah eu te digo, porra! Não to aqui de zoação. To falando a real. E a chave, eu já te digo o que é a chave, mas primeiro entenda que a fechadura, TODA A SANTA PORTA, são as EMOÇÕES. Os tais dos sentimentos. Materializado pela alquimia do corpo no ouro líquido de propriedades curativas que chamamos lágrimas ou, já em tom repreensivo, CHORO (e toda sorte de outros fluidos cozinhado em fogo baixo no corpo pelas emoções, seriam elas a intensidade da chama ou os condimentos que temperam?). Pois bem: Essa é a fechadura. Esse é o portal da magia. E a chave, parça, são as PALAVRAS.

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Sabe eu falei chave, não chave-mestra. A arte da chave é saber escolher qual é a certa. Trata-se de combinação. Encaixe. Por isso da importância da sincronia. Da justaposição.

Então a palavra certa pode ser enfiada numa emoção certa e dentro dela girada e esse movimento cria uma abertura e essa abertura é possibilidade de transformação, é a porra da pedra fundamental, tá me acompanhando?

Vozes. As vozes indistintas ou as frases soltas, ouvidas nas ruas, são formas oraculares> Studart informa (in Antologia do Folclore Brasileiro, 307 – 308, ed. Martins, São Paulo, 1944): “Para adivinhar o futuro reza-se o rosário de Santa Rita, ao mesmo tempo que se procura ouvir na rua ou da janela a palavra ou frase que será a respeita ao que se pretende saber. Reza-se o rosário de Santa Rita, substituindo-se os padres-nossos do rosário comum pelas palavras – Rita, sois dos impossíveis, de Deus muito estimada, Rita, minha padroeira, Rita, minha advogada, e substituindo as ave-marias, pelo estribilho: Rita, minha advogada”. Getúlio César, em Granja, Ceará, testemunhou a mesma tradição: “São pessoas que desejam saber notícias dos parentes distantes, no Amazonas. Fazem oração (o rosário de Santa Rita) e esperam ouvir dos que conversam a resposta desejada. Um pode ser, talvez, nunca, muito breve, sim, não, etc., são palavras e frases que vêm dar respostas à pergunta que fizeram, quando rezavam o rosário. Aformam ser isso positivo e recorrem ao rosário com absoluta segurança” (Crendices do Nordeste, 912, ed. Pongetti, Rio de Janeiro, 1941). Teófilo Braga (O Povo Português nos seus Costumes, Crenças e Tradições, II, 95 – 97, Lisboa, 1885) registra a existência desse processo em Portugal, insular e peninsular, assim como J. Leite de Vasconcelos (Tradições Populares de Portugal, 258, Porto, 1822), dedicando-se a oração a São Zacarias. Diz-se ir às vozes. Morais Sarmento lembrou que talvez daí provenha o Vox Populi, vox Dei. Identicamente na Itália, Sicília. No séc. XVII Dom Francisco Manuel de Melo referia-se ao fato “Relógios Falantes” (Apólogos Dialogais, 24, ed. Castilho, Rio de Janeiro, 1920): “… e com o próprio engano com que elas traziam a outras cachopas do São João às quartas-feiras, e da Virgem do Monte às sextas, que vão mudas à romaria, “espreitando o que diz a gente que passa”; donde afirmam que lhes não falta a resposta dos seus embustes”. O mesmo costume encontrei em Recife (1924-1928), sendo escolhida sempre a Igreja de São José de Ribamar. Oravam e depois saíam para ouvir as vozes na rua. Cervantes de Saavedra registra semelhantemente na Espanha seiscentista. Ouve Dom Quixote a um menino a frase: “No te canses, Periquilo, que no la has de ver en todos los días de tu vida; e responde a Sancho Pança: Qué? No ves tú que aplicando aquella palabra a mi intención, quiere significar que no tengo de ver más a Dulcinea?” (Don Quixote de la Mancha, II, LXXIII). E do séc. XV é a informação da alcoviteira Celestina: “La primeira palabra que hoí por la calle fué de achaque de amores” (La Celestina, ato IV, Fernando de Rojas, ed. Losada, Buenos Aires, pág. 78, 1941). No Brasil pelo São João e em Portugal pelo Natal cantam as vozes, rezando a oração de São Pedro, pedindo que as palavras primeiras entendidas depois da oração e quando o devoto se ponha à janela sejam sim ou não, definindo a súplica. Um dos mais antigos documentos na espécie é dado por Santo Agostinho (Confissões, liv. VIII, cap. XII, págs. 215-216, ed. Garnier, Rio de Janeiro, 1905). Santo Agostinho (354-430) estava em Milão debatendo-se numa crise de angústia e indecisão religiosa quando ouviu uma criança cantar, na casa vizinha, uma canção cujo estribilho era tolle, lege, tolle, lege e aplicando ao seu caso a sugestão foi ler a Epístola de São Paulo aos Romanos e converteu-se. A origem desse processo é o oráculo de Hermes em Acaia. Depois de orar ao deus, fazia-se o pedido à orelha de Hermes (Mercúrio) e deixava-se o templo com os ouvidos tapados com as mãos ou com um manto. As primeiras palavras entendidas no átrio, no adro, pela voz do povo, era a resposta divina à súplica devocional (Luís Câmara Cascudo, Anúbis e outros Ensaios, “Hermes em Acaia e a consulta às vozes”, 33-37, ed. Cruzeiro, Rio de Janeiro, 1951).”

– CÂMARA CASCUDO – Dicionário do Folclore Brasileiro, ed. Ediouro, págs 916-917.

Então vamo voltar pro contexto pra deixar claro o que tá sendo enfiado no que aqui.

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Braxil. Pra quem não pegou escrevo com xis em referência e com muita reverência a Lourenço Mutarelli que descreveu meu contexto minha cidade meu povo meus primos meus iguais meus vizinhos e portanto a mim tão bem, com tanta fidelidade, no traço e na linguagem. (Muta, você sim é que é bruxão! Alan Moore é harry potter perto de ti merlin do centrão de sampa. Mil demônios exorcizados em cada desenho. Mil dragões derrotados em dungeons botecos de tomar um pingado no balcão e comer um pão na chapa e fumar um cigarrão vendo os tiozinho a caminho do serviço entornar um rabo de galo às oito da manhã). Braxil pois bem. Terras conhecidas como INFERNO VIVO. Lar de muitas faces. Superfícies em permanente metamorfose. Onde todas as estações do ano passam num dia. Onde prazer e miséria serão em proporções extremas. Onde a histeria coletiva virou uma tendência da moda. Onde as mulheres são mais abusadas, onde os pobres são mais assassinados e onde o governo é mais ilegítimo. Onde zumbis dançam e vampiros legislam. Aqui tudo está invertido. Fazemos as festividades de verão no inverno. As de inverno no verão. Rezamos pra Alá com a bunda virada pra Meca. Louvamos a cristo sentados no colo do Capeta. É assim que se faz no braxil. Terra da obsolescência da piada como disse o sábio RICARDO COIMBRA (que junto de Bruno Marón e Arnaldo Branco formam os 3 reis magos da santíssima trindade [lucidez, síntese e eloquência] da razão braxileira, e Sieber ou Dahmer revezassem como um porthos, um quarto mosqueteiro, e como se Millôr fosse o joão batista da galera e esses caras guardassem a cabeça dele num cesto e ela ficasse pra sempre dando a letra das melhores sacadas sobre o que está acontecendo em nossa realidade). O inferno verde pode não ser mais tão verdejante em extensão, mas está vivo. Terra de selvagens. Terra de bruxas e xamãs. & sob e através do concreto, a encantaria da vida perpassa. Manifesta-se. Nem aí pras câmeras ou pra hipernormalização. Brota como mato. Bicho-homem bizarro. Transformações são flagradas todo tempo. A ciência ou o criacionismo são só duas  dentre zilhares maneiras de ignorar o mundo.

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Eterna terra de selvagens, gigantes e monstros diversos. Aprendemos com nosso opressor a arte tão britânica de ostentação da própria monstruosidade. E aliás, aquelas famílias ofídicas de branquelos encarquilhados, com suas peles rosadas de pendurar no guarda roupa, com sua nudez reptiliana escondida das câmeras, se encolheriam como minhocas se encarassem de frente o olho bravo dum TAPUIA. Monstros é? Horror é? Bah, aqui é braxil! Agente recebe os monstros na festa, agente bebe com os monstros, come com os monstros, se fode na mão dos monstros mas tenta tirar uma lasquinha também. É assim que agente faz com monstros. Agente transa o horror. Com ardor. E sem nenhum pudor. Aquele papinho de cobrir as vergonhas virou dirty talk por aqui, sacumé? Sacanage dita no sopé dovido. Os jesuítas eram expedicionários que não voltavam nunca porque tinham seus próprios haréns de criancinhas selvagens na floresta, pra brincar eternamente nos campos do senhor como se dizia… o que literalmente significava “brincar com as bolas do SEU senhor. Agora. Porque eu to mandanu.” E sem por favor. Amém. Com os homens brancos veio a salvação. Com a salvação se foi o respeito e a empatia. Sim vou declarar aqui meu anticristianismo e vou explicá-lo biograficamente, mas antes que queiram me queimar numa fogueira ou apedrejar na rua ou cuspir na minha cara degenerada, eu só queria ressaltar a responsabilidade dos cristãos de refletir o uso do cristianismo como naturalização da violência. Essa ideia de alguém especial PORQUE aguentou mais sofrimento que qualquer um POR todos. Iconograficamente os símbolos de cristo são a cruz e a coroa de espinhos que são instrumentos de tortura. No entanto, elemento imagético fundamental da cultura braxileira e que de certa forma faz entender a homenagem à torturadores em pleno parlamento ou pelo menos a aceitação inconsequente disso e o subsequente eco dessa fala monstruosa como uma espécie de movimento, um hashtag-viva-a-tortura que só pode surgir num contexto em que a tortura é algo muito banal. Mas independente de exemplos extremos e explicitamente fascistas como esse, sempre que ouço um discurso cristão, mesmo que moderado e bem intencionado, ele me soa como “vai, cara, lembra de cristo e aguentaí mais um pouco…” e é como se as instituições que cobram e evocam o cristianismo nas pessoas dissessem isso com suas bundas gordas sentadas EM CIMA da cruz carregada por aquele que ouve, recebe e mimetiza a mensagem. Como um cocheiro falando com seus cavalos. Então por isso insisto na importância do contexto. Eu não teria nada contra uma mensagem que evoca forças e resiliência e fortitude nos momentos que são barra pesada (deus sabe o quanto todos nós precisamos disso) e boa parte do cristianismo que eu admiro tem a ver com despir-se de toda pompa e ritualística pra falar com deus, mas quando essa fala vem do opressor… de um opressor particularmente aparelhado de pompa e rito… aí fica estranho… faz pensar: por que esse sujeito me quer bem? É pra me convocar? Pra que eu me junte às fileiras? Ta querendo me empoderar pra usurpar minha força no futuro? Me engordar que nem a bruxa ao joão e maria?

https://theintercept.com/2018/05/30/jesus-a-favor-do-militarismo/

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Então é bom também analisar o contexto do Jão, porque ele nos oferece transposições valiosíssimas pra o nosso. Observar onde se tocam. Inglaterra. Império Britânico. Monarquia inglesa. Mito transmissor do capitalismo. Se pensarmos em termos de vampirismo (ISSO NÃO É UMA METÁFORA!), a inglaterra seria Viì original, os estaduzunidus seriam o sanguessuga de segunda geração que sai desembestado criando três, seis, sete, nove, treze, vinte e sete terceiras gerações ao redor do mundo. Desses da terceira geração, o braxil é dos mais parrudos. Verme gordo. Larva prestes a expelir um grotesco amálgama gigante de traça, mariposa e besouro rola-bosta. Kaiju tropical, gargantua servil e delicado, esmagando tudo e todos com sua violenta gentileza. Já possuímos nossa própria raiz e natureza monstra desde antes da colonização moderna, não se trata aqui dum exercício de transferência de responsabilidades. Mas o que vemos é uma besta-fera transformar-se num abominação. Noutra coisa. No caso aqui essa metamorfose ocorre seguindo um padrão de uniformização. Cada besta-fera é dum jeito mas as abominações têm todas um elemento em comum. São um ultraje à natureza e a própria existência. São algo que não deveria estar ali.

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O elemento vampiresco fica evidente pela relação entre mídia e estado. Observe como esses elementos se relacionam na inglaterra, nos estaduzunido, no braxil. Existe uma linguagem própria. Um vibração de luz e som. Isso é feitiçaria de dominação em massa. A imunidade tem que ser batalhada todo santo dia. Não existe mente protegida em estado absorto de relaxamento e imersão no entretenimento. Todo dia é preciso relembrar e desconfiar. Todo dia você lerá pelo menos uma centena de mentiras só no caminho de casa até o serviço. Todo dia você escutará os mortos falarem pela boca dos outros.

http://portugues.larouchepub.com/outrosartigos/2018/0424-missiles_launched_on_british_lies.html

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Quando era mais novo, tinha uma caixa de charutos cheia desses insetos mortos e tenta lembrar o que fez com ela. Ele tinha besouros para todos os gostos, o besouro-pondo, o besouro-bombardeiro, o besouro-de-chifre, o besouro-bola, o besouro-do-fumo, e, entre eles, o seu favorito: o besouro-rinoceronte. O besouro-rinoceronte é a criatura mais forte do mundo, tem Três chifres na cabeça e consegue levantar 850 vezes o próprio peso. Se um ser humano pudesse fazer isso, conseguiria levantar 65 toneladas.

NICK CAVE – A Morte de Bunny Monro

Então perceba jovem aprendiz, que a transposição entre solo-TERRITÓRIO e (X) VOZ sendo X=&emconflito o tal do versus X v&rsus entre elementos que irão se relacionar, como lutadores num ringue se relacionam; e VOZ enquanto expressão narrativa, perspectiva na história, protagonismo, aquela coisa que os marxistas chamam de ser um sujeito histórico como se fosse um puta dum milagre, quando é tão raro se embrenhar na mata cerrada da própria racionalidade e com um facão abrir uma trilha de silêncio genuíno, uma trilha de escuta, que permita só deixar o outro falar, e ter voz. E ser capaz de criar a sua voz. De criar sua narrativa. Sem receio de repreensões e julgamentos e correções teórico-conceituais. A voz é algo pra ser aceito, interpretado, e é na relação entre voz e território que uma interpretação pode ficar radical. Sim, eu falo como crítico de arte formado pra isso. Sou um especialista então xiu, prestenção! João o evangelista era mó crica. A crítica, afinal, também, é uma arte apocalíptica: “O termo crítica é próprio de uma etimologia antiga, quase perdida e significa A ARTE DE DISCERNIR, ou A ARTE DE DESCOBRIR.” – BONZATTO, Eduardo – EXPERIÊNCIA  – Um Caminho para o Espírito.

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A etimologia, como eu gosto de falar em sala de aula “vamos quebrar a palavra pra ver o que tem dentro dela!” é uma espécie de chave-mestra dentre as ciências, pode crer. Transforme a pesquisa etimológica num hábito e vai entender as palavras melhor.

Por exemplo, vale lembrar que é absurda a ideia de rejeitar a RADICALIDADE o conceito “RADICAL” como se fosse mero sinônimo ou indicativo de violência, porque RADICAL é aquilo próximo ou associado às RAÍZES. A Raiz é o que está mais próximo da origem, é responsável pela nutrição e desenvolvimento de uma forma de vida, raízes dão sustentação e além disso são as partes mais duras, mais resistentes de uma árvore. O avô de um grande amigo andava com um pedaço de raiz de nogueira debaixo do banco do carro e já o usou pra ameaçar idiotas e quebrar outros carros como um ogro faria, mas isso não vem ao caso. Então entenda: quanto mais radical, mais dura e resistente é a ideia. Mais vívida. Mais ligada a origem e portanto mais importante para entendê-la em sua concepção e totalidade. A radicalidade é uma via pra verdade. Por isso quando nos deparamos com uma exposição seja obra ou performance que nos diz e significa muito dizemos “putaquipariu que radical!” & por favor sem essa baboseira de “aí já é um discurso muito radical, né…” com vozinha nasalada e condescendente ocultando sua covardia em outra repetição, como se não radicalizar o discurso nos garantisse alguma segurança, alguma estabilidade, como se não evidenciando a ode à tortura ou o racismo e a misoginia veladas ou mesmo as tais das pequenas corrupções nossas de cada dia, assim, como numa gratificação divina pelo nosso bom comportamento, milagrosamente menos jovens pretos morressem ou menos floresta virasse pasto pra soja transgênica ou menos violência tributária nos assolasse. Mas não né? Pelo contrário, quanto mais nos encolhemos mais ousados ficam os algozes. Mais que nunca a radicalidade é precisa, necessária, fundamental. Ou teremos de conviver com o braxil entrando pra história como o totalitarismo fascista mais amigável contente e alegre do planeta.

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Enquanto escrevo minha mão esquerda coça muito, tem um vergão em meu antebraço e costas da mão, estive me coçando bastante, o sangue agitado na minha mão esquerda. O lado esquerdo do corpo é aquele que vive no reino espiritual. Todos temos um pé lá e outro cá todo o tempo. Um passo na matéria e outro no éter. É assim que funciona. Por isso temos dois lados. Por isso as coisas apresentam dois pólos. Só que essa lógica, como toda lógica, pode se tornar uma ilusão ideológica, como esquerda e direita, ilusões de distinção política… não são esses os pólos. Se quiser entender as coisas da ordem do poder e da linguagem, esqueça direitas e esquerdas e comece a pensar em termos de DENTRO e FORA. De dentro e de fora. Num contexto político, pergunte-se: Qual é a agenda produzida dentro do brasil? E qual é agenda que vem de fora do brasil, por influência de forças ocultas, como tenta em vão nos relembrar o fantasma de Getúlio Vargas com os lábios costurados e um buraco no peito que sangra sem parar?

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Aí está a transubstanciação interpretativa. E a compreensão se dá na medida da aproximação. Você tem que chegar perto pra entender o que é que tá pegando. Tem que sair andando pelas ruas. Tem que acercar-se o bastante pra sentir o cheiro. De dentro do carro um dá. No ar-condicionado num dá. Num dá sentado no sofá. Sem chance. Então é coisa de deixar a alma sentar no volante do corpo. Deixar o espírito tomar as decisões. São decisões brutas, radicais, por vezes violentas? Entenda, o espírito não teme a morte então sim. Só o corpo, só a matéria teme a morte. O espírito já está lá. Já sabe. Com o estímulo certo, se deixarmos, nossa alma começa a lembrar das coisas. Do mesmo jeito que é muito evidente observar que uma criança tem os impulsos e reações mais perfeitos e que amadurecer é desaprender a perfeição, ceder à normose, acatar a pressão da insegurança e o convite da repetição. Imaturo da minha parte pensar isso? Que bobalhão idealista? Parece uma criança ingênua? Obrigado. E como diria o zezinho: pau no teu cú.

Quando eu tinha 15 anos sabia desenhar como Rafael, mas precisei uma vida inteira para aprender a desenhar como as crianças” – Pablo Picasso disse isso, está em

VASCONCELLOS, Marina da Costa Manso (org.). Quando
a psicoterapia trava. São Paulo, Summus, 2007. Página 69.

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Acabo usando um disco antigo comprado na galeria do rock nos primeiros anos da década de 90 pra fazer passar minha coceira. NO QUARTER é um bálsamo que uso já tem muitos anos. Logo vou passar pro clássico de 1974 Its Only Rock and Roll dos Rolling Stones que muito me ensinou acerca de nunca esquecer as canalhices que já cometi. Nunca deixar ir embora a parte mesquinha, egoísta e filha da puta de si. Porque quando você se convence de que não é mais assim, se transforma num tipo muito diferente e mais perigoso de filho da puta. O lance é se lembrar. Se lembrar da imprudência, da insensatez, da dissimulação. Com um riso de coiote pingando na noite. Traí? Menti? Quem nunca? Se compararmos com o padrão quem nunca vira quando não. O álbum logo de saída me ensinou que ninguém é orgulhoso demais pra não implorar. O fim apresenta evidências da perícia com fingerprint file. Não lembro de em nenhum momento ver uma citação aos rolling stones dentre as muitas citações musicais em hellblazer. No entanto foi ouvindo esse disco que mergulhei pela primeira vez nos fragmentos da fase de Jamie Delano caoticamente publicados por aqui entre fins da década de 90 e início dos anos 2000.

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No fim escapei, mas não de mim. Em meu olho da mente, fui pego. Sem penitência, culpa ou condenação. Mas atento. Me equilibro nesse exercício, o de entender que John Constantine é um personagem forte por aquilo que ele não faz, pelas atitude que não toma: ele não sabe dirigir, sendo um pedestre/caroneiro convicto. Ele não sabe brigar e toma inúmeras surras ao longo da história do título. Há uma passagem maravilhosa em MÁQUINA DO MEDO em que ele tenta hipnotizar uma mulher, não consegue fazer isso muito bem e depois reflete sentindo-se culpado, mas não como um cristão deve se sentir culpado, silenciando e sublimando sua vergonha para transformá-la em direcionamento de fé; não, ao invés disso, o que temos é um personagem que constantemente renova uma impiedoso exercício de autocrítica.

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Disco lindo que eu roubei de um colega do primeiro ano de faculdade chamado douglas, um caboclo meio japa que parecia um james dean samoiano com quem eu algumas vezes brinquei de roleta russa de automóvel cruzando no vermelho em alta velocidade onde a rebouças separa a brasil da henrique shauman. Anos mais tarde passei por ali e vi uns carros todos retorcidos e umas manchas de sangue no asfalto e pensei “nossa como eu era imbecil!” mas nunca “nossa como eu tive sorte!”. Porque brincar de conviver com a morte é algo que eu comecei a fazer bem cedo e sempre em relativa segurança, mas poucas vezes colocando tantas outras pessoas em risco dessa maneira. Hoje tenho um ódio declarado a qualquer expressão da carrocracia e no geral acho que motorista tem mais é que se fuder muito no trânsito mesmo porque toda a cidade é planejada pra contemplar mais carros do que pedestres o que é obviamente um erro e não simpatizo com motoristas em nenhuma situação e inclusive sou bastante pró depredação e sabotagem de veículos e me dá vergonha e ojeriza minhas lembranças de acompanhar moleques pouco mais velhos que eu, antes mesmo de conhecer Douglas e pouco depois de conhecer John Constantine, com meus quatorze ou quinze anos, em rachas pela bandeirantes, nas cercanias do ABC paulista ou na Robert Kennedy de madrugada. Eu estava quase sempre no banco de trás, fumando, bebendo e rindo como um retardado. Estar dentro do carro era maravilhoso simplesmente pelo fato de que não deveríamos estar lá, mas isso não me serve de justificativa pra hoje não encolher os ombros sob o peso da vergonha quando relembro isso. Mas faço questão de não esquecer. Lembro sempre que apedrejo um para-brisa ou arranho uma lataria ou furo uns pneus.

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Vandalismo é melhor quando injusto e totalmente despropositado

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Isso também me faz pensar em como o surgimento da minha filha me fez compreender todo um novo espectro da necromancia. Ah sim, o culto radical aos ancestrais. Minha filha trouxe com ela minha avó de volta dos mortos. Muitos anos após seu falecimento, anos após eu sequer pensar nela, pude finalmente compreendê-la e estar próximo dela. E saber do que ela gostaria que eu me relembrasse. Minha avó não gostava de sair em fotos ou do próprio nome, do seu primeiro nome, Raimunda. Praticava encantaria do norte, manjava das garrafada. Ela era índia cariboca catimbozeira paraense da pesada. Me presenteava com objetos sinistros comprados em loja de macumba, caveirinhas e diabinhos pra fazer ebó de exú capa-preta e sete encruzilhadas. Só fui saber disso muitos anos depois. Fã precoce de filmes de terror nem imaginava onde minha vó arranjava brinquedos tão irados. Ela que me transmitiu meu ódio à igreja. Minha vó cresceu num colégio de freiras e uma frase que ela dizia muito era “cabocla em colégio de freira tu já imagina, né fio: apanhava até piá” e quando eu perguntava o que apanhar até piá significava ela respondia “É apanhá até o cú fazê bico, Tico”. Ela me chamava de tico. Ao longo da vida já fui ti, tiaguinho, tantan, tibes, tibúrcio, tibérius, ticanu, tiaguêra, já fui tio tíbito e até tibícos, mas nunca ninguém mais me chamou de tico. Minha vó tinha um jeito especial e só dela de reclamar e fazer careta e bufar nos outros pra demonstrar insatisfação. Ela costumava fazer careta pras pessoas quando elas faziam sinal da cruz no ônibus. Sabe, quando o busão passa em frente uma igreja ou um cemitério e as pessoas fazem o sinal da cruz? Então… minha vó grunhia e fazia uma careta. Uma careta de desprezo. No entanto minha avó tratava qualquer planta com o carinho e a devoção e a ternura que qualquer deus vivo merece. Fosse uma folha de samambaia ou uma árvore frondosa ela prestava seus respeitos. Minha vó irritava muito minha mãe e elas brigavam muito e minha mãe acabava ficando puta da vida e eventualmente isso sobrava pra mim. Isso me afastou tanto da minha mãe quanto da minha avó na  infância. Fiquei daqueles infantes reclusos, mas houve um tempo em que minha vó morou conosco. E era como morar com um rockstar, na verdade como morar com um punk. Ela as vezes se mijava de propósito pra protestar. E fingia surdez pra sair andando enquanto falavam com ela. Ela contava que ficara surda de tanto que as freiras puxaram sua orelha. E ela era mesmo surda. Mas não tanto quanto era pra ela conveniente parecer.  Ela comia fazendo ruídos ferozes e estrondosos, chupando o tutano de dentro dos ossos até que virassem tubinhos brancos em que se podia enxergar através e mastigando de maneira ofensiva como se para irritar uma família aristocrática  imaginária, de terninho maquiagem e peruquinha, que ficava ao redor dela se sentindo ultrajada pelos seus modos rudes. Amava comer aqueles frangos fritos crocantes do  KFC, a loja da avenida nossa senhora do sabará perto de onde morávamos fechou simbolicamente no ano seguinte ao falecimento da minha vó. Ela literalmente sustentava o lugar. Ela era racista também. De um jeito todo bizarro já que foi a pessoa com a pele mais escura que tive em minha família próxima (minha outra vó é filha de alemã com um cigano polonês). Vê só… Quer dizer, o relato biográfico nem é tão importante quanto o fato de que depois de estudar tanta parada mística e esotérica e psicodélica e religiosa foi no acidente concepcional que gerou o sol do meu universo que eu fui me dar conta da práxis daquela porra toda. Meu bebê me sintonizou pros mortos. A sintonia fina eu digo, porque sempre estive nessa frequência, eu só não sabia interpretar. Não tinha girado minha chave do entendimento. Não me havia sido dada a concepção de que os extremos se tocam. E a vida extremamente nova toca o véu dos mortos com a ponta de seus dedinhos, dum lugar seguro. Por isso é dito que todas as crianças são mediúnicas. E essa coisa chamada mediunidade seria parte da nossa perfeição desaprendida com o passar dos anos, da educação, da adequação, da moral e dos bons costumes. Ensinar é aprisionar, não? Como na canção: Eu tenho um feto na coleira.

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Imagina o desafio de estar lá, disfarçado de professor. Imbuído do cargo e da formação. Secretamente compromissado com a missão de libertar, de somente e no máximo ocasionalmente e apenas quando a situação emergencialmente exigisse, orientar. Imagina só? É como um hippie virando policial. Seu eu fosse mesmo dizer a verdade em todo cadastro preencheria PROFISSÃO com SABOTADOR.

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A verdade pode ser espada. A espada é simbolo da MENTE. Isso significa que a verdade tem grande entrada na mente humana. Por isso a mentira, a falsidade e a ilusão não estão no terreno da mente, mas no campo das emoções. Transitar a verdade no terreno das emoções é um desafio bastante recompensador. Abre muitas portas. Mais que nunca as pessoas estão muito ansiosas por alguém que as entenda. Que ligue pro que pensam. Que se importe em maior proporção do que para tweets e postagens e espelhos e tal…

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E eu professor, oculto sob minha alcunha, trafico feitiçaria barata e somo pra erosão da normalidade. Faço minha parte, sacumé? E fogo na babilônia. Porque acredito que é antiético um professor não ensinar o que aprendeu, assim como um médico tem obrigação moral de acudir um doente. Porque a verdade científica ainda pode servir de instrumento provocador. Qualquer análise mais acurada expõe com relativa facilidade o engodo patético de uma proposta como a da escola sem partido pra citar só um exemplo. Vide aula inaugural do professor Saviani no  curso livre “O Golpe de 2016 e a Educação no Brasil”, mas ainda assim a transmissão da ideia mais tosca, mais mal fundamentada, mais falaciosa se dá com notável dinamismo e ainda apresenta certa aderência no comportamento de alguns, aparentemente porque estamos doentes na linguagem, ou adoecemos na alma e a linguagem é o primeiro e mais evidente sintoma. Como eu escutei recentemente num diálogo de desenho animado japonês, a simplicidade de uma verdade perde efeito quando o mundo fica a cada dia mais confuso. Nossos filtros estão saturados. E por vezes somos transmissores mesmo no desconhecimento do diagnóstico. Como homens passando HPV. Há de se organizar os conceitos. Sedimentar os entendimentos. Respirar antes de falar. A contradição não é o inimigo. O ego é.

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E como historiador, meu método científico consiste em selecionar documentos históricos pra compor e ilustrar minha narrativa e então esfregar a cara dos incautos com eles. Como pictos levantando os tartans pra expor alegremente as genitálias no campo de batalha. Então toma mais essa:

“Por ‘esotérico’ entenda-se todas as modalidades de estudo e posicionamento estratégico de ‘estados incomuns de consciência’ ou da experiência espiritual, que são radicais o suficiente para escapar do discurso totalitário da autoridade mística ou religiosa.”

WILSON, Peter Lamborn – CHUVA DE ESTRELAS

O Sonho Iniciático no Sufismo e no Taoísmo

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A coceira no braço volta a arder como o grito de Robert Plant em since ive been loving you mas agora o batuque dos meus dedos no teclado já assumiu um ritmo próprio, daqui pra frente estou montado na narrativa, agora é ela que me leva e não mais o contrário. Então vou dar esse exemplo de como a coisa toda de artes e saberes transmutados em vozes dos mais variados territórios se encontraram e destroçaram meu paradigma, minha visão de mundo e transformaram minha percepção de maneira realmente, digamos,  constantinesca. Vou comentar como foi que fiz o feitiço de ganhar bem sendo professor da rede pública de ensino. Bem, não é dando aulas, pode apostar! RÁ! Atualmente não tem como ter uma remuneração digna dedicando-se apenas ao ofício da docência. Não mesmo. Por aqui a subvalorização do professor não é mais só consequência de políticas neoliberais, nem meramente resultado de uma longa história colonial que remonta nossa derrocada cultural escravista. Por aqui a própria humilhação vinculou-se ao ofício. E o professor virou uma espécie de pagador de promessas pobretão que todo mundo gosta de manter “amigavelmente” por perto pra expiar seu próprio nem tanto assim avassalador sentimento de culpa social pela con(v)ivência com a farsa generalizada em remendos grosseiros que costuram fé na honestidade, na meritocracia e um bocado de distração preenchendo os espaços vazios de pensamento entre uma coisa e outra. Ter um professor por perto dá uma sensação de que as coisas estão caminhando. De que todos podemos suportar os perrengues e perseverar. Mesmo quando o presidente goza na sua cara e o governador caga na sua cabeça. Ao mesmo tempo. Os professores estarão lá, ajudando na limpeza e dizendo que se você batalhar direitinho as coisas podem melhorar.

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Então teve essa vez que, já depois de há alguns anos ter abandonado as bases do currículo oculto (no total estou a quatorze anos nas trincheiras da educação, mas o exercício de descolonização e desapego da autoridade é o mesmo todo dia), me dedicando à interação dialógica, à roda de conversa, à não prova, não avaliação, não fileira, não aula expositiva, não conteudismo, teve essa vez em que eu estimulava um debate sobre nem lembro o tema e um estudante do fundão levantou a mão e eu fui babando saber qual era a dúvida e ele queria saber porque eu era professor “tipo, por quê?” nas palavras dele. E aquilo me quebrou. Eu não soube responder. O pensamento imediato que me ocorreu foi “não queria”. Nunca quis. Fui levado a isso. Fui me envolvendo e acabei indo tão fundo que nem saberia mais voltar pelo mesmo caminho pra escolher outro. Não disse nada. Tive que dizer que não sabia e pensar sobre isso. O raciocínio dele era tão simples quanto provocador: Tinha um quê de “se você é tão sabido poque tá se fodendo com esse emprego bosta? Por que se sujeita a isso?” – referindo-se a indignidade com que o professor é tratado não só pelo corpo discente (quando esse se organiza pra dar as costas pra aula enquanto joga baralho ou dominó), mas pela própria instituição através de seus funcionários burocratas e colegas conservadores e até pelo próprio espaço, precário e desrespeitoso no cerne de sua materialidade. Mas não era só isso. Havia também uma vontade genuína de entender qual era o meu interesse, porque evidentemente eu era o mais entusiasmado da sala.

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Pô eu pensei muito nisso. Fui lembrar do meu amigo duzão que me tirava um sarro me chamando de cristão de sala de aula, de sofredor, de penitente da educação. Ele me provoca assim porque sabe que é onde vai me doer mais. Ele que me explicou que HUMILDADE, assim como HUMILHAÇÃO são palavras que advém do radical HÚMUS, que significa MERDA, de maneira que HUMILHAÇÃO é ser atirado na merda enquanto ter HUMILDADE é atirar-se sozinho. Então o quanto dessa indignidade me foi atribuída pelo coordenador burocrata, pela diretora descompensada, pelos colegas caretas pelos estudantes preocupados cada qual com suas próprias coisas? E o quanto disso era só eu humildemente me atirando na fossa do sofrer? E quantos de nós não nos oferecemos pra doma, nos curvamos para que nos coloquem a cela da normalidade e o cabresto da esperança no devir? E sentimo-nos fracassados poque não somos aquilo que idealizamos ou que idealizaram (não faz diferença na real) de e para nós. Porque não temos dinheiro o bastante, porque não conseguimos controlar a sala, ou bater a meta ou porque, como me disse um moleque uma vez, quem não tem motor não faz amor. Eu ri na ocasião. Disse: “Sério memo?! Ah vá! Cê sabe que agente dá um jeitinho…” porque ele tinha até razão, mas o motor não é o carro como ele pensava, é a vontade. Esse raro item incomercializável.

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Nas aulas de história eu trabalho o tema de narrativa autobiográfica há muito tempo. Uma ótima entrada pra tocar conceitos importantes pra historiografia e também pra gerar uma aproximação entre as pessoas de cada turma. É claro que sem muito ensaio fui me habituando a contar minha história. E como que por reflexo, só repetia minha narrativa autobiográfica padrão, aquela que já está engatilhada na minha linguagem quando sou inquerido sobre alguma passagem pessoal. Nunca me havia colocado o desafio de eventualmente contar diferente dessa vez, revelar algo que nunca havia dito. Resolvi então mudar o foco da minha narrativa autobiográfica. Mas como eu fazia antes?

Eu dou aula pra comunidade, nunca quis parecer um abastado playboy pros meus estudantes, tipo, acostumado com sucrilho no prato, como reza o poema, então sempre destaquei os fartos aspectos mais maloqueiros da minha vida. Os bairros por onde cresci e transitei na periferia da zona sul. As cercanias da Pedreira. Lá onde a avenida nossa senhora do sabará vira estrada do alvarenga. De dar rolê perto do lixão na Interlagos pra fazer fogueira. Do Campo Limpo pro centro, era uma viagem na minha infância. De forma que o centro da minha cidade sempre foi o Largo 13. Ir fazer compras no centro era ir pra Santo Amaro. Só que travestido nisso estava também uma vergonha de classe, porque apesar de estar longe do centro e também orbitar o universo periférico e ter crescido brincando solto na rua, empinando pipa, atirando pedras em cachorros mortos nos córregos e caçando ratos depois das chuvas de verão quando o nível dos esgotos subia e eles vinham pra fora em busca de ar e espaço, eu nunca morei na favela, meus pais atravessaram muitos perrengues mas nunca realmente passei necessidade. Não sou herdeiro de nenhuma fortuna, mas também nunca me faltou comida na mesa. E porque então eu me envergonhava da minha sorte?

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Resolvi que ia começar a tirar uma onda. Ia resgatar a marra que eu tinha quando eu era um moleque e tomava socos na cara porque arriscava falar o que tava na minha cabeça. Já tomei uns cacetes homéricos quando era uma criança selvagem. Uma vez tomei uma surra de shape, surra de skeitada mesmo, de quatro moleques mais velhos ao mesmo tempo. Começou com eles me provocando, mas acho que tavam usando a provocação  como pretexto pra se aproximar e tomar meu boné ou o que eu tivesse nos bolsos. Depois respondi com outra provocação, levantando a hipótese de que gostavam de andar sobre rodinhas pra irem bem rápido pra trás dalguma moita prum onanismo coletivo. Por um momento eu achei que conseguiria acertar um deles antes de começar a apanhar, mas foi muito rápido que me vi deitado de lado em posição fetal abraçando minhas pernas com um braço e protegendo minha cabeça e rosto com o outro. Fiquei com hematomas nas costas, canelas e mãos que duraram semanas. Esse era o espírito! Eu achava que amadurecer e me acalmar era a coisa certa, mas era esse impulso que eu precisava resgatar pra dar o grande salto que me faltava na vida profissional. Ouvi dizer esses dias que a palavra pivete vem de Piva. O Roberto Piva.

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Então eu comecei a propagar a velha ideia de suficiência num outro nível. O nível da alegria. Passei a compartilhar a liberdade de estar bem. De ter o bastante. A autonomia de ser professor da rede pública e ter um horário maleável e mais liberdade pra trabalhar como quiser. A autoridade de cátedra é um conceito que serve como antídoto para a hierarquização burocrática. O que é também um exagero, mas no contexto narrativo faz sentido que seja apresentado nesses termos. E de que, tendo essa rara vantagem do horário maleável, eu poderia exercer outros ofícios que me dão o resto do dinheiro que eventualmente eu precise. Como o que por exemplo? Revisor, editor, passeador de cachorros (é sempre válido lembrar que praticamente qualquer serviço remunera melhor a hora de trabalho do que o de professor em São Paulo, estamos cerca de 80% abaixo do piso salarial do funcionalismo público da região); ou como os feitiços que minha avó catimbozeira me ensinou que eu vendo a preços específicos apenas pra clientes dedicados. Ou a leitura de tarot que eu faço mas nunca de graça pois assim é que me foi ensinado. Meu tarot é com baralho cigano. Eu posso ler sua sorte com um maço de baralho comum. Não uso arcanos maiores. O jogo que eu tiro, minha forma de virar as cartas, é original da adivinhação vodú, que fui aprender por intermédio da Santeria Cubana quando lá estive em 2013 e conheci dois paleros de linhas diferentes (Palo Monte e Palo Mayombe). Mas mesmo antes disso eu já trabalhava a interpretação de augúrios. Pincelava uma coisa aqui e outra ali. E meu bisavô, um cigano chamado Brün, um cuzão, canalha, enganador que arruinou a vida da minha bisavó, ensinava que nunca sob hipótese alguma deve se tirar as cartas ou fazer uma leitura de mão ou de chá ou de borra de café ou qual que fosse de graça. Ele dizia que o pagamento era fundamental pra romper o véu do mundo espiritual. Que as moedas, o dinheiro em geral, são um poderoso símbolo entrópico de contato com os mortos e que pra fazê-los cantar e contar seus segredos era preciso desembolsar a prata ou no mínimo algum níquel.

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Comecei então a contar essa história. Era uma narrativa baseada em fatos reais, mas de alguma maneira inventada também, porque não era como se eu tivesse efetivamente uma carreira de tarólogo. Mas a mágika da palavra sagrada aconteceu e pouco tempo depois de iniciar a narrativa, a realidade se transmutava e eu, voltando pra casa da escola, recebo uma ligação bem quando atravessava a rua verbo divino e era uma prima de uma aluna querendo marcar  uma consulta. Demorei pra entender e quando tendi desacreditei. Imediato ajuntei: Esses muleke tão me testando! Então lancei logo meu preço, aliás, ahn-rrãm, meu preço não, O VALOR da minha consulta: Setenta e sete reais. Em dinheiro que eu ainda não aceito cartão viu. Ela topou. Marcamos na semana seguinte. Fui nervoso pro local de encontro mas a leitura fluiu e foi um sucesso. A cliente ficou satisfeita e eu, sem querer querendo e totalmente por acaso, acabava de receber a hora mais bem paga de toda minha longa e só deus sabe o quão fatigada jornada profissional. Inacreditável. E melhor, o efeito se multiplicava e agora eu era indicado pela minha cliente satisfeita o que eventualmente me virava outros clientes. Era o aprendiz de feiticeiro encantando as vassouras, agora tudo se movia por conta própria e tudo o que eu precisava fazer é permanecer em movimento no meio da confusão.

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Mas ainda conservando o diabinho genioso do ceticismo tagarelando pousado em meu ombro, resolvi tirar a prova dos nove  e repetir a operação num outro contexto, pra outro grupo de pessoas. Sabe, quando se tem filhotes, não raro percebe-se rapidamente cercado de pessoas que você pouco conhece, por vezes nem mesmo gosta, mas em quem deve confiar para sobreviver, a chamada rede de apoio, como satiriza Ali Wong, é como walking dead, um grupo de pessoas totalmente estranhas reunidas pra sobreviver ao holocausto zumbi de ter um bebezinho. Pra mim que venho flertando com a misantropia desde a juventude, esses espaços de convivência tornaram-se por vezes difíceis e desafiadores. E cada vez que eu me apresentava e nessas conversas moles de fazer uma social na sala de espera da casa de parto, do consultório do pediatra ou na saída da escolinha, ou conversando em festinhas e em parquinhos de praças, às vezes eu ficava tão entediado de dizer “sou professor” e encarar aquela ladainha condescendente de “vocês é que são guerreiros”, “vocês deviam ganhar mais que um jogador de futebol” e etc e tal que eu simplesmente comecei a responder que era DJ de festa infantil. Ah sim, eu discoteco em festa infantil. Toco só música boa e não aceito sugestão não! Se quiser tocar o que você gosta, discoteca você mesmo, oras! E não é, que com essa presunção e arrogância toda, uma hora minha esposa me manda uma mensagem e diz: “tenho uma amiga que precisa de alguém pra fazer o som da festa de dois anos do Luquinhas, ela tá perguntando quanto você cobra…” – como tenho horror à números fui bem pouco criativo na resposta: “Diz que como é sua amiga faço por setenta e sete.” E fiz. As pessoas na festa adoraram! Teve adulto e criança que dançou. E no fim ganhei uma carona pra casa (pois estava com laptop e meu amplificador e estava chovendo) e fui pago com 150 reais. Disseram que não admitiam me pagar menos que isso. Almoço, bolo e docinhos incluso. Dá pra acreditar? De lá pra cá já fiz mais seis festas. As leituras de tarot já passaram as duas dúzias. Numa das consultas fui pago com o box do selo SESC CAIXA PRETA ITAMAR ASSUMPÇÃO, com a discografia completa do gênio ben(e)dito Beleléu, até hoje a melhor remuneração que já tive na vida. Nunca estive tão satisfeito profissionalmente. Sempre me considerei competente e bom, sempre me reconheci como habilidoso no meu ofício como educador. Mas parece que a competência não era o bastante pra que eu me permitisse sentir orgulho de mim mesmo. Herança ou expectativa cristã de um sacerdócio educacional? Talvez… mas essa merda toda é passado agora. Nunca me senti tão digno e tão realizado como quando comecei a criar livremente a narrativa de quem sou eu e o que eu faço pra viver. Professor sim, mas não mais o fodido desgraçado que a sociedade espera que eu seja quando digo que sou professor. Aqui é pique hogwarts pai.

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Por isso demando atenção, falo xiu! e exijo meu reconhecimento enquanto especialista. Porque já to nessas há tempo demais pra ficar na encolha pagando de humildão. E na toada que as coisas vão, cada ação deve ser entendida como um ofício a parte. Escrever, interpretar, ensinar… são coisas diferentes e deveriam ser acertadas cada qual segundo seu próprio valor. Os tempos estão áridos porque a excelência não só não tem sido  reconhecida, como já não é reconhecida há tanto tempo que tornou-se fora de contexto e agora nem sequer parece ser almejada sendo o hábito comum que seja, na medida do possível e do inconstitucional, evitada para minimizar “gastos” excessivos. Mas não se considera a diferença entre custo, gasto e investimento. Não senhor. Enfiamos tudo num saco chamado CRISE e prosseguimos na fila indiana que nos conduz à neoescravidão. Assumir-se especialista é assumir-se um cuzão. É assumir o poder que tem sobre a capacidade de fazer algo. A inteligência e a sensatez soam como presunção e geram antipatia. Mas a arrogância só tem sentido se puder sustentar-se na nudez. Do contrário será blefe, ou o que chamamos prepotência. Que é desperdício de força. Desperdício de energia. Vaidade vã. Punheta. Sim, eu repito. Não to aqui sarrando não… não tô de brincadeira. Os livros não vão ler a si próprios. A verdade não pulará no seu colo como um doce gatinho no cio. Vocês seres civilizados que querem permanecer encolhidos em suas ostras de conforto e normalidade precisam de educadores. Precisam de educadores que sejam livres pra falar tudo aquilo que vocês têm receio que seus filhos e filhas ouçam. Vocês precisam disso pra formar uma geração que possa planejar como tirá-los do atolamento político-econômico-cultural no qual se encontram. Lamento dizer mas o vaticano foi quem sempre mais precisou dos bruxos pra exorcizar de verdade seus altos sacerdotes possuídos, ou para orientá-los acerca de quais os terrenos mais ricos, as datas mais especiais, os mitos mais poderosos para serem fagocitados pelo sincretismo hegemônico que se construiria a partir dos cercamentos territoriais, da centralização da igreja e do subsequente surgimento dos estados modernos.

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Como em Witches vol II quando Mira uma típica strega tradicional é convocada pela alta cúpula papal para resolver uma pendenga de proporções cósmicas. Mesmo recorrendo à bruxa os sacerdotes ainda posam de senhores da razão, acusando-a de falaciosa, de ostentar truques baratos, mandando-a calar, tipo mas ela evidencia de forma tranquila a inferioridade dos mesquinhos homens da fé, ela diz “da posição em que vocês se encontram, sou aquela que conecta dois mundos. O mundo das palavras e o mundo sem palavras“, na página seguinte ela aprofunda sua exposição “o mundo de vocês é limitado, o nosso mundo é infinito. As palavras de vocês são como facas que dividem a possibilidade em naturezas características. Um instrumento que corta o mundo da maneira que melhor lhes convém. Nós vemos o mundo como ele é. Mesmo sabendo as palavras, nós podemos descartá-las. Uma bruxa está sempre conectada com o infinito. É algo que vocês jamais vão alcançar. Embora toda a existência tenha sido infinita um dia.” com isso ela deixa a tribuna sacerdotal toda sentada em seus cadeirões de mogno com a maior cara de bunda, e entre expressões como “Blasfêmia“, “que horror“, “quanta ousadia” e “que obcenidade” um dos arcebispos (a julgar pelo chapéu cônico) engendra a fala que bem representa a postura da igreja (historicamente enquanto símbolo civilizatório e NÃO localmente enquanto abrigo comunitário) como um todo, oportunista, calculista e aproveitadora: “Até que a ovelha negra serviu pra alguma coisa” ao que um irmão de fé responde obstinado: “A existência de gente como ela é uma blasfêmia. Deixamos que vivessem para que sejam úteis em momentos como esse.” o que expõe a mesquinhez com que o dominador instrumentaliza o profano para usá-lo a serviço do sagrado. Ao que, na cena seguinte, quando a bruxa, apesar da desfaçatez de seus convocadores, resolve sacrificar-se para salvar toda a vida na terra, eles cumprem a ritualística de abençoar seu sacrifício e são interrompidas pela jovem Alicia, aprendiz de Mira na bruxaria, que expõe sua versão da verdade que todos pensamos mas raros são os que a colocam em brados & no que erguem suas mãos caquéticas pra dizer “Com a bênção de deus…” ela os interrompe: “Parem! Não mandem a Mira com mentiras! Se uma pessoa disser que o céu limpo é azul sem nunca tê-lo visto, mesmo que as palavras estejam certas, é mentira! Suas palavras são impuras e tristes. As palavras de Mira brilham. Nós vemos e ouvimos com todo o nosso ser. Sentimos também o cheiro e o tato. Recebemos o corpo do outro e nos misturamos. Se não for assim…” e o sacerdote, ainda encaixotado pelo recalque, pela autorepressão proclama nada criativo: “Que imundice! Como uma criança pode falar essas coisas?!” no que seu comparsa responde “mesmo sendo criança, uma bruxa é uma bruxa.

Ou mesmo no belíssimo primeiro volume, quando, as práticas da bruxaria são destacadas pelo autor Daisuke Igarashi através de atividades simples e cotidianas como o tear, a jardinagem, a culinária, as atividades domésticas… nada de o conhecimento te libertará, nada de promessa meritocráticas, nada de hierarquização dos saberes afim de selecionar escolhidos, iniciados e grãos mestres… não! É só coisa de varrer o chão, selecionar folhas e ferver uma água pra infusão, amassar um pão. É no equilíbrio entre força e ternura que o milagre da vida acontece. Cozinhar, criar crianças, brincar. Essa simplicidade precisa ser admitida e desvendada pelos estudiosos da educação.

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Ainda assim, aceitar e abraçar o simples não é o mesmo que incentivar e generalizar o tosco e precisamos lembrar que o projeto vigente em andamento está longe de reconhecer isso. A agenda vigente quer transformar TODO emprego em subemprego e está convencida de que uma nação de atendentes de telemarketing e balconistas de supermercado é ideal pro modelo social almejado. Tranquilo e favorável como profetizou o sábio. E todo empenho tem sido em desvalorizar e mais do que isso desmoralizar cada vez mais em especial os professores para que sirvam de exemplo pra todo trabalhador dos horrores trabalhistas que estão por vir. Pelo que se pretende os professores serão uma classe crística. Metacristianizada e imolada. Os homo sacers de plantão. Os cordeiros imolados de um ávido deus tucano.

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Diante desse panorama nos resta lembrar que o que somos nunca está acabado, não pode ser definido e nunca trata-se de algo estanque. Não somos números ou  máquinas por mais robotizado que esteja nosso comportamento. Foi meu camarada Dimitri Bit, B-MAN, historiador, cristão, dos raros cristãos que eu respeito EM SUA cristandade, que me ensinou que a palavra robô vem do tcheco ROBOT ou ROBOTA que significa trabalho forçado, ou seja, ESCRAVO. Só que a escravidão não é definidora, como qualquer violência é uma condição ao qual alguém se vê submetido. Não existem descendentes de escravos. Existem descendentes de culturas e etnias e linhagens diversas. E sujeitos que sofreram a violência da escravidão. Estamos sempre prestes a transcender ou a fraquejar e ficarmos a mercê das vozes fantasmas, de sermos possuídos pelos demônios do medo, do preconceito, da culpa, do arrependimento, do rancor, do ressentimento, da inveja, da ignorância. RESISTIR não é necessariamente lutar contra algo, mas tornar-se mais forte afim de ultrapassar qualquer algo que queira eventualmente levar uma. E esse é o sentido que eu muito respeito do cristianismo primitivo, no qual a premissa é deus é meu pai portanto eu sou tão potencialmente divino quanto ele e jesus foi meu irmão, que imbuiu-se da sua divindade do seu potencial divino pra transformar as coisas da melhor forma possível. Depois que ele foi pro céu, seus apóstolos vestiram seu manto, como aconteceu com o batman que virou vários batmans ou com o hulk que virou vários hulks, seu ideal é sua encarnação. Mas em vida, Eli, como era chamado, chutou as barraquinhas dos mercadores no templo, açoitou os banqueiros, estendeu a mão pras putas e pros ladrões. Colocou um vinhão pra rapaziada. Aí sim agente tá conversando de festa do divino. A alegria e a amizade são fundamentais e nenhuma pauta, dogma ou verdade religiosa pode superar a esse fato.

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“Há aí algo de precioso para se representar hoje uma noção de povo e, talvez, também para pensar o que Deleuze dizia quando falava de um povo menor, do povo enquanto minoritário. É menos um problema de minorias do que uma apresentação do povo como RESTO em relação a uma divisão, algo que permanece ou resiste a uma divisão – não como uma substância, mas como uma diferença. Seria preciso proceder muito mais dessa forma, por meio da divisão da divisão, do que se perguntando: “Qual seria o princípio universal comunitário que poderia nos permitir conviver?” Pelo contrário, face às divisões que a lei introduz, aos cortes que a lei continuamente faz, trata-se de trabalhar sobre o que se coloca em questão ao RESISTIR, ao RESTAR – resistir e restar têm a mesma raíz.”

– GIORGIO AGAMBEN – Uma Biopolítica Menor

Outro pensamento sobre nossa língua, um Xís de V&ersus entre o INglês e o PorTUgUês, de maneira que o inglês é entendido como uma língua empoderadora, inclusive por seu potencial bélico, marcial, que evoca no sedutor uso de seus imperativos e na alegria contagiante de averbar os substantivos. Agente se sente tão pra frente quando faz isso né não? Mas o português, por outro lado é uma língua desempoderadora que mescla-se à uma miríade de influênzias, por vezes violentas e subversivas de outras línguas e dialetos. Originalmente é uma língua maloqueira, linguagem portuária cheia de rombos, lacunas, espaços a serem preenchidos por outras línguas, sobretudo o árabe e troncos linguísticos africanos dos mais diversos e no caso do português brasileiro ainda somando-se no caldeirão as línguas indígenas. Eu só posso imaginar como deve ser o português repleto de cantonês ou mandarim que se fala em Macau. E pra mim soa agradável como um abraço psíquico entender o que fala um amigo de Cabo Verde, Angola ou Guiné Bissau. Mas o lance é que enquanto o latim foi uma língua artificial criada pra justificar e amarrar o processo de centralização da escrita na empreitada biruta de formar os estado-nação modernos, toda a escravidão e o genocídio e tal, o português meio que virou seu outro lado da moeda, seu alter-ego obscuro, sua versão falada na rua, então o português era meio que a linguagem de malaco de antigamente, aquela coisa de captar bem rápido as próximas gírias que vão entrar em circulação, e de saber fazer negócio em qualquer língua e contar piada em qualquer dialeto e jogar baralho com qualquer estrangeiro. Mas entre WHAT IF e o que SERÁ QUE SERÁ, eu não tenho nem pergunta nem afirmações pra essa reflexão. São sensações que o inglês me evoca e para as quais o português me desperta. Sou péssimo em inglês. Me comunico pessimamente e entendo muito mal. Com muita dificuldade. Ainda assim me vejo pensando em inglês às vezes, por conta do quanto essa língua é presente (mesmo aqui em santo amaro, eterno e orgulhoso reduto nordestino de sumpaulo) e também por conta da sua aderência fonética que convida a psiquê a querer reproduzir aquela linguagem. Como músicas cuja melodia grudam na memória. Pra exorcizar sua mente de jingles satânicos desse tipo sugiro o inglês de patuá, feitiçaria linguística realizada pelos dedos desse caçador de vampiros, que absorve as palavras do colonizador e as resignifica, liberando a energia mágika delas que antes estavam amarradas.

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E quando a voz sai invertida? Já viram disso? Quando as palavras traem a intenção. O canto do bode. O resultado sempre soa trágico. Outro dia estava eu cansado a beça (ó lá já tentando me justificar) e conversando com minha filha e fazíamos uma lista mental de coisas pra comprar no mercado e saiu da minha boca a frase “é melhor comprarmos outro condicionador porque desembaraçar esse cabelo ninguém merec*” travei antes do fim mas já era tarde e minha parceira, mãe da pequena, negra, olhou pra minha cara e falou “ninguém o quê?” e eu senti minha boca encolher até virar um cú e entrar pra dentro da minha cabeça como uma boca de tamanduá ao avesso fui de lobo a capelobo invertido num instante e todo meu sangue escorreu pro meu próprio submundo particular e eu senti todo corpo suprimido se dobrar de vergonha como um tatu-bola se encolhendo e eu quis me enterrar e hibernar e ficar em silêncio pelos próximos nove meses pra ver se eu paria algo com uma sabedoria que pudesse compensar a bobagem que me escapou. Ninguém merece? Seu branquelo filhodaputa você é que não merece a honra de desembaraçar esses cachos. Seu cuzão palmito de cabelo escorrido do caralho. Minha sensação fora de que que sofrera uma possessão. Como se essa frase do senso comum, esse jargão tipicamente televisivo “ninguém merece” tão naturalizador quanto vulgar, tivesse aderido na minha mente e possuído minha linguagem. Porque eu falei assim? Se não me sinto assim. Se não penso assim. Porque minha voz fez isso?

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Então não importam nossas autodefinições. Não importam as historinhas que contamos pra compor nosso mito-ego. Porque não importa se eu sou ou não cristão, se eu sou ou não racista se eu sou ou não misógino. Num contexto cristão, racista e misógino eu posso agir e falar como um cristão racista misógino mesmo estando perfeitamente convencido de que não sou essas coisas. E com isso posso contribuir sim para reforçar esses aspectos “culturais” (af!) mesmo enquanto racionalmente está muito claro pra mim que não faço isso ou sem me sentir parte disso. O brasil é indubitavelmente cristão e se autoproclama assim com razoável desembaraço, mas o brasil também é misógino e racista e você pode apostar que boa parte dos misóginos e racistas não se autoproclamam assim, provavelmente nem se enxerguem assim. Tenso. Árdua luta. Expor e ridicularizar a figura heroica que formamos de nós mesmos, como cracas de ego encrustando em nossa alma. Ressaltar onde somos fracos, onde estamos vulneráveis. Exibir como fomos tolos, como somos tolos de achar que fomos tolos naquele momento mas agora já sabemos das coisas. Assumir nossa burrice porque essa mediocridade é o que nos salvará das garras do poder. “Shoot first , think never” atire primeiro, pense nunca. Esse é o mantra do ESCOLHIDO, do grande caçador de demônios interdimensional Ash Williams, que muito tem a ver com nosso amigo John Constantine no que diz respeito à iconoclastia metodológica. Estar imerso num mundo de demonologia e ocultismo cagando e andando pro latim, pras línguas antigas e pra ritualística ou pros livros proibidos, pros saberes secretos, pras proibições e imposições de qualquer natureza e gênero. Desprezando e ridicularizando TODA expressão de poder.

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Então, pra concluir esse estudo, eu gostaria de propor em primeiro lugar algumas rinhas de leitura onde podemos colocar nossos cães e galos de briga melhores treinados pra se estraçalharem e, sob a excitação sádica de nossa sede por conhecimento, apresentar algumas perspectivas edificantes acerca desse tema tão complexo quanto prazeroso: A bruxaria. Em especial devo indicar o título PROMETHEA do bruxo criador do personagem que aqui nos guia com a candeia, a fogueira e o crivo ardendo. Promethea aborda os principais conceitos relacionados à magia de forma bastante didática, até careta em sua generosidade educativa. Uma leitura deliciosa com uma tremenda arte, mas foi na “coincidência” de encontrar o MANGÁ WITCHES de Daisuke Igarashi (supracitado) ao mesmo tempo que terminava de ler a série Promethea que um grande estalo me desconstruiu o poderio mítico das palavras, me fazendo ver que as palavras sozinhas num livro são sujeirinhas rabiscadas, glifos e nada mais. É a palavra empregada pela voz, pelo fôlego divino dos seres humanos que contém a semente primordial que chamarão por aí de CABALA, o abracadabra dos zuriguiduns que quebram tudo que é urucubaca e desmontam quarqué ziquizira e deixam o corpo fechado e afastam o mal e trazem SÓ ALEGRIA E FELICIDADE num cheiro de alfazema e alecrim. Witches é sobre isso. O banho de salmoura. O poder do gengibre, do alho, do manjericão. Esse mangá te traz de volta pra baixo, pra terra, quando você começa a pirar e ir longe nas referências obscuras e hiperintelectualizadas da alta magia de promethea. Então o cruzamento ou o encontro ou o confronto de PROMETHEA e WITCHES é minha dica mais valiosa de leitura por aqui. Pode não ser O mas é um canal pra estudar magia através de quadrinhos.
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Depois eu gostaria de apresentar uma lista comentada dos autores de HELLBLAZER, o que inclui um modesto estudo numerológico dos 18 escritores que já passaram pelo título. Vou manter essa lista em aberto e convidar outros estudiosos e entusiastas a tecer aqui seus comentários, quem sabe não vamos coletivamente encorpando essa seleção de escribas, comparando as fases e arcos e observando o tom e os temas conduzidos por cada um deles. Da primeira edição até a 300, agora podemos encarar HELLBLAZER como uma obra terminada e não mais como um periódico e isso nos confere certa estabilidade para comparar as fases e destrinchar a semiologia inerente a cada uma delas. Então você leitor, interprete ou praticante da gibimancia pode também somar essa crítica ao título HELLBLAZER. Revele algo sobre a obra, duma passagem específica ou do tom geral o que melhor lhe aprouver– REVELE o que aprendeu com o santo jão e suas trezentas & 13 fogueiras.

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MAPA DE AUTORES

1. DELANO se debruçou de saída na descrição primeira do personagem pelo seu criador: um mago da classe operária. Delano fundou as edificações de Hellblazer cravando vigas bem fundo no coração da crítica social e política de maneira que a partir dele cada um dos demais autores de alguma forma reforçaram essa ideia.

2 e 3. MORRISON & GAIMAN responsáveis por escrever histórias curtas para que Jamie Delano pudesse “descansar”. Uma obra de fôlego exige descanso adequado e é legal ver como isso é resolvido de maneira quase comunitária pela editora bruxona Karen Berger. MORRISON agita as correntes dos fantasmas do terror nuclear enquanto Gaiman nos brinda com uma fábula shakesperiana de empatia e compaixão.   

Ao que DELANO retoma com vigor renovado e aprofunda temas dos mais diversos, sempre tocando o nervo exposto de sua situação histórica, no qual o contexto é abalança para mesurar o grau de radicalidade das ideias expostas nessa fase.

4. DELANO/FOREMAN a parceria com Pugh, sobre cães e homens.

É incrível notar que Delano exprime suas palavras quase que num cântico, num transe sintético e cada conceito, cada tema, cada abordagem que você tenha em HELLBLAZER nos autores subsequentes torna-se uma espécie de reforço, de estudo, do que primeiramente fora feito pela escrita hiper-radical de Delano. Quando você lê a fase de Delano na íntegra percebe que tudo o que virá em seguida já está ali, pré anunciado, quase que profeticamente. São como os ciclos de vida, os setênios segundo a medicina antroposófica. Cada volta no ciclo gera uma revisitação.

5. ENNIS Autor também profícuo que popularizou tanto título quanto personagem pra toda uma geração de leitores em especial aqui no braxil. Levou o elemento ROMANCE pra outro nível com os encantos e desencantos com a irlandesa Kit. Ennis é ótimo pra pegar todas as bolas que Delano deixa pingando e fazer o passe de mestre com elas, desenvolver, aprofundar, complexizar. Fase maravilhosa. A tônica de Ennis pra abordar o racismo, o conservadorismo é implacável. Destaque para um grande marco cronológico, a história QUARENTA, na qual john vira um quarentão, oficialmente um velhote.

6. SMITH

ENNIS

DELANO

7. CAMPBELL

8. JENKINS Outra das fases mais extensas de HELLBLAZER. Jenkins aprofunda várias aspectos acerca dos demônios (destaque para a “humanizada” que o primeiro dos caídos sofre) e do mundo feeérico da magia natural primitiva bretã.

. ENNIS

9. ELLIS desenvolve uma iconoclástica crítica a Aleister Crowley. Roteiros viscerais e ultraviolentos. Destaque para a história SHOOT! a única a ser censurada e engavetada em toda a história do título (reeditada posteriormente), trata do fenômeno cultural de assassinatos escolares na américa do norte.

10. MACAN

11. AZZARELLO reza a lenda que é o único norte-americano (teve tb o Jason Aaron numa passagem muito breve de duas edições se não me engano) a escrever HELLBLAZER. Definitivamente o único americno a escrever uma fase de fôlego do título. Escreve uma temporada de john nos estaduzunidos, em especial o arco NA CADEIA com arte do monstro Rich Corben. É corajosa e mordaz a decisão de Azzarello de abordar aprópria AMéRICA como tema ou pano de fundo conceitual para as histórias. Na minha piração ele faz uma releitura excêntrica de BATMAN no arco de conclusão da sua fase, mas vou deixar pra defender essa teoria mais adiante.

12. CAREY fase pesadíssima, narrativa extremamente opressiva. Quando você achava que John não podia se foder mais…

13. MINA 

CAREY

14. DIGGLE

15. AARON

16. DIGGLE

17. DELANO, AZZARELLO, GIBBONS, MIÉVILLE, MILLIGAN

18. MILLIGAN fecha o título com chave de ouro. Tudo no roteiro de milligan é transmutação de chumbo em ouro. Pesado como chumbo, rico como ouro. Fase magnífica. A arte de Bizley é tipo como esse cara não faz arte pra hellblazer desde o começo?!?!?!? mto foda demais mas vc tb percebe que a narrativa está out of leech ou cut loose ou gegen die wand a perspectiva de encerramento convida a um acirramento da radicalidade de algo que já havia começado radical há quase quarenta anos. Realmente magnífico. Faz pensar que talvez seja melhor mesmo que tenham acabado com o título. Encerrar por cima como se diz. Cum gran finale e us caraio. Mas me faz lembrar também que quando estive com Delano mais meu parça neomitosófico Dimitri Bit em 2012 (Jamie Delano veio ao braxil promover Nação Fora da Lei) perguntamos a ele sobre os rumores que já farejávamos no ar do encerramento no título pela VERTIGO e sua resposta foi: isso seria como matar sua galinha dos ovos de ouro…

ESSE MAPA/ESTUDO DOS AUTORES ESTÁ EM CONSTRUÇÃO E ABERTO PARA CONTRIBUIÇÕES…

CONTINUA…

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Escafandro – RegisY.

Posted in Cantos Pré-Históricos, novidades on janeiro 30, 2018 by PRFSSOR-Regiz-Y.

Começo este post psicodelicamente com Flight of The Conchords (2007-2009) na série do Legião(2017). Não é bem assim, calma, explica direito professor? Ah do Flight é só o Jemaine Clement como Oliver Bird.

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notinha: Aliás isto aqui é um Concorde. O voo dos concordes de acordes é a brincadeira que eles fazem com o nome da banda. Como os Beatles, que juntaram a palavra Beat com Beetles, Besouros.

Um mutante cuidador de outros mutantes, mas acaba se perdendo dentro de seus poderes telepáticos congelantes, uma espécie de buraco de minhoca do coelho da Alice, seu poder ativa uma defesa levando-o para seu safe place, um local aquático congelado em que ele pode bebericar seus drinks e ouvir ragtimes e música clássica de seu agrado. Jemaine e sua dança sensual, Oliver Bird dentro do Escafandro escapando a loucura de um mundo que os odeia que ele jurou proteger. A única questão é que ele não se lembra disso. Um poder que o faz esquecer memórias, como esqueceu sua esposa e seu passado, muito parecido com o fator de cura de um certo James Howlett, que o protege de memórias negativas.

O que é um Escafandro?

Quem é o pai?

Quem tá por fora?

Quem é que joga fumaça pro alto?

Legião, David Haller, filho de Charles Francis Xavier e Gabrielle Haller. Gabrielle conheceu Erik e Charles num centro de recuperação de pessoas afetadas pela Segunda Guerra, por ser Israelense e Judia ficou presa durante o regime nazista. Legião foi criado pela lendária e marcante fase 80s dos X-Men, por Chris Claremont e Bill Sienkiewicz, nos Novos Mutantes 25 (1985). Seus poderes são extremamente complexos, pois ele abriga em sua mente múltiplas personalidades, e cada uma dessas personalidades são mutantes com vontades próprias, mas na realidade ele é diagnosticado com esquizofrenia. Muito irônico ele ser filho do mais poderoso telepata mutante. No começo sua mente abrigava três personalidades centrais, Jemail Karami, JackWayne, and Cyndi, telepata, telecinético e pirocinética respectivamente.

Dentro do escafandro está o mergulhador, que em busca do desconhecido parte sem saber do futuro, entra dentro d’água, para encontrar seus amores. Suas amoras. Mulher e Filha sereias de um vasto mundoceano que está no futuro que estaria por vir. Assim como os poderes do Legião sonhar outro mundo, é o que ele faz mais de uma vez no universo dos mutantes, quando reescreve a Dinastia (M)utante ou quando assassina seu pai sem querer querendo e cria a Era do Apocalypse.

Soñé otro mundo tan lejos y tan cerca
Soñé otro viaje cuatro caminos cinco destinos
Soñé la risa soñé la ilusión
Soñé otro mundo
Soñé menos joda
Soñé una mañana que
Al fin se podía
Soñé de un amor de noche y de día
Soñé la fortuna soñé la alegría
Soñé de la luna que no se rendía
Y que a mi gato le decía
Calavera no llora
Serenata de amor
Calavera no llora
No tiene corazon
Soñé sin guerra
Soñé sin temores
Soñé sin vallas
Soñé sin palizas
Soñé una faena que nunca se acaba
Soñé una verbena que siempre otra vez
Calavera no llora

Amora. Namora. que não é a mesma persona de Marrina, mutante que também integrou a Tropa Alfa ou a Tropa Gama, não tenho certeza no momento, seriam as contrapartes femininas do Príncipe Namor citado no post anterior. Marrina Smallwood (1983), criada por John Byrne. Ah Marrina não é mutante mas sim uma alien da raça Plodex. Namora (1947) seu nome original seria Aquaria Nautica Neptunia, mas Namora ficou mais fácil e parecido com Namor.

 

Um náufrago perdido numa ilha mental isolada.

Pro mundo inteiro ir dormir e a gente acordar. Pro dia nascer feliz.

E de lá vou translucir telepaticamente Pablo Neruda mas una vez. una vez mas. mas. mas…

A Canção desesperada

Emerge sua recordação sobre a noite em que eu estou

No nó no rio do mar lamenta obstinado.

Abandonado como as docas ao amanhecer

É hora de partir! Abandonado!

Sob meu coração pétalas frias me lavam

O fosso de escombros, feroz curva de náufragos!

Em você se acumularam as guerras e os voos

De você bateram as asas dos pássaros cantores

Tudo que cê tragou, assistindo lá do alto

Como o mar, como o tempo, tudo em você foi naufrágio!

Era a hora alegre do ataque e do beijo.

A hora do estupor que ardia como um farol.

Ansiedade de piloto, fúria de um mergulhador cego

embriagado e turvo de amor, tudo em você foi um naufrágio!

E na infância das névoas da minha alma alada y querida

Descobridor dos sete mares perdido, tudo em você foi um naufrágio!

Você veio da dor, e se agarrou ao desejo.

Você caiu na tristeza, tudo em você foi um naufrágio!

Eu desconstruí uma muralha do rei das sombras,

eu fui além do desejo e do ato.

A minha Carne que amei y perdi,

a você nesta hora úmida, evoco y canto.

Como um copo encheu minha tristeza infinita,

y  como o infinito te trincou como um copo.

Era negra, saudade negra das ilhas,

y ali, mulher de amor, me acolheu nos teus braços

Era a sede e a fome, y você foi a fruta.

Era o duelo das ruínas, y você foi o milagre

A mulher não sei como você me segurava

na terra da tua alma, y na cruz dos seus braços!

Meu desejo por você foi terrível e  de pavio curto

o mais revoltoso y ébrio, o mais apertado e ávido.

Cemitério de beijos, ainda há fogo em suas tumbas,

ainda os cachos, queimavam, das picadas dos pássaros

Da boca mordida, dos membros beijados,

dos dentes famintos, dos corpos trançados

A cópula louca de esperança e esforço

em que nos laçamos e desesperamos

Y a ternura, leve como água y farinha

Y a palavra proferida apenas pelos lábios

Esse foi o meu destino e em minha viagem  meu anseio

y meu anseio se perdeu, tudo em você foi naufrágio!

No fosso dos escombros, despejava tudo em ti

que dor não expressava, que ondas não te afogaram.

De tombo em tombo não acendia e nem bolava

de pé como um marinheiro na proa dum barco

Não floresci pelos cantos, nem rompi as correntes

No fosso de escombros, poço aberto y amargo

Pálido mergulhador cego, desmaiado miserável

descobridor dos sete mares perdido, tudo em você foi um naufrágio!

É hora de partir, a dura e fria hora

que a noite se sujeita todo dia

O cinturão barulhento do mar raspando na costa

Surgem frias estrelas, emigram os pássaros preto

Abandonado como as docas ao amanhecer.

Só a sombra trêmula se retorce nas minhas mãos

Ah mas além de tudo. Ah mas além de tudo.

É hora de partir. Abandonado!

Eu em descascando batatas no porão de algum navio pirata.

Estou literalmente descascando batatas.

O escafandro está associado a esta imobilidade, estar entre-terras,  terramar, bem depois de onde fica além mar, e ali dentro, movimentos restringidos dentro da armadura, um corpo pesado que consegue andar no fundo do oceano. O filme O Escafandro e a Borboleta (2007), Le scaphandre et le papillon, filme autobiográfico do editor Jean Dominique Bauby, que fica paralisado após  sofrer um grave acidente vascular cerebral e entrou em coma, e assim perde a capacidade de falar e se movimentar, associada a síndrome do encarceramento, na qual há incapacidade de movimentação mas que as faculdades mentais se mantêm perfeitas. Escreve o  livro que tem o mesmo nome do filme, com a ajuda de uma fonoaudióloga. Dessa forma, cria um mundo próprio de seus anseios internos, é a Borboleta que um dia precisou fugir de si e voar. O escafandro, representa o peso imóvel de um mergulhador, um fardo injusto para um jornalista que precisa estar em movimento. Pensamento leve para colher no dia.

Navegador que vai ao fundo do mar. Il Fondo al mare. Como no post anterior, as brujas que vivem nas pedras entoando Silfos e Gênios dos ventos para que comandem as salamandras d’água e salamandras do fogo.O Rei dos Silfos, Paralda que faz bater as portas e as janelas, que batem nos batentes, e faz as velas içarem e levarem os barcos. E ali movem as Ondinas, as nereidas as elementais das águas. Dríades no fundo das algas, aquele elemento verde que compõem os outros elementos.  O licor vivo vermelho cor de sangue, o sangue que corre nas veias abertas de todo o planeta. Em minhas magias com ervas, colonbian gold, green lemon, blue dream, sensi star, strawberry cough, purple kush, and the golden curry. As Brujas de Zugarramurdi (2013), do diretor Àlex de La Iglesia, elementos fantásticos para um filme de bruxa, Baba Yaga, Espãna, Pazuzu, Exorcismos, corpos desnudos, liquore strega, Bob Sponja, Alien, homem invisível, miss daisy, GTA San Andreas, Dylan Dog, Frida Kahlo, FIFA 14 e por aí vai, só vendo para entender do que se trata.

A cadeia da vida que engloba todos os seres que tem sangue vivo, vermelho verde e amarelo ouro. Representam a unificação do povo africano,  pelo Imperador Menelik I. O sangue dos mártires pan-africanos, a vegetação abundante e cheia de vida e a riqueza dourada e I-vital. E nós enquanto fauna nadamos num rio emaranhado de veias e artérias. E mamam no peito da mama terra, Pachamama. E nanam neste mesmo lugar  para sentir o calor dos corpos suados. Os animais em conjunto começam sua cantoria, uma ópera de caos e cacofonia.

E hoje que não é dia 20/01, dia da falta de restrições, um desaniversário; o dia mais importante de todos para mim, que espero toda virada de ano, desses genios que amo, contemporaneo y caótico ! Que transforma os sonhos na realidade, realidade que ñ existe,subjetiva e vive no nosso inconsciente, no mundo onírico de nossas personalidades! ” Pensamento selvagem ‘ é sincronico e diacronico ao mesmo tempo” Minhas maiores inspirações de vida, Os palhaços de Fellini sempre me faz pensar em meu pai Carlitos “Meu pai era o carlito e está vivo no infinito/ E Se Vestia bem um palhaço bem bonito”

Animais como um papai e uma mamãe recebendo seu filhote..


Fellini é minha infancia memória – olho, se reconhecer, ” Ser pai meu pai seu pai” 

Nós somos como o sonhador que sonha e então vive dentro do sonho. Mas quem é o sonhador? – Twin Peaks 2017, sonho de Gordon Lynch”Cole

Mudando de assunto também, mas esta cena marca minha infância, regredindo um pouco dentro de minha memória cam, quando jogava bola ali por aquelas ruas, santa ifigênia e rua vitória. Rato do centro conheço essas ruas como a palma de minha mão.

Carlitos. Meu pai.

Lynch é o cara que entra psicologicamente na sua cabeça, é a jornada de Buda contra o tempo, sempre me fez adentrar profundamente em meus sonhos e anotá-los analisa-los e ainda adormecido num caderno a cabiceira da cama deixar lá minhas notas. No hay banda nesta dolce vita. “As idéias são como peixes. Podemos encontrá-los à superfícies das águas, mas lá embaixo, nas profundezas, é que eles são maiores. E sabem qual é a principal isca para os apanhar? O desejo. Temos que desejar as idéias. É o desejo que traz cá pra cima esses peixes graúdos.”David Lynch
“Você existe apenas naquilo que faz” Federico Fellini

Meu pai veio de aruanda E a nossa mãe é a yansã.

Ser pai meu pai seu pai

E o palhaço é Chacrinha, também do mesmo dia. Velho guerreiro, como todos os palhaços santos dos circos mambembe de vida precária versus a satisfação do espetáculo.

Chacrinha continua
Balançando a pança
E buzinando a moça
E comandando a massa
E continua dando
As ordens no terreiro

Alô, alô, seu Chacrinha
Velho guerreiro
Alô, alô, Terezinha
Rio de Janeiro
Alô, alô, seu Chacrinha
Velho palhaço
Alô, alô, Terezinha
Aquele abraço!

Vou aproveitar para voltar mais no tempo ainda, e adentrar o dia anterior. 19 de Janeiro, ferinhas que compõem esta data que gostaria de mencionar:

1-Feijão meu amigu

2-Janis Joplin

3-Edgar Allan Poe

a trinca pratríade patríde da alegria melancolica dia dos sonhos e visões cogumelos

Aproveito para anexar um trampo que fiz pra faculidade de Letras aí, está em Inglês. Mas me dou ao trabalho de me retraduzir, é uma adaptação do Coração Delator, publicado pela primeira vez em 1843 em uma revista de Boston. É um Storyboard que tirei a pior nota possível, mas eu gostei, pode notar a intertextualidade Charlie Browniana. Lembra muito uma outra hq minha que jápostestei aqui pelo blog.

O Coração Contador de Edgar Allan Poe by Régish – Eu tive perdido o controle de minha mente! Escute! Escute! E eu lhe contarei como isso aconteceu! Seu olhos eram como de um urubu! Toda noite lá pela meia noite! Eu ia e ficava lá silenciosamente, assistindo o seu sono! Eu era amigável com o velho o quanto eu poderia ser, e cuidadoso e amoroso. A hora tinha chegado! Eu corri para dentro do quarto, choramingando. Morra! Morra! E ali ele estava morto! Seu olho de abutre não poderia mais me incomodar nunca mais! Primeiro eu cortei fora a cabeça. E puxei tres tábuas do chão, coloquei os pedaços do corpo ali! Enquanto eu terminava este meu trabalho. Eu ouvi alguém na porta! Knock ! Knock! Knock! on heavens door.

Três homens estavam na porta. três oficiais de polícia. Minha cabeça doía e eu ouvia um estranho som dentro de meus ouvidos! TUM TUM TUM. TUM TUM TUM. Mais e mais alto.TUM TUM TUM. Mais e mais alto! “Sim! Sim, eu matei ele. Puxe estas tábuas e você verá ! Veja ! Eu matei ele. Mas porque este coração dele não para de bater !? Porque não PÁRA?! FIM!

Isto tudo me fez lembrar do post anterior, no qual ainda preciso acrescentar esta imagem importante para a mitologia das Naiades. A estória de Hylas, muito amigo de Hércules, um amor e amizade até maior do que eles podiam controlar, foi sequestrado pelas Naiades, Ninfas de água doce do rio por causa de sua beleza e nunca mais foi encontrado. Se falava muito sobre a amizade dos dois. Na imagem vemos a Naiade Dryope se apaixonando por Hylas, diz-se que foi aí que ele realmente desapareceu, como o Amor, o amor verdadeiro tão difícil de encontrar e por isso pode desaparecer sem deixar vestígios. Há quem diga que ele transformou-se no ECO, as mesmas Naiades que o sequestraram fizeram que sempre quando Hércules estava procurando seu amigo, ele gritaria: – Hylas! E ele ouviria seu nome, mas como o eco seu nome voltaria: -Hylas!

A Naiad or Hylas with a Nymph by John William Waterhouse (1893)

Amantide – Scirocco (1987) um filme oitentasso que ficou como Sahara Heat, Calorzao do Saara, dirigido por Aldo Lado, que se passa quando a fotógrafa Lea visita Alfredo, que trabalha no Marrocos, mas devido ao machismo da região é sempre olhada pelo canto do olho, por ser uma mulher independente e fotógrafa.

A palavra Amant, encontra-se dentro da palavra, adiciona-se o sufixo “-ide” ; dessa forma formando o nome de componentes químicos como oxigenio e óxido. Scirocco é um tipo de vento quente, geralmente cheio de pó ou chuva, que vem do Norte da África e cruza o Mar Mediterrâneo para o Sul da Europa. Scirocco é a cultura que vem do Marrocos, como o vento típico somente desta encruzilhada.

Rare Orchid Mantis

 

Misturas genéticas, Yokais, Louva – Deuses, é isso que aí eu retomo o começo do post que tá tudo misturado… memo mome.. Nemo.. Metamorfoseando em um belíssimo pássaro pica pau macaco leão doirado com testa di tigre… Prometemos…

Antonio Ligabue – Testa di Tigre (1940). Ligabue fora transferido de escola  para deficiente mentais a instituições psiquiátricas e de lá para manicômios onde fica até o fim de sua vida, nasceu na Suíça mas pintava o que observava e vivia de forma bem primitivista na Itália.

 

Amantide também é o Louva Deus, amanti de religiosidade. Mistura genética e fritura cultural, como citado no calorzão que encontramos nos países quentes, como no calorzão de hoje tipo ônibus em Marrocos que socorram meram me mera delavera delaberaberabom… que? tra tra tra duçicion bilingual by regizin de macaco macacos me mordam

Tendríais que ver el corro por la calle del cuello – cê tinha que me vê pulando pelas ruas de pescoço
Imitando imitando los pájaros de alto vuelo volando – Imitando imitando  pássaros voando altão vuando
Tendríais que ver a los chavales por la calle armando bronca – Tinha que ver as mulekada tomando bronca na rua
Vacilando al son de la beraberaboom – Vacilando ao som da veraveraboom
Pensamientos pintados de color azul y gris azul y gris, – Pensamentos pintador de cor azul y cinza azul y gris
Prisioneros de la noche amantes del pan pan y al vino vino – Prisioneiros da noite amantes do pão y Vinho vinhoypão
Vino viene, vino va – Vinho vem, Vinho vai
Por el barrio marinero la gente viene y va – Pelo Bairro Marinheiro a gente vem e vai
De arriba abajo va – pra cima pra baixo vai
Por el barrio marinero la gente viene y va – Pelo Bairro Marinheiro a gente vem y vai
De arriba a abajo va – de cima pra baixo vai vai vai
Aquí no hay banderas solo hay realidad – aqui não tem bandeiras só realidade truta
Tendríais que ver a los dinosaurios de la plaza – Cê tinha que ver os dinossauros na praça
Soltando el alma – soltando a alma
Si no tienes donde buscar y no encuentras – se cê não tem onde buscar e não encontra
A escudellers vente a danzar baila – Os palhaços vem dançar  e bailar
Y aquí no hay tiempo ni hora ni trampa ni cartón – y aqui não há tempo nem hora  nem atrampalho nem cartão
Y aquí no hay tiempo ni hora ni trampa ni cartón – y aqui não há tempo nem hora  nem atrampalho nem cartão
Y aquí no hay tiempo ni hora ni trampa ni cartón – y aqui não há tempo nem hora  nem atrampalho nem patrão
Que la gente anda suelta y de colocón. – Que todo mundo anda junto  solto y colocadão

esse álbum do Macaco chama-se El mono en el ojo del tigre

Tem também um filme sobre L’Amantide (1977) que não faço idéia do que se trata. Aliás já não sei mais que assunto estou falando, estrofalando, escooufalandro, escafandro..Isso.era isso…. escafandro

Bidoni Sardegna, sala della Casa della Strega museo

Eu que já não saio mesmo de casa para ficar numa paz vendo filme e tomando vinho, sempre tenho coisas a fazer, como este post por exemplo….generic excuses…generic excuses…generic excuses…melhor agora que tenho um bebe para cuidar!

Agora como já não tenho mais o que complementar este post, vou postar um gibizão na íntegra que o tibes ficou pedindo implorando para por. Uma história do Namor que tem um Hipocampo, e blá blá blá….etc..

mas ae vai… leia ouvindo este Bowie aqui..q nasceu dia 08 de Janeiro tb… e está de paiaço

   

 

Termino este post pedindo um cafézinho.

 

Dentro d’água – Régis Y.

Posted in Cantos Pré-Históricos, novidades on janeiro 27, 2018 by PRFSSOR-Regiz-Y.

“E se ninguém vem buscá-lo, não haverá memória. Somente Lendas”

Do lado de cá um Caprino, um Bode, um Baphomet, a estrela da manhã que alcança o céu como um cometa, como o Bode escalando as montanhas de forma arriscada e malabarística, um trapezista de um circo natural.

De outro lado este Hipocampo, metade bode e metade peixe, submersso dentro d’água; os acompanhantes das Nereidas e os responsáveis pela tração da carruagem de Poseidon.

 

 

 

aigikampoi (Bode com rabo de Peixe)

 

 

 

Aigipan – Quando os Deuses fugiram do monstro Typhoeus, e se esconderam em suas formas animais, Aigipan se transformou num Bode com rabo de Peixe. Dessa forma ele recupera os tendões das mãos e pés de Zeus, que haviam sido roubadas pelo monstro gigante, Zeus o recompensa com a constelação de capricórnio no céu. :O !

O Hipocampo também é a parte do cérebro responsável pelo armazenamento da memória, tem este nome devido a sua semelhança com um cavalo marinho.

Da ponte prá cá e da ponte prá lá, estão as águas turbulentas, o útero que armazena a vida cheia de líquido amniótico que armazena informações. Traficando informação do sexo a carne, do cérebro a memória, do parto à Terra. A transição, são os ventos da mudança trazendo as ondas.

“Eu nunca tive bicicleta ou vídeo-game, agora eu quero o mundo igual cidadão Kane. Da ponte pra cá antes de tudo é uma escola, minha média é dez, nove e meio nem rola”

Aquaman, criado por Paul Norris e Mort Weisinger em 1941, Arthur Curry, abandonado pela Rainha dos Oceanos, Atlanna que ao se apaixonar pelo humano da superfície, Tom Curry, dão a luz ao filho bastardo de Atlântida. Consequentemente, em um futuro próspero o Rei desta Atlântida perdida no imaginário da humanidade, retornará. Com poderes aquáticos, resistência, força, exímio nadador e comunicação telepática com todos seres aquáticos e além de seu cetro de Poseidon, que lhe garante hidrocinese. É o Aquaman de que ouvimos piadas, que integra a Liga da Justiça e os Super amigos do desenho.

Sua estória entrelaça-se com outro personagem, Namor o Príncipe Submarino, da Marvel. Criado por Bill Everett em 1939, foi resgatado por Stan Lee e Jack Kirby para uma história com o Quarteto Fantástico, na qual ele buscando uma esposa encontra em Sue Richards “a fêmea ideal”. Mestiço como Aquaman, entre duas raças Homo Mermanus, sua mãe a Princesa Fen também de Atlântida, seu pai Homo Sapiens Sapiens, o humano Leonard Mckenzie. Este viria a ser o primeiro mutante, Homo Superior do universo Marvel.

 

Ambos heróis incompreendidos pela superfície, algumas vezes revoltosos contra os seres que vivem na terra. Ambos abençoados por Poseidon, o verdadeiro Rei dos Mares. Ambos mostram seu caráter ecológico indo contra a capacidade destrutiva dos seres humanos, que poluem os oceanos e caçam predatoriamente animais aquáticos.

Erik Alos – Spongebob Bp Oil Spill

Nas profundezas dos oceanos escondem-se vilões para os seres da superfície.

O próprios tubarões e baleias que têm suas barbatanas cortadas em rituais humanos cruéis.

Como o boto no Brasil, que tem seus testículos cortados. O galanteador boto cor de rosa, que na mitologia brasileira transforma-se em homem para seduzir as mulheres dos homens da terra.

É a revolta do Mar contra a humanidade, é o Tsunami (津波)

A onda monstruosa, quando o mar revoltoso está cansado da humanidade, Poseidon manda seus filhos dentro das ondas, como em Ponyo de Hayao Miyazaki (2008). Uma estória de amor, ainda assim mais bonita que a Pequena Sereia da Disney (1989); de duas crianças de 5 anos que se amam,  Ponyo uma Sereia, uma Nereida, filha de um louco marinheiro e da Deusa dos Mares, Granmamare, uma mistura de deusa Italiana com Nórdica, algo como uma deusa dos mares pré histórica. A história trata do  amor proibido de um criança peixe e uma criança humana, a revolta dos oceanos a tudo isso, chega a misturar os DNAs de ambos, e transforma a terra de volta na era devoniana pré-histórica dos Oceanos, fauna e flora ancestral involuída, gigantescos leviatãs passeiam pelos Oceanos novamente.

Oceano ( Hai Kai de Ency Bearis, tranduzido por mim Régis Y.)

Oceano Adorável

Cena Mavilhável

Não me venham com Tsunamis

A real Pequena Sereia de Hans Christian Andersen de 1837, tem sua origem real numa fábula italiana. Em minha Luna de Miele, conheci a Sicília, e lá conheci a verdadeira estória destes seres aquáticos humanoides que acalentam os corações dos amantes das praias e oceanos, do calor do Sol batendo na água salgada, gélida e misteriosa.

Que tanto inspiram poetas pela sua beleza pura e com com sua destruição irrefreável. Viaggio in Italia(1954), de Rosselini com Ingrid Bergman, um casal que vai para Itália e tem revelações sobre si e seu casamento, belíssimo trabalho artístico mostrando paisagens de Nápoles.

O Grande Oceano ou Foi Somente Onda (de Pablo Neruda – Cassiano, traduzido por mini-mim again)

Se dos teus dons e tuas destruições, Oceano,
as minhas mãos
pudessem separar uma medida, uma fruta, um fermento
escolheria seus repouso distante, as linhas do seu aço,
sua extensão vigiada pelo ar e pela noite,
e a energia do seu idioma branco
que destrói e derruba suas colunas
em sua própria pureza demolidora.

Foi somente onda com seu peso ensalado
que tritura as costas e produz
a paz arenosa que rodeia o mundo:
é o volumoso centro da força,
a potência extendida das águas,
a imóvel solidão cheia de vida.
Tempo, tal vez, copo americano cheio de vinho
todo movimento, unidade pura
no selo da morte tem vísceras verdes
das brasas escaldantes a totalidade.

Do braço submergido que levanta una gota
não fica senão um beijo do Sal.
Dos corpos dos homens
em suas orelhas-margens, uma úmida fragrância
da flor molhada permanece.
Tua energia parece deslizar sem se gastar,
parece retornar ao seu repouso.

A onda que desprende,
arco de identidade, pluma estrelada,
quando  depenou foi só como espuma,
e regressou e nasceu sem se consumir

Toda sua força volta a ser origem.
Só entrega despojos triturados,
cascas que se separaram de seu carregamento
que expulsam a ação de sua abundancia,
todo aquele que deixou de ser cardume.

Tua estátua está extendida a mais alta das ondas.

Viva e ordenada como o peito e o manto
um só ser e suas respirações,
em sua matéria como luz içadas,
planícies levantadas pelas ondas,
formam a pele nua do planeta.
Cometa em seu próprio ser e sua substancia.

Enxágua a curvatura do silencio.

Com teu sal e mel que fazem tremer o copo,
a cavidade universal d’água,
e nada lhe falta em seu caráter-cratéra
desolado, num vaso fechado:
cumes vazios, cicatrizes, sinais
que vigiam o ar mutilado.

Tuas pétalas palpitam contra o mundo,
chacoalham seus cereais submarinos,
as suaves óvulas que cavalgam a ameaça,
navegam e pululam nas escolas,
y só sobem aos fios das redes
por um relâmpago morto de escamas,
um milíltro da distancia
de suas totalidades cristalinas.

Quem é Colapesce ?

-resumindo sua estória-

a Sícilia é uma ilha com três pontas, de lá vem sua bandeira a Trinacria (a estrela com três pontas),

três pontas….hehe…..

Representada: pela cabeça cortada da Medusa, decapitada pela deusa Athenas a protetora e matrona da região, circundada por três pernas dobradas e três ramos de trigo, o trigo que representa a fertilidade, as três pernas representam as três regiões italianas, as três pontas de um triângulo: Peloro, Passero e Lilibeo. A mulher representa a beleza dessas regiões, a cabeça da Medusa é o que afasta os inimigos, pois as cobras em sua cabeça transformam os inimigos em pedra, as diversas pedras, ondas e  vulcões que circundam a Sicília.

Fertilidade e proteção, começa assim minha viagem a Itália, my Trip to Italy (2014) com Steve Coogan e Rob Brydon (que já foram citados em post anterior) Eu, professor de Inglês, sem poder falar Inglês, pois era difícil encontrar alguém que parlasse angleise, misturando Português, Espanhol e Italiano, Dante com Machado de Assis, Neruda e Shakespeare, de lá o amor e aqui o presente com minha filha em meu colo, minha filha Naia.

Passado, Presente e Futuro. Eu era um Strega, eu sou um e sempre serei um bruxo. Ser Pai, sou pai e meu pai. A barriga de minha esposa cheia de um bebezinho que seria pura alegria no passado e deslumbre para os dias que viriam.

 

 

 

Antes de adentrar o universo aquático anunciado vale citar o Monstro da Lagoa Negra, Creature from the Black Lagoon (1954), e estes seres d’água, que circundam muito do imaginário dos mares. No He-man, temos o Mer-Man e nas estórias de Hellboy, Abe Sapien que integra o Bureau of Paranormal Research and Defence. Os Dagon e demais seres Cthulhianos da mitologia Lovecraftiana. Merfolks, Merpeople, pessoas sereias, que aparecem também em Harry Potter, e em quase todos RPGs, que são as lágrimas de Poseidon, os filhos do mar.

Gojira (1954), Godzilla também reptiliano, parte aquático, chega dos mares. Para anunciar a história do menino que amava o mar:

COLAPESCE

Livre adaptação por mim mesmo:

Nicola, ou Cola como era conhecido, era um rapaz que nasceu há muito tempo atrás, nesta ilha junto ao mar, numa Sicília habitada por marinheiros, pescadores e trovadores (há duas versões, a de Nápoles e esta aqui que é da Sicília)  ele adorava os oceanos e passava tardes inteiras dentro d’ água, por isso o apelidaram de Cola-Peixe, Colapesce. Filho de um pescador aprendeu a amar o mar e a nadar junto de seu pai, sua mama sempre gritava: -“Cola saia já da água, ou vai se tornar um peixe”. Eis que então, recebe uma proposta irrecusável do rei, que sabia que no fundo do mar existia uma enorme fortuna não descoberta ainda, a ambição dos homens aflora-se da maneira que Cola nunca esperou. As fofocas sobre sua habilidade de nadar até as profundezas se espalhou e chegou ao conhecimento deste Rei. A ilha da Sicília é sustentada por três colunas gigantescas que se extendem desde o fundo do oceano até as três pontas da ilha, e em cada um de seus pilares há riquezas inconcebíveis. E lá foi Cola, a pedido do rei investigar, de lá ele retorna com a informação de que a Sicília é sustentada por estas três colunas, e existem riquezas ao redor destas, Cola traz uma taça para provar o que havia visto, mas um dos pilares está sendo destruído pela lava do vulcão e logo a ilha iria afundar. O Rei sem pestanejar requer os tesouros, e não se importa com o destino da submersão da ilha, joga uma moeda e força Cola a buscá-la. Colapesce cansado da ambição do Rei e dos homens que queriam que ele trouxesse mais e mais riquezas, acaba ficando para sempre na terceira coluna, que já quebrada pois esta havia sido consumida pelas brasas da lava; segura-a. E lá ele vive até hoje protegendo e prevenindo a ilha de se submergir, e se há um terremoto ou algum vulcão entrando em erupção, é somente Cola mexendo-se para coçar seu nariz, ou alongando-se, hoje se assemelha mais a um peixe com escamas e guelras como sua mãe profetizara.

Esta é a Sicília na Itália, de onde vem também Don Corleone, o Grande Chefão do filme Godfather (1972) de Francis Ford Coppola, a região das máfias, do Grande Don que protege seu povo, populista e violento em seu aspecto negativo, mas protetor em seu caráter. Um local que mostra bem a mistura de duas culturas presentes na ilha; a Grega e a Italiana. A terra das primeiras bruxas, nonnas pré-históricas, bruxas da caverna como Lilith a Primeira mulher, parte humana e parte animal. Como as sereias, as nereidas e as naiades; parte peixe parte humana, que vêm da mitologia grega representar a força feminina, a força das ondas do mar. O farol que guia os barcos para saírem da escuridão do Oceano.

Eu vejo a luz –  I SEE THE LIGHT.

E dessa fusão cultural, a magia exala pelos poros nesta parte do planeta.

As culturas só fazem sentido quando juntas e misturadas:

A stregoneria italiana que é a magia primitiva citada anteriormente, é o conhecimento das antigas bruxas (Stregas). Conhecimento de receitas, de infusões, figas, mixturinhas finas que criam vida, que criam magia, que criam o equílibrio entre bem e mau, entre criação e destruição. As mulheres bruxas, Medusa e Atenas; Diana a Deusa da Caça e Dianus Luciferum, o deus das florestas muito associado a Pan, com cabeça e patas de bode; muito relacionado as caças as bruxas, de mulheres que se encontravam com o deus das florestas. Homem e e Mulher que em seu cerne evolutivo se misturam e procriam, dois opostos atrativos, o bem e o mau que equilibram o planeta.

Adendo ao mantra Makaraal Shivaya Namaha, para que as coisas cheguem, para que as coisas fluam pelo caminho certo; nesta minha viagem minha mala desapareceu e o mantra me ajudou a ter a paz no coração uma paz em meio ao caos, na ansia de recuperá-la e de certa forma aceitar sua perda. Não apareceu mas o amor dentro de meu coração floresceu mais forte do que nunca.

Chego nas Naiades, as ninfas de água doce, diferentes das Sereias ou Nereidas que são da água salgada.

As Naiades se subdividem em diversas categorias:

Crineias: Naiades das fontes

Limneidas: Naiades dos lagos

Pegeias: Naiades das nascentes

Potamides: Naiades dos rios

Eleionomaes: Naiades dos Pântanos

E nós esperamos 40 semanas para o resultado da fertilidade do trigo e do canto das sereias

Sobre esperar minha bebezinha…

O meu amor sai de trem por aí
E vai vagando devagar para ver quem chegou
O meu amor corre devagar, anda no seu tempo
Que passa de vez em vento
Como uma história que inventa o seu fim
Quero inventar um você para mim
Vai ser melhor quando te conhecer

Olho no olho
E flor no jardim
Flor, amor
Vento devagar
Vem, vai, vem mais

E das Naiades vem o nome de minha filha: Naia e segue seus vários significados

Na realidade, este belíssimo nome veio por parte da minha amada esposa pesquisadora, paleontóloga, arqueóloga e psicóloga GF, ela descobriu a seguinte matéria: Em 15 de maio de 2014; a mais recente descoberta de um esqueleto humano com mais de 12 mil anos, no México em uma gruta submersa, uma cova subaquática; na península de Yucatán. Que compartilha de características dos indígenas americanos (atuais grupos indígenas da América). Contrariando a teoria do crânio de Lucy, Luzia, que assemelhava-se a crânios similares aos crânios de melanésios (aborígenes) e africanos mais antigos. De modo geral, esta nova descoberta refutaria a teoria de que houve ondas migratórias de mais de um mesmo grupo biológico da Ásia para a América, sendo que apenas um mesmo grupo biológico teria povoado o continente vindos pela Beríngia (região entre o estado do Alaska, nos EUA, e a Sibéria, na Rússia). Apelidada de Naia em homenagem as Naiades gregas, pois eram ninfas de água doce.

17 de janeiro tb é Jorge Mautner dia do peso-pesado

Atrás do arranha-céu tem
o céu, tem o céu
E depois tem outro céu sem
estrelas
Em cima do guarda-chuva tem
a chuva, tem a chuva
Que tem gotas tão lindas que
até dá vontade de
Comê-las

No meio da couve-flor tem
a flor, tem a flor
Que além de ser uma flor tem
sabor
Dentro do porta-luvas tem a luva,
tem a luva
Que alguém de unhas negras
e tão afiadas
Esqueceu de por
No fundo do pára-raio tem
o raio, tem o raio
Que caiu da nuvem negra do
temporal
Todo quadro-negro é todo
negro é todo negro
Eu escrevo seu nome nele só
pra demonstrar
O meu apego
O bico do beijar flor, beija-flor,
beijar flor
E toda fauna flora gata de amor
Quem segura o porta estandarte
tem a arte, tem a arte
E aqui passa com raça
eletrônico o maracatu
atômico

Minha filha Naia nasceu! Meus amores Gabi e Naia! 17 janeiro jim carrey, andy kauffman, al capone, james earl jones (darth vader), muhamad ali, françoise hardy, shabba ranks, susanna hoffs do The Bangles, eartha kitt (mulher gato negra do bats-60s)

obrigado Mayor Adam West (RIP)

“Quem não quer ouvir sapos não frequenta a lagoa, monge budista incendeia em cima da canoa” PRFSSOR RGIZ

Tnx not dead obrigadx a todx tudo junto misturado saiu essa nossa mixturinha fina café preto o céu terramar dentro d’água alga como ferro fogo sangue vinho carne soul e espirítos orixás amigxs que me pretegem sem pensar nem pensar enquanto quem pensa que pensa pensa sem nem pensar o prato mais caro do banquete é o que se come cabeça de gente que pensa que pensa sen pensar antropofagicamente um canibal

pai oxalá vai me ajudar

booyakasha

A sequência disto já é fora das águas, é adaptação a terra. O bebe que sai a procura de uma luz em sua embarcação uterina, acostumado a viver dentro das águas, ser aquático que se escolhe viver na superfície por amor. E mãe terra parindo a água, parindo Naia. Respeito ao parto e respeito ao corpo das mulheres.

Finalizando e correlacionando aos assuntos abordados, posto esta imagem retirada de uma pintura de uma artista que se chama Juliaro do blog:

http://palomailustrada.blogspot.com.br/2011/08/pachama-pariendo-sirenas.html

Que aqui coloco para respeitar os direitos autorais da artista.

Explica justamente o processo, o meu e de muitas outras pessoas, meu e de minha esposa até a chegada do nosso bebezinho feito de amor. A Pachamama, a mãe terra parindo a água, as sirenas que representam a água de lá saindo e adentrando nosso mundo, como parte essencial da vida.

da Água.

da Terra.

somos nós.

Somos todos um.